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Crítica | “Perry Rhodan Pax Terra” – Christopher Franke

por Leonardo Campos
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Uma jornada épica. Creio ser essa é a melhor definição para a condução musical deste álbum experimental intitulado Perry Rhodan Pax Terra, concebido por Christopher Franke, um admirador assumido do ponto de partida literário alemão em seu aniversário recente de 60 anos (8 de setembro de 2021). Lançado em 1996, o álbum de apenas 07 faixas traz para o ouvinte a atmosfera sonora comum aos filmes de ficção científica, em especial, as sagas com descobertas e explorações espaciais. Mais imersivo para quem domina o universo literário em questão, o álbum tem a vantagem de ser uma produção também acessível e atraente para os iniciantes, ainda em contextualização com Perry Rhodan e suas aventuras de investigação e descobertas. Funciona também dissociado, como música para qualquer ouvinte interessado em sintetizadores em consonância com instrumentação tradicional, haja vista o seu tom melancólico, épico, heroico e triunfante, composto pelo ex-membro do grupo germânico Tangerine Dream, um talentoso nome da música eletrônica.

Antes de começar a análise panorâmica do álbum, um breve contexto para o leitor: Perry Rhodan é o título de uma série de publicações iniciadas em 1961, semanalmente a demonstrar o personagem em aventuras exploratórias que a cada época refletem temas contemporâneos em meio aos conflitos enfrentados pelas figuras ficcionais que pavimentam o caminho deste universo. Ressonante na ficção científica desde a sua época de lançamento, o projeto pensado para uma trilogia se ramificou e hoje possui um numeroso catálogo de publicações. O argumento básico é a travessia do major Perry Rhodan, um homem que encontra, numa viagem para a Lua, uma nave espacial extraterrestre acidentada. Ele se apropria da tecnologia encontrada neste veículo, tendo em vista a unificação da humanidade com foco na conquista da galáxia e do cosmo, ânsia que o faz viver aventuras emocionantes, repletas de alegorias políticas e sociais.

A primeira faixa, Bridge to Eternity, é triunfante e estabelece o tom que será adotado ao longo da emocionante jornada musical, tendo vocais e presença firme de guitarras próximo ao seu desfecho, tom épico que se desdobra em The Wonders of Estartu, também bem arranjada e intensa. No desenvolvimento de Atlan, The Solitary Spirit of Time, uma das faixas mais curtas do conjunto, temos a sensação de passear por diversos clássicos da temática, percebidos entre um ponto e outro da composição que abre as portas para a excelente e mais extensa The Third Question, momento apoteótico do álbum, faixa de quase 12 minutos que se inicia instrumental e avança com vocais e guitarras intensas, tal como a abertura, mas com maior carga emocional. Creio ser essa a música definidora do tom de Perry Rhodan Pax Terra, aquela música ideal para divulgação da proposta de Christopher Franke ao experimentar musicalmente este universo literário tão cultuado.

O tom adotado em Mountain of Creation me remeteu ao trabalho de Vangelis em 1492: A Conquista do Paraíso, em especial, pela perspectiva de marcha, como se pudéssemos vislumbrar a caminhada do personagem em direção ao objeto almejado, uma espécie de jornada heroica transformada em composição musical.  A atmosfera fica mais tensa próximo ao meio, caminhando para um final frenético, beirando ao perturbador, tonalidade que retorna para a tranquilidade antes de seu encerramento. Na sexta faixa, Frost Ruby, também extensa, temos a música mais amena do conjunto, sem grandes variações em comparação ao todo. Em sua última composição, Bridge to Eternity, Christopher Franke traz o vocal como elemento dominante, fechando o material da mesma maneira emocionante que abriu.

Produzido como homenagem aos 35 anos de lançamento da série, Perry Rhodan Pax Terra é quase todo instrumental, com alguns vocais localizados em pontos muito avançados de duas faixas. Imersivo, tal como mencionado na abertura desta reflexão, o álbum é muito eficiente em sua proposta de traduzir musicalmente os elementos que compõem o universo de exploração e descobertas da trajetória longeva deste personagem. Produzido e acompanhado pela Orquestra Sinfônica de Cinema de Berlim, a jornada de 57 minutos e 15 segundos experimenta bateria e guitarra, mas tem nos sintetizadores o principal elemento de manipulação sonora, definidora dos ciclos temporais, flashbacks e universos paralelos que definem o mundo de Perry Rhodan. Uma pequena obra-prima da música, exemplo bem-sucedido de tradução intersemiótica.

Perry Rhodan Pax Terra
Compositor: Christopher Franke
Gravadora: Sonic Images
Ano: 1996
Estilo: rock psicodélico, música instrumental

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