Home Diversos Crítica | Perry Rhodan – Livro 20: Ameaça a Vênus, de Kurt Mahr

Crítica | Perry Rhodan – Livro 20: Ameaça a Vênus, de Kurt Mahr

por Kevin Rick
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Grande Ciclo: Via Láctea — Ciclo 1: A Terceira Potência — Episódio: 20/49
Principais personagens: Perry Rhodan, Reginald Bell, Oberst Freyt, Tomisenkow, Deringhouse, Tako Kakuta, Crest
Espaço: Vênus
Tempo: 1980

Ameaça a Vênus é, talvez, o mais interessante volume de interlúdio na saga até este momento. Diferente do também ótimo Os Rebeldes de Tuglan, por exemplo, que serve como um desvio de curso ordinário para entregar uma aventura mais autocontida e episódica, o vigésimo livro do Perryverso é uma espécie de intervalo que serve como a calmaria após e antes da tempestade. O volume delineia algumas tramas do arco anterior de busca ao Imortal, além de instituir os novos conflitos de Perry e companhia ao retornarem à Terra, com o planeta Vênus servindo como o intermédio entre as duas narrativas, mas em uma história mais, digamos, básica, com a ação ganhando o fronte da prosa. Aliás, eu diria que o Livro 20 é praticamente uma ponte narrativa, indicando as possíveis ramificações dos eventos anteriores da imortalidade ao mesmo tempo que desencadeia a nova narrativa na Terra, enquanto utiliza-se de uma história mais corriqueira no planeta selvagem.

Mas, bem, falando da história mais detalhadamente, Ameaça a Vênus acompanha nosso grupo principal retornando à Terra após seu encontro com AQUILO. No meio do caminho, Perry entra em contato com o Coronel Freyt, que estava encabeçado de cuidar do governo da Terceira Potência enquanto ele estava à procura da vida eterna, para então ser surpreendido quando Freyt explica que se passaram 4 anos e meio desde sua última conversa com Perry, enquanto na Stardust-III apenas alguns meses decorreram. Logo de cara, Freyt esclarece que a ausência de Perry desencadeou problemas políticos entre os governos da Terra que estavam próximos de uma unificação. Se não bastasse tudo isso, a caminho do planetinha azul, a Stardust-III se depara com o General Tomisenkow, às ordens do emergente Bloco Oriental, tentando tomar a base da Terceira Potência em Vênus com mais de 500 naves espaciais.

Conversando com meu coleguinha Luiz Santiago, o qual normalmente temos uma anormal similaridade de opiniões, encontramo-nos com uma pequena pontinha de decepção na diferença de abordagem do Livro 20. Isto é, deixando, pelo menos por enquanto, o estilo mais espiritual e existencialista do arco anterior para adentrar uma trama mais objetiva de ação e política. Todavia, a despeito do estreito descontentamento, é complicado desgostar de um volume tão divertido e eficiente como Ameaça a Vênus. Como disse no início da crítica, o vigésimo livro é uma inteligente ponte entre a divergência de arcos, e podemos ver isso mais claramente na conservação dos dramas dos arcônidas Crest e Thora, ambos rejeitados por AQUILO, como uma subtrama à espreita.

Entre diálogos de Perry com um desiludido Crest, assim como conversações especulativas com Bell, o texto de Kurt Mahr faz um bom trabalho de manutenção do conflito anterior como algo no ar, mantendo o desfecho do livro anterior vivo, enquanto estabelece sua nova história. Isso é bastante interessante, pois mesmo que não tenhamos um desenvolvimento atual desses problemas, o autor tem cuidado em estabelecer algo inconclusivo, uma espécie de subtrama mesmo, que nos deixam interessados em quais serão os próximos passos dos arcônidas, especialmente Thora.

Além disso, ao utilizar do ótimo salto temporal, Kurt revira o estado sociopolítico da Terceira Potência, nos trazendo o fantástico encadeamento dos primeiros livros da série: problemas governamentais, administrativos e organizacionais na Terra. Confesso que estava com receio da Stardust-III retornar e encontrar tudo em perfeita condição, com a unificação dos governos em monção e a posição da Terceira Potência equilibrada. Ao ver que o autor decidiu jogar todo aquele progresso do Perry no ventilador me deixou extremamente contente. E, para somar ainda mais, utilizar um erro de Rhodan (o protagonista criou bloqueios mentais para Freyt não mexer em questões do Bloco Oriental, por precaução, criando o problema da rebeldia asiática) como o estopim do contratempo, concebe mais uma camada atraente, no sentido de continuar desenvolvendo o protagonista da série como alguém imperfeito; humano.

No mais, Kurt é extremamente competente na exploração global de Vênus, algo que ele teve bastante dificuldade no mediano Base em VênusO autor cria uma interessante jornada de exploração sob diferentes pontos de vista, pois utiliza-se de um conflito entre humanos em um planeta desconhecido, causando uma espécie de batalha tripla com Terceira Potência vs Bloco Oriental vs o meio ambiente hostil venusiano. Aliás, grande parte da narrativa é focada em Tomisenkow e sua equipe contra o território agressivo, na onde temos um divertidíssimo tratamento de desbravamento territorial com sequências de animais violentos, clima desagradável e geografia confusa, sempre em uma prosa descritiva meio militar, ganhando um curioso aspecto de guerrilha ao longo da leitura. Dessa forma, Ameaça em Vênus pode até parecer desanimadora de início por mudar o tom da aventura para algo mais básico, mas Kurt Mahr se mostra um autor extremamente competente em manter subtramas anteriores vivas enquanto desencadeia novos problemas para a Terceira Potência.

A breve permanência em Peregrino, o planeta da imortalidade, custou a Perry Rhodan e sua equipe quase quatro anos e meio de tempo terreno. Por isso era compreensível que as potências da Terra, que já não contavam com seu regresso, iniciassem seu velho jogo. Mas Perry Rhodan estraga a festa. A GUERRA ATÔMICA QUE NÃO HOUVE, é este o título do próximo volume da série Perry Rhodan.

Perry Rhodan – Livro 20: Ameaça a Vênus (Venus in Gefahr) — Alemanha, 19 de janeiro de 1962
Autor: Kurt Mahr
Arte da capa original: Johnny Bruck
Tradução: Richard Paul Neto
Editora no Brasil: Ediouro (1976)
110 páginas

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