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Crítica | Peggy Sue – Seu Passado a Espera

Redescobrindo o amor.

por Kevin Rick
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Para bem ou para mal, Francis Ford Coppola nunca teve medo de se aventurar em gêneros diferentes e em tipos de filmes que sua audiência normalmente não esperaria dele. Obviamente que O Poderoso Chefão, Apocalypse Now e Drácula de Bram Stoker são suas produções mais bem lembradas, mas, apesar disso, o cineasta sempre demonstrou um interesse em obras lúdicas ao longo de sua carreira, sendo que Peggy Sue – Seu Passado a Espera é talvez a mais lembrada, ganhando até três indicações ao Oscar, incluindo de melhor atriz para Kathleen Turner.

Turner interpreta Peggy Sue, uma mulher à beira do divórcio com Charlie (Nicolas Cage), que, em uma reunião escolar, se vê transportada de volta aos dias de seu último ano do ensino médio em 1960. A premissa de voltar no tempo já era conhecida à época, popularizada ainda mais por conta de De Volta para o Futuro, mas o artifício foi usado mais e mais vezes ao longo dos anos ao ponto da exaustão, principalmente em comédias juvenis – como a Disney adora esse tipo de mote… -, sendo difícil não olhar para o filme hoje com uma falta de entusiasmo. Ainda assim, tentando não ser injusto, Peggy Sue – Seu Passado a Espera é uma obra simpática, que até propõe alguns tópicos adultos sobre separação, traição e segundas chances em uma típica história de “e se…?” que provavelmente já passou pela cabeça de todo mundo.

Coppola faz um trabalho de direção muito agradável aqui, dando um tom nostálgico e delicado para uma comédia leve, com a produção dispondo de ótimas recriações da época, das vestimentas, dos carros até as diversas referências culturais do período, e uma fotografia aprazível de Jordan Cronenweth – também indicado ao Oscar – que ressalta as qualidades de memória e de fantasia do texto com características que lembram até filmes noir, como na belíssima sequência de uma noite poética sob as estrelas entre Peggy e um novo amante. Algumas sequências musicais também são simpáticas, além de uma participação curta, mas muito divertida do humor físico de Jim Carrey, que na minha visão era muito melhor do que Cage para o papel.

Logo de cara, porém, temos um problema de suspensão de descrença com o elenco mal escalado e que pouco convence como adolescentes ou adultos – Cage, por exemplo, estava com 22, e não parecia nem um jovem de ensino médio, nem um adulto de meia idade. Turner é carismática e tenta impor uma energia juvenil quando volta no tempo, mas também não dá para comprar ela como essa adolescente nos anos 60, até porque a atriz já tinha mais de 30 anos. Pode parecer má vontade da minha parte cobrar algo assim de uma premissa “boba”, mas fica realmente difícil se conectar com a produção considerando essa escalação ruim de atores, por mais esforçados que sejam.

E esse nem é o pior problema com a escalação do elenco, que seria na verdade o trabalho no mínimo questionável de Cage. O ator é simplesmente horroroso nesse filme, com uma abordagem caricata, cheia de histrionismos e uma voz estridente que em nada combinam com o material, com o próprio personagem ou com a protagonista. Por conta disso, não vemos um pingo de química entre Cage e Turner, que parecem pessoas completamente diferentes, com Charlie soando fora de tom no filme inteiro. Isso fica palpável tanto em suas discussões no passado quanto na reconciliação do futuro, em cenas que os atores estão completamente fora de sincronia emocional e não conseguem passar sentimentos românticos. O fato de Cage ser irritante também atrapalha na empatia com o arco de seu personagem, que é apresentado como um adúltero que ganhará uma segunda chance.

Além disso, apesar das qualidades que citei anteriormente, principalmente nos departamentos técnicos, a história de Peggy Sue – Seu Passado a Espera é muito mequetrefe. Passamos por muitas batidas emocionais clichês, reviravoltas sentimentais que não convencem no arco de Peggy e uma narrativa que não tem grandes destaques, seja no drama e em seus tópicos mais adultos que não são aprofundados, sejam nas partes cômicas, em sua maioria pouco inspiradas. O roteiro fica ali numa camada de simpatia esquecível, sabem? De momentos agradáveis de Peggy revisitando seu passado e se comportando como uma mulher adulta no corpo de uma adolescente, mas nada que justifique a participação de um titã como Coppola nesse tipo de obra.

Peggy Sue – Seu Passado a Espera (Peggy Sue Got Married, EUA, 1986)
Direção: Francis Ford Coppola
Roteiro: Jerry Leichtling, Arlene Sarner
Elenco: Kathleen Turner, Nicolas Cage, Barry Miller, Catherine Hicks, Joan Allen, Kevin J. O’Connor, Jim Carrey, Lisa Jane Persky, Lucinda Jenney, Wil Shriner, Barbara Harris, Don Murray, Sofia Coppola, Maureen O’Sullivan, Leon Ames, Helen Hunt, Glenn Withrow, John Carradine
Duração: 103 min

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