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Crítica | Party (1996)

por Bruno dos Reis Lisboa Pires
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Como já dito exaustivamente ao falar-se do cinema de Manoel de Oliveira, os anos 90 foram uma década muito especial e prolífica na carreira do diretor. Party tem pouco destaque entre os outros filmes de Manoel desta época, ainda mais se considerarmos que foi lançado entre os belíssimos O Convento e Viagem ao Princípio do Mundo. Mas isso faz o filme ser “menor” que o resto? Talvez em escala, se trata puramente de quatro atores contracenando num espaço reduzido, mas não é esta claustrofobia que fizera Benilde ou A Virgem Mãe uma obra-prima? É claro que o cineasta passou por antologias como Amor de Perdição e Non ou A Vã Glória de Mandar, obras que narram histórias épicas dignas de um cinema de Hollywood, mas também em seus trabalhos “menores” é capaz de exercer um estudo do tempo a partir da mise-en-scène daqueles espaços e corpos.

Dito isto, é preciso ver Party com mais calma que o habitual.  Assim como os personagens em cena, é um filme “de férias”, aparentemente descompromissado, cujos tópicos abordados são sempre descontinuados como quem procura aliviar as tensões sempre em voga. Deixar questionamentos suspensos por vezes causa maior desconforto que a tentativa de concluí-los, tanto que há um intervalo de cinco anos na metade do filme que dará forças à tudo aquilo que foi deixado velado. Há dois casais e notavelmente o interesse extraconjugal, relação que é interditada durante os anos que separam a história no meio (sempre esse amor de perdição…).

Esta relação entre Michel e Leonor será o condutor do filme, que tirando algumas justificativas de trama, não é nada muito além do simples ato de contemplar uma musa de cinema. Michel, casado com uma atriz grega, se interessa por Leonor, interpretada por Leonor Silveira, musa de Manoel de Oliveira que encenou uma dezena de seus filmes. Se há alguma disputa no filme, é muito mais sobre os olhares de Michel competindo com a câmera para entorpecer-se com a presença de Leonor, e nada sobre a intriga entre casamentos. Há uma discussão profunda sobre a contemplação de algo tão perto porém tão distante como cobiçar alguém que não pode ser seu, situação próxima ao olhar da própria câmera, que constrói uma situação tão próxima à realidade que mais é capaz de iludir que satisfazer, já que a noção mais sábia de cinema é de que aquilo tudo não passa de uma armação.

Concretização nunca será uma opção aqui. Se a escolha em filmes como Amor de Perdição e O Estranho Caso de Angélica são por um amor imaterial, aqui há a decepção como irônica maneira de se assimilar humor e tragédia a um tema recorrente como é a paixão na carreira de Manoel. Se amar é um defeito do qual se priva, só resta o olhar, perceber e conspirar sobre situações das quais viveremos paralelamente enquanto o cinema existir.

Party – 1996 – França/Portugal
Direção: Manoel de Oliveira
Roteiro: Manoel de Oliveira, Agustina Bessa-Luís, Jacques Parsi
Elenco: Michel Picoli, Irene Papas, Leonor Silveira, Rogério Samora, Sofia Alves
Duração: 92 min.

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