- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
O Luiz Santiago foi levado pela Irmandade do Dadá e me encarregou de escrever as críticas de Patrulha do Destino, função essa que, logicamente, não pretendo devolver a ele nunca mais. Seja como for, como eu estava atrasado com a série, acabei me enrolando para escrever a crítica do episódio 4X04 na semana correta, o que faço agora, nesta postagem dupla com o episódio 4X05. Boa leitura!
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Casey Patrol
4X04
Como nunca escrevi sobre Patrulha do Destino, os leitores não têm como saber, mas eu tenho um fraco por qualquer episódio com Danny, A Rua. Esse personagem quase conceitual das HQs materializado no audiovisual é absolutamente fascinante para mim, seja pela forma como ele se comunica com os demais, seja por sua função primordial de ser uma espécie de porto seguro para todos aqueles que, de uma forma ou de outra ou por qualquer razão que seja, não se encaixa no padrão tradicional imposto pela sociedade. Mas Casey Patrol não é um ótimo episódio apenas porque eu me derreto por Danny, mas sim porque ele consegue ser um daqueles clássicos desvios narrativos de séries de TV que pode até parecer um filler, mas que, nesse caso, está longe disso, ganhando inclusive conexão direta com a promessa da chegada de Immortus.
E, claro, era importante que a série não se esquecesse de Dorothy, personagem focal do episódio que, agora, vive em Danny juntamente com todos os “desajustados” que a rua – agora uma espécie de acampamento de trailers – alberga com sua aparentemente infinita bondade e gentileza. Naturalmente, a menina-fera mantida como tal por seu pai Niles Caulder sente-se presa nesse mundinho, tendo como única fuga a leitura de quadrinhos, especialmente da super-heroína Casey Brinke, mais conhecida como Space Case, que luta contra seu pai, o vilanesco Torminox. E, quando justamente o vilão dos quadrinhos ganha vida e ataca o acampamento com insetos cibernéticos, eis que Dorothy faz o que nunca havia feito antes: materializa um “amigo imaginário” não criado por ela.
Casey, vivida por Madeline Zima (quem se lembra dela, ainda criança, em The Nanny?), é a versão DC Comics da Capitã Marvel em uma homenagem/sátira/retorno de propriedade, com Torminox (Tyler Mane), todo roxo, queixudo e com o hábito de transformar todo mundo em “cubos”, sendo, claro, um Thanos genérico, uma super-heroína nos moldes de heróis da Era de Ouro ou outros clássicos como Flash Gordon que, diria, se encaixa como uma luva na série assim como se encaixou nas HQs desde que surgiu em 2016. O embate que segue daí, que conta inclusive com uma aparição de Candelabro vindo ao resgate de Dorothy depois de muito tempo distante de sua criadora, é um embate repleto de significados para a própria menina que perdeu o pai já que Torminox é uma versão de Niles na medida em que ele também passou grande parte de sua vida distante da filha e para a própria dinâmica de Casey com ele.
Ajuda muito, claro, a presença sempre brilhante (literalmente) e sensata de Maura Lee Karupt, que se tornou mãe e pai de Dorothy e que, diferente de Niles, deseja que a menina tenha suas próprias aventuras fora da onipresença protetora de Danny ao seu redor, o que acaba resultando no retorno da personagem ao seio da Patrulha do Destino, aparentemente com Casey – espero! – a tiracolo. E, como disse, no lugar de fazer um episódio solto na linha de “enquanto isso, na vida de Dorothy”, o roteiro consegue amarrar tudo à história principal da temporada e aos preparativos para a ascensão de Immortus, já que a missão de Torminox era justamente obter o colar que Niles dera para a filha, colar esse que estende a vida de quem o usa. Fica só a torcida para que Danny volte a dar as “caras” em breve.
