Grande Ciclo: Via Láctea — Ciclo 1: A Terceira Potência — Episódio: 34/49
Principais personagens: Perry Rhodan, Reginald Bell, Levtan, John Marshall, Tako Kakuta, Kitai Ishibashi, Tama Yokida, Etztak, Goszul
Espaço: Terra, planeta Goszuls
Tempo: Dezembro de 1982
Primeiro livro de Kurt Brand na série, Levtan, o Traidor parte de uma premissa insatisfatória, mas que traz bons frutos no ato final. O 34º volume inicialmente nos situa (de maneira um tantinho mal explicada e repentina) do fato que Perry tentou retornar a Peregrino para pedir outra mãozinha de AQUILO na luta contra os Saltadores, mas o Imortal deixa bem claro para Rhodan que a festa do deus ex machina acabou, e que ele deve se virar sozinho contra os mercadores galácticos que ameaçam a Terra.
Apesar de achar a circunstância estranhamente cômica, a necessidade de novo auxílio de AQUILO tira um pouco do peso da viagem e recompensa bélica de Voo Para o Infinito pensando de maneira imediata na batalha (os desdobramentos de Bárcon ainda atiçam minha curiosidade), pois Perry novamente necessita de recursos – me pergunto onde fica o poderoso mutante Ivan Ivanovitch durante essas situações de desespero bélico. Mas em contraponto, a recusa de AQUILO dita um tom de urgência à narrativa. Me lembrando o arco em Vênus, no qual Perry precisa rebolar com o que dispõe em seu poder para criar uma reviravolta de pequena probabilidade, o volume parte de uma linha narrativa de superação e soluções extraordinárias. Vemos o resultado positivo desse lado, digamos, “humano de ser”, no segundo ato de ação/espionagem que já abordarei.
No entanto, se o momento de execução do plano improvável é extremamente divertido, o caminho até ele parte de um pressuposto que achei narrativamente incompetente. Dado o contexto do que aconteceu entre Perry e AQUILO, Brand engrena sua trama com o aparecimento do personagem que dá nome ao livro, Levtan, um Saltador considerado traidor no meio do seu povo que decide aproveitar do conflito para conseguir lucro e possivelmente o retorno para seu planeta. Até acho o encontro entre o pária e Rhodan bem construído, com uma parcela de mistério e humor, mas como sua inserção parte de uma “obra do destino”, um artifício jogado na história para resolver o problema de Rhodan, a facilidade da origem manteve um certo incômodo no restante dos eventos durante minha leitura. Além de que Levtan é um personagem bastante superficial e que provavelmente encerra seu passeio já neste volume.
Termina sendo um empecilho com o “artifício Levtan”, especialmente pelo fato dele inicialmente ganhar os holofotes e não ser desenvolvido para além de uma suspensão de descrença (sempre necessária) que beira um problema de credibilidade e razoabilidade no encadeamento da história – se era pra ser uma resolução difícil para o Rhodan, como a circunstância com AQUILO alude, que fosse difícil então, oras. Todavia, como eu já havia pontuado no início da crítica, Brand é inteligente em utilizar a premissa suspeita para criar uma ótima história de ação com um grupo de personagens inesperados.
Com o idiota Levtan caindo dos céus no colo da Terceira Potência, Rhodan manda seus mutantes extraírem informações do mercador, descobrindo que haveria uma conferência dos Saltadores no planeta Goszuls sobre como proceder com os ataques à Terra. Como Perry não pode se dar ao luxo de um conflito direto, ele despacha o grupo mutante formado por John Marshall, Tako Kakuta, Kitai Ishibashi e Tama Yokida junto de Levtan e sua tripulação (controlados através do intrigante poder sugestivo de Ishibashi), para se infiltrarem no meio dos Saltadores e utilizarem Levtan para dar informações falsas sobre o verdadeiro poderio bélico da Terra.
Digno de um filme heist ou uma trama bond/sci-fi, Brand oferece na segunda metade do volume uma leitura frenética, cheia de reviravoltas e com uma ótima aplicação dos poderes dos mutantes – também nos dando uma maior dimensão das suas faculdades, especialmente o “sugestor hipnótico”, Ishibashi. Acredito que Brand estende a sequência além do necessário até o clímax , mas o autor tem um ótimo controle narrativo e boa prosa descritiva durante o ato em conjunto dos mutantes. Mas para além disso, o livro me lembra a ótima abordagem das últimas histórias da série ao entregar o protagonismo para personagens coadjuvantes durante a segunda parte do volume, mantendo Perry sentadinho e acreditando no potencial humano da sua equipe. Levtan, o Traidor começa capengando com a proposta, mas como AQUILO praticamente determinou no início da história, Perry e companhia devem superar a improbabilidade sozinhos. E isso sempre rende ótimos resultados de risco e soluções engenhosas para nosso grupo de terranos.
No momento em que ia ser submetido à lavagem cerebral, Levtan já devia ter chegado à conclusão de que o resultado final da traição e do jogo dúbio nunca é favorável. É bem verdade que para Perry Rhodan o aparecimento de Levtan representou uma dádiva do destino, pois sem isso não teria conseguido introduzir quatro dos seus mutantes na grande conferência dos patriarcas dos saltadores, realizada no planeta de Goszul. E esses quatro mutantes – quatro homens terrenos num mundo estranho – continuam a desempenhar um papel de destaque na nova aventura de Perry Rhodan, relatada no próximo volume da série: O PLANETA DOS DEUSES.
Perry Rhodan – Livro 34: Levtan, o Traidor (Levtan, der Verräter) — Alemanha, 27 de abril de 1962
Autor: Kurt Brand
Arte da capa original: Johnny Bruck
Tradução: Richard Paul Neto
Editora no Brasil: Ediouro (1976)
164 páginas