- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Com Perry Mason e Della Street vivendo histórias de amor, o primeiro com a professora de seu filho e a segunda com uma rica roteirista de Hollywood, é natural que o lado mais pesadamente psicológico da série, que vinha marcando todos os seus episódios, acabasse alguma hora ficando de lado, mesmo que, para a frente, seja improvável que tenhamos finais felizes. Além disso, considerando que já estamos no quinto episódio de uma temporada de apenas oito, era necessário, alguma hora, abordar mais diretamente os aspectos práticos do cotidiano do julgamento e das investigações que inevitavelmente gravitam ao seu redor.
E o que o roteiro de Niko Gutierrez-Kovner faz é justamente arregaçar as mangas para focar na “desculpa” para a série existir, ou seja, o “julgamento da temporada”, que parece ser a estrutura adotada pelos showrunners Jack Amiel e Michael Begler, transformando cada ano em um livro da série, mesmo que não baseado diretamente em alguma obra de Erle Stanley Gardner. Não só temos um flashback que traz mais contexto aos irmãos Gallardo e sua conexão mesmo que indireta com Brooks McCutcheon em razão da construção do estádio que os levou a perder a moradia e, mais do que isso, sua irmã mais nova, como há um amplo e doloroso espaço para Paul Drake mostrar que, no final das contas, ele está mesmo disposto a fazer de tudo pelas informações.
Mas Drake não é um personagem trabalhado de maneira lateral. Muito ao contrário, seu ex-policial transformado em investigador é um poço de contradições talvez até maior que Perry Mason. Por um lado, ele não admite que Mason simplesmente largue o caso por achar que os Gallardo são culpados – ou culpados em algum grau, pelo menos, e não sozinhos -, por outro, ele mantém uma abordagem essencialmente ética do trabalho que tenta fazer, com as fotografias que tirou do agiota Perkins no primeiro episódio a pedido de Pete Strickland sempre pesando em sua consciência. E é alvissareiro notar como Perkins retorna à série como uma forma agridoce de Drake buscar absolvição por seu pecado, já que ele é obrigado usar seus punhos para arrancar uma confissão do atravessador que contratou os Gallardo por dois mil dólares. Ou seja, como a série já provou diversas vezes – e, vamos combinar, é um ensinamento universal – não há almoço grátis e o preço, aqui, é a sua alma.
Se Drake é obrigado a se sujar para encontrar a verdade, Mason tem uma daquelas epifanias clássicas de filmes e séries de tribunal quando percebe que a impressão digital no volante do carro de Brooks foi plantada ali, provando isso em um show perante o júri. Temos que combinar que, diante do quadro sombrio do caso, era necessário que Mason sentisse o sabor de pelo menos uma vitória, mesmo que ele seja efêmero, como as investigação sobre ele próprio e Della, muito provavelmente patrocinadas pelo promotor-assistente, indicam, com a cereja no bolo sendo a ameaça nada velada ao filho de Mason ao final. Aliás, foram duas vitórias já que ver Hamilton Burger quase implorar por um acordo – como Mason implorou no episódio anterior – foi particularmente delicioso, em uma clara demonstração de que Lydell McCutcheon é capaz de tudo para que a reputação de seu falecido filho mantenha-se intacta.
Mesmo com um episódio que avança a trama central a passos largos, é impressionante quando paramos para pensar no que ainda falta acontecer, nos pequenos detalhes que ainda não ganharam o desenvolvimento que precisam e outros que surgiram somente agora. Entre a campanha de difamação contra os advogados que vai realmente acelerar agora ao que tudo indica, a ameaça ao Mason-filho, a trama ainda paralela relacionada com Gene Holcomb, o passado sujo de Brooks, além de exatamente o que aconteceu com ele na fatídica noite em que foi assassinado, há muito ainda a acontecer, o que promete que a trinca final de episódios será particularmente movimentada, até porque, tenho certeza, os aspectos psicológicos dos personagens muito provavelmente voltarão com força toda.
Perry Mason – 2X05: Chapter Thirteen (EUA, 03 de abril de 2023)
Showrunners: Jack Amiel, Michael Begler (baseado em personagem criado por Erle Stanley Gardner)
Direção: Marialy Rivas
Roteiro: Niko Gutierrez-Kovner
Elenco: Matthew Rhys, Juliet Rylance, Chris Chalk, Shea Whigham, Justin Kirk, Diarra Kilpatrick, Verónica Falcón, Paul Raci, Jee Young Han, Sean Astin, Matt Bush, Gayle Rankin, Eric Lange, Fabrizio Guido, Peter Mendoza, Jen Tullock, Katherine Waterston, Christopher Carrington
Duração: 48 min.
