Home Diversos Crítica | Perry Rhodan – Livro 33: Mundo de Gelo em Chamas, de Clark Darlton

Crítica | Perry Rhodan – Livro 33: Mundo de Gelo em Chamas, de Clark Darlton

por Luiz Santiago
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Grande Ciclo: Via Láctea — Ciclo 1: A Terceira Potência — Episódio: 33/49
Principais personagens: Perry Rhodan, Reginald Bell, Julian Tifflor, Humpry Hifield, Klaus Eberhardt, Mildred Orsons, Felicita Kergonen, RB-013 (Moisés), Topthor, Etztak, Orlgans, Gucky.
Espaço: Sistema de Beta-Albíreo (Planeta Homem de Gelo), Terceira Potência (Terrânea).
Tempo: Agosto de 1982

Acredito que desde A Abóbada Energética a gente não tem uma narrativa tão intensa e tão ligada à ideia de “vida ou morte” amparada por uma espécie de contagem de horas e minutos para um grande desastre acontecer. Na verdade, desde que entramos no arco dos saltadores, em Cilada Cósmica, as histórias receberam uma toada progressivamente mais apocalítica, com grandes acontecimentos destrutivos, seja em Terrânea, seja em diversas outras cidades do mundo — como comprovamos em O Imperador de Nova York; ou seja em outro canto da Via Láctea, como presenciamos aqui em Mundo de Gelo em Chamas. Nesta aventura escrita por Clark Darlton temos uma decisiva batalha entre Perry Rhodan e os saltadores, além do encerramento do arco de Tiff e seus amigos à deriva.

Além da presença dos grandes eventos destrutivos que notamos nos últimos livros, podemos acompanhar também uma exploração cada vez mais elegante da prosa alternada, ou seja, os autores estão cada vez mais contando eventos que se passam paralelamente, às vezes de forma simultânea, às vezes de forma assíncrona. Essa mudança faz com que a passagem entre os blocos e entre os capítulos seja marcada por cliffhangers interessantíssimos, deixando a leitura cada vez mais instigante e experimentando formas diferentes de ação, protagonizada por diferentes personagens. Aqui, por exemplo, vemos Ras Tschubai, que não recebera nenhuma menção já há bastante tempo, simplesmente brotar no meio da narrativa e ter um bom papel no decorrer da história. A forma como o personagem surgiu é ruim, mas o seu uso prático na aventura faz parte dessa boa escolha dos autores que estou destacando.

O desespero que ganha destaque do meio do livro para frente gera aquilo que a obra tem de melhor. Quando Orlgans implanta a bomba que faria o planeta Homem de Gelo tornar-se um novo Sol, começa uma contagem regressiva para que Tiff & Cia. saiam daquele lugar. O problema é que os meios para isso acontecer não estão disponíveis. E é justamente nesse ponto que o autor consegue explorar a grande tensão, levando o sofrimento do grupo até o último minuto. Durante essa espera Gucky finalmente encontra a forma de vida daquele planeta, que ele apelidou de “sonolentos”, e apresenta as tais tulipas de 5 cores e com olhos nas pétalas para o restante do time. É muito triste a ideia de que um mundo inteiro, com vida inteligente, foi destruído pela cólera de um saltador que não sabia perder. Rhodan ainda foi misericordioso demais com ele. Se fosse eu, teria queimado um por um.

Em outro momento da obra também temos a oportunidade de ver Rhodan lutando contra os superpesados e vencendo a batalha. Pela primeira vez, o chefe da Terceira Potência tem diante de si um inimigo verdadeiramente poderoso e que pode conquistar a Terra, transformando-a em uma colônia, em um território subserviente. As relações econômicas, a enorme capacidade ofensiva e a interferência dos saltadores em planetas que ameaçam seus interesses pessoais me parece um óbvio espelho feito pelos autores de PR à política externa dos Estados Unidos e da URSS naquele pleno 1962 de Guerra Fria. Também não podemos nos esquecer que em 7 de fevereiro de 1962, os EUA ampliaram para praticamente todas as exportações o embargo à ilha de Cuba. A política econômica dos saltadores acaba indo para o mesmo caminho, especialmente se pegarmos a ideia de que eles “eram um povo de paz, mas podiam fazer a guerra se isso desse lucro“. Se fosse uma série escrita antes de 1914, o espelho geopolítico poderia ser a Inglaterra ou, dependendo do contexto, a Bélgica. Mas para uma obra de 1962, é impossível não fazer relações com o modus operandi dos Estados Unidos frente à comunidade internacional.

Confesso que achei frustrante o fato de Darlton ter cortado a luta final contra os saltadores. Era algo que a gente estava esperando e seria ótimo ler sobre esse enfrentamento. De um lado, entendo que o autor evitou maiores repetições, porque já tínhamos visto os transmissores individuais (que nome horrível!) na batalha contra os superpesados e não seria nada assim muito diferente agora. Mas convenhamos: existem formas e formas de narrar uma batalha com o mesmo tipo de arma. Seja como for, o encontro em Terrânea e a conversa entre Bell e Gucky, nas últimas páginas, trouxe um pouquinho de comicidade cínica para a história, tentando compensar a decepção da batalha cortada em seu maior momento. Não funcionou de verdade, mas não foi um final ruim.

Mundo de Gelo em Chamas conseguiu mexer com os nossos nervos e nos deixar ansiosos para virar a página e ver o que aconteceria a seguir. A despeito de um furo (o sumiço e aparecimento mágico de Ras no time de Beta-Albíreo) e da escolha do autor para o encerramento, foi uma trama sólida, ágil e cheia de enfrentamentos, que fez jus ao nome de ‘ópera espacial‘ dado à saga de Perry Rhodan. Se é para ter guerra, então que seja em grande estilo, com vários cercos e batalhas no espaço. Por mais histórias assim, com a condição de que a gente tenha a oportunidade de ler sobre as principais batalhas!

O mundo de gelo, onde Julian Tifflor e seus companheiros conseguiram, através de sucessivos golpes de habilidade, escapar aos comandos dos saltadores enviados em sua perseguição, deixou de existir, apenas porque um dos patriarcas dos saltadores, dominado pela cólera, deu ordem de destruí-lo. Mas essa ordem, conhecida como uma sentença de morte que deveria atingir Julian Tifflor e seus companheiros, foi dada num momento em que Perry Rhodan já estava em condições de salvar do incêndio atômico não apenas os membros de seu grupo, mas também alguns dos estranhos habitantes do mundo de gelo, os sonolentos… Qual será a próxima ação que os saltadores empreenderão contra a Terra? Quaos são seus planos? LEVTAN, O TRAIDOR, que conhece os planos dos saltadores, entra em contato com Perry Rhodan. 

Perry Rhodan – Livro 33: Mundo de Gelo em Chamas (Eiswelt in Flammen) — Alemanha, 20 de abril de 1962
Autor: Clark Darlton
Arte da capa original: Johnny Bruck
Tradução: Richard Paul Neto
Editora no Brasil: Ediouro (1976)
174 páginas

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