Home Diversos Crítica | Perry Rhodan – Livro 8: Base em Vênus, de Kurt Mahr

Crítica | Perry Rhodan – Livro 8: Base em Vênus, de Kurt Mahr

por Luiz Santiago
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Grande Ciclo: Via Láctea — Ciclo 1: A Terceira Potência — Episódio: 8/49
Principais personagens: Perry Rhodan, Reginald Bell, Tako Kakuta, Dr. Manoli, Crest, Thora, O Comandante, Anne Sloane
Espaço: Terceira Potência (Deserto de Gobi), Lua e Vênus
Tempo: Maio de 1972

Depois de uma breve visita ao planeta-título dessa aventura, relatada em Invasão Espacial, chegou a vez de Perry Rhodan e sua equipe realmente aterrissarem em Vênus e explorarem uma parte do planeta, procurando um lugar ideal para que a Terceira Potência conseguisse estabelecer uma base fora da Terra. De imediato, questões ligadas à invasão dos Deformadores Individuais, no livro anterior, fazem parte do combo de complicações levantadas pelo líder do país no Gobi, e é com uma equipe formada por Bell, Tako, Dr. Manoli, Crest, Thora e Anne que ele parte para uma viagem de exploração a bordo da Good Hope, enquanto o comando do Exército de Mutantes fica com Ras Tshubai, acompanhado de perto por Betty Toufry.

Duas coisas aqui podem parecer muito estranhas para leitores mais desatentos ou que demoraram muito tempo de um livro para o outro. A primeira é a parada que a nave de Rhodan faz na Lua, resultando em seu encontro com a Greyhound, nave americana da mesma classe que a Stardust, enviada ao satélite para ver se descobria algo entre os destroços do cargueiro arcônida que fosse valioso para os Estados Unidos. A resolução da traição acontece de forma rápida e bem menos dramática do que eu imaginava, terminando com a incorporação dos três tripulantes restantes da Greyhound (Freyet, Deringhouse e Nyssen) à Terceira Potência.

Já a segunda coisa que pode parecer estranha a alguns leitores é o fato de Vênus ter uma surpresa praticamente embrulhada para Rhodan, esperando que ele chegasse para tomar posse. Há sim um fator incômodo de extrema conveniência aqui, mas não é aquela conveniência estúpida, descaracterizadora. Em livros anteriores, Crest já tinha comentado — e mais de uma vez! — sobre a possível passagem de naves arcônidas colonizadoras pelo nosso Sistema Solar, de modo que ver ali o que restou da passagem do povo de Árcon pela região é algo que ensaia um fechamento de ciclo de alusões. E ainda traz uma surpresa interessantíssima, falando da empreitada trágica desses colonos na Terra, claramente confirmando a existência da Atlântida como sendo o continente colonizado pelos arcônidas.

O desenvolvimento do programa de viagens espaciais dos terráqueos, até a construção da primeira nave lunar, consumiu tanto dinheiro que toda a humanidade poderia viver despreocupadamente na maior abundância. Alguém se preocupou com isso? Não. Na Ásia, na África e nos países latinoamericanos milhões de pessoas continuaram a morrer de fome, ou de doenças que poderia ter sido curadas se houvesse o dinheiro necessário para a compra de remédios. Em vez disso preferiu-se construir uma nave lunar. Não sei até que ponto esse tipo de desenvolvimento pode ser compatibilizado com a moral.

Entendidas essas questões, é impossível falar desse livro sem antes chamar a atenção para o tratamento dado por Kurt Mahr ao planeta Vênus, exatamente como se pensava naquele início de anos 60. É mesmo muito curioso pensar em como as descobertas científicas mudam as coisas em tão pouco tempo, e como essa possível descrição do autor para o nosso vizinho se parece com uma poção de coisas que temos ou tivemos por aqui também, só que mais estranhas, nojentas ou gigantes. E aqui chegamos ao ponto que realmente me incomodou no livro, por incrível que pareça: a jornada de exploração.

Gosto muito (muito mesmo!) de narrativas com foco geográfico, de exploração ou desbravamento territorial, seja de modo claramente mergulhado no território, como no caso do russo Dersu Uzala, seja em narrativas que usam da exploração do terreno (dentre outras coisas) como um dos grandes atrativos da obra, como no caso do americano O Chamado Selvagem. Aqui, porém, a exploração não me atraiu em quase nada. Por um momento, me pareceu que o autor procurou um encadeamento à la Edgar Rice Burroughs, mas o núcleo sci-fi impediu que ele completasse esse tipo de abordagem. Sequências como o “sequestro” de Anne pelo minhocão venusiano foi para mim uma das piores sequências do livro, sem contar que Anne tem o pior tratamento de personagem aqui, salvando-se os raros momentos onde tem alguma coisa útil para fazer, além de gritar, desmaiar e se sentir cansada.

A parte final da obra, todavia, salva a lavoura para a linha acima do medíocre. O contato de Rhodan e equipe com O Comandante e a história por trás de seu estabelecimento em Vênus (já falei da questão da “conveniência” no começo do texto, então não vou explorar mais esse assunto aqui) possuem o gostinho interessante da saga e certamente promete boas interações no futuro. Agora com uma base muitíssimo bem equipada no planeta vizinho à Terra, mais o conhecimento sobre uma antiga língua desse canto do Universo (o intercosmo) e a possibilidade de avançar com a construção de naves e todo um aparato para maior exploração espacial, a Terceira Potência certamente poderá dar saltos maiores, buscando alcançar o seu alvo de união entre os humanos e de colonização do Universo pela nossa espécie.

O mistério milenar de Vênus foi decifrado e Perry Rhodan obteve uma base que será da maior importância para o progresso da Terceira Potência. Mas ele não descansará. Um pedido de socorro vindo da Terra exige o seu retorno imediato.

Perry Rhodan – Livro 8: Base em Vênus (Die Venusbasis) — Alemanha, 27 de outubro de 1961
Autor: Kurt Mahr
Arte da capa original: Johnny Bruck
Tradução: Richard Paul Neto (Ediouro) e Rodrigo de Lélis (SSPG)
Editora no Brasil: Ediouro (1976) e SSPG (20/07/2022)
110 páginas

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