SPOILERS!
Nada que me dissessem sobre o possível final de Patrulha do Destino poderia me preparar para as porradas que tomei assistindo a este derradeiro episódio do show. Escrito como uma real despedida, Done Patrol faz o possível para entregar aos fãs da série um ponto final digno, a despeito dos tropeços que esta temporada apresentou. Como o enredo ligado à figura vilanesca estava saturado e não tinha mais para onde ir, foi escolhido um encaminhamento que resolvesse o mais rápido possível a situação com Immortus, e que todo o restante da trama estivesse focada na vida da Patrulha após esses acontecimentos de resolução. No meio disso tudo, para variar, vieram também algumas surpresas, algumas adequações de situações que já estavam exibidas na série e uma sequência final que simplesmente me deixou aos prantos.
Não digo que gostei particularmente da trama de Immortus, nem como desenvolvimento e nem como finalização. Vocês me viram reclamar diversas vezes dessa figura, especialmente na figuração dela no plano material, encarnada em Isabel Feathers, que só em alguns episódios ou cenas específicas trouxe algo verdadeiramente interessante no papel. Aqui, a personagem recebeu um tratamento que podemos classificar como estando no meio entre o exagero e o interessante. Não foi ruim, mas talvez por estar num contexto com tanta coisa importante e mais chamativa, acabou não tendo impacto. E falo isso também para toda a questão com o vilão, encerrada de forma rápida, num Deus Ex Machina maluco, mas confesso, charmoso… bem no estilo que poderíamos imaginar vindo da série.
Passado esse momento — e a posterior retomada da juventude da trupe — veio o primeiro baque: a morte de Rita. E aqui, penso eu, foi o primeiro grande choque conceitual de Done Patrol, porque não creio que muitos esperavam que a série fosse se encaminhar para um desmembramento real do time, para um andamento individual nada heroico das figuras centrais e para a morte, não de um, mas de dois protagonistas. É muita coisa para lidar, e tudo isso vindo no encerramento de uma série deixa um rastro de nostalgia, saudade e tristeza muito fortes. A partir deste ponto foi que eu passei a ver a grandeza de Done Patrol e a maneira inteligente e humana com que os escritores e produtores resolveram dar continuidade à saga, assumido que eles estavam num ciclo vicioso de gerar problemas para resolvê-los em seguida, e que era hora de tomar o caminho pessoal de suas vidas, escolher o próprio rumo, e ser feliz com o que quisessem ser.
O elenco está atuando com solenidade, mas muito mais concentrado em entregar performances realistas e intimistas, do que emocionar pura e simplesmente. O trabalho da direção é certeiro nesse aspecto, já que reserva o melhor para o final e escolhe uma aplaudível evolução da trama, sem exageros melodramáticos, mas com o tipo de tempero emotivo que faz sentido para um episódio de encerramento e que gera excelentes frutos quando alcança o seu clímax. Pensando nisso, todos os destinos escolhidos para os personagens me agradaram, e embora eu acredite que Madame Rouge merecia muito mais, entendo que, neste ponto da vida da personagem, aquele era realmente o caminho a ser seguido. Entretanto, não há nada, aqui, que supere a despedida de Cliff.
Vocês sabem o quanto eu gosto de enredos que mostram o legado de algum personagem, de algum grupo ou situação histórica, especialmente quando se trata de questões familiares ou lutas pessoais. A vida de Rory, que Cliff não veria acontecer e que passa bem diante de seus olhos, em seus últimos momentos de vida, me destruiu por completo. Eu não imaginava que naquele ponto do episódio viria algo tão forte, tão importante e tão bonito, e que, para minha maior surpresa, veríamos a partida de mais um protagonista. Foi um soco atrás do outro e eu só tenho a agradecer aos escritores e ao diretor Chris Manley por entregarem algo tão belo e marcante na última cena da série.
Doom Patrol se despede com lágrimas de alegria, alguns tropeços na resolução dos problemas com os vilões e muito respeito ao seu próprio legado. A série se marcou como uma brincadeira deliciosamente nonsense e cheia de ironia para com o próprio gênero, e exceto nesta 4ª Temporada, esteve, de alguma forma, com isso no centro das atenções. É uma série que vai deixar saudades por toda a irreverência com a qual explorou as aventuras do grupo central, e pela forma humana e sentimental com que tratou cada um de seus protagonistas no momento da despedida. Foi muito bom enquanto durou. Agora ficamos órfãos. Adeus, Doom Patrol.
Patrulha do Destino – 4X12: Done Patrol (Doom Patrol) — EUA, 9 de novembro de 2023
Direção: Chris Manley
Roteiro: Ezra Claytan Daniels, Shoshana Sachi
Elenco: Diane Guerrero, April Bowlby, Joivan Wade, Skye Roberts, Riley Shanahan, Matthew Zuk, Matt Bomer, Brendan Fraser, Michelle Gomez, Shayna Benardo, Chase Brown, Charity Cervantes, Van Clark, Jonah Cloer, Amanda Dunn, Sasha Hatfield, Helene Henry, Bethany Anne Lind, Micah Joe Parker, Sendhil Ramamurthy, Elijah R. Reed, Walnette Marie Santiago, Dylan Saunders, Jimmy Smagula, Madeline Zima
Duração: 45 min.