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Youth Patrol
4X05
Retornando à programação “normal” com todas as aspas que essa palavra precisa ter para ser usada no contexto de Patrulha do Destino, Youth Patrol é um belo exemplo de como a série sempre soube trabalhar seu relativamente econômico orçamento, ao criar as saídas mais criativas para situações que, em mãos mais abastadas e gastadoras, ganharia um desnecessário banho de CGI ou troca de elenco. Afinal, para que rejuvenescer o elenco com qualquer coisa mais complicada do que enfiar um aparelho nos dentes de Vic, vestir Cliff de caubói, encaracolar e colocar um laço nos cabelos e um óculos no rosto de Rita, trocar o figurino de Jane na base do seis por meia dúzia, não fazer nada com Laura porque ela “tapou a respiração” e, no caso do “intruso” da temporada, o rabugento mago Willoughby Kipling, vesti-lo de cidadão da Europa Medieval na base do porque sim e simplesmente dizer, com veemência que eles, agora, são jovens adultos ou velhos adolescentes?
É para ver essas tiradas brilhantes que eu assisto Patrulha do Destino, sendo muito sincero. E como não abrir um sorrisão quando a equipe toda – menos Larry que tem seus próprios problemas lá com Keeg e Mister 104 – vai para uma rave na piscina de uma escola com outros tantos jovens e se tornam o centro das atenções, com direito até mesmo a um momento terno e esclarecedor entre Vic e Jane (depois que Jane, no começo, passa por um constrangedoramente hilário momento de flagra masturbatório) e, no final, a transformação de quase todos em crianças (aí sim com a troca de elenco, ainda que eu preferisse que os atores tivessem sido mantidos…) e um deles em um bebê (sim, também queria que a atriz fosse mantida, só que com fraldas)? A sequência toda pode ser até classificada como outro enorme “desvio” narrativo para atrasar a história do retorno de Immortus, mas tenho para mim que Patrulha do Destino, só para usar a frase mais clichê do mundo, é sobre a jornada e não sobre a chegada.
Afinal, o que dizer do coelho líder da seita mágica de Willoughby cobrando seu preço para reverter a maldição em Jane (aliás, vamos lá: não é impossível deixar de lembrar do Coelho Assassino de Caerbannog?) ou Vic, criança, abraçando seu grande amigo que o rejeitara não muito tempo antes ou o ataque tipicamente de criança que Cliff dá quando é contrariado ou a aproximação da criança Rita da criança Laura? Em meio à toda a loucura e intensa originalidade com que o episódio conta, é impressionante ver como a narrativa macro vai ganhando seus encaixes sempre de maneiras improváveis.
Não sei se gosto muito da linha narrativa de Larry, Keeg e Mister 104. Aliás, deixe-me refrasear para ser mais específico: não gosto muito dessa linha narrativa aqui, dentro de Youth Patrol. Trata-se de uma história muito diferente da principal para que os cortes que levam o espectador para ela não pareçam gigantescas quebras de ritmo que, por sorte, não detraem muito da narrativa principal, mas prejudicam sobremaneira a jornada do Homem Negativo e sua busca – ajudada por Keeg – por um possível novo amor. Por outro lado, não saberia dizer o melhor momento para essa abordagem, pois, mesmo que seja uma história derivada de Nostalgia Patrol, ela talvez merecesse mais foco de forma a não ficar perdida entre os eventos inegavelmente mais atraentes sobre seus colegas cada vez mais novos sem parecer mais novos.
Patrulha do Destino – 4X04 e 05: Casey Patrol e Youth Patrol (EUA, 22 e 29 de dezembro de 2022)
Desenvolvimento: Jeremy Carver
Direção: Kristin Windell (4X04), Christopher Manley (4X05)
Roteiro: Tom Farrell (4X04), Shoshana Sachi (1X02)
Elenco: Diane Guerrero, April Bowlby, Matt Bomer, Matthew Zuk, Brendan Fraser, Riley Shanahan, Joivan Wade, Michelle Gomez, Abi Monterey, Madeline Zima, Sendhil Ramamurthy, Lex Lang, Mark Sheppard, Alan Mingo Jr., Tyler Mane
Duração: 40 min. (4X04), 54 min (4X05)