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Crítica | Parada Inesperada

Simples e divertida, narrativa com tom gospel reflete a importância dos recomeços.

por Leonardo Campos
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Uma comédia dramática edificante. Parada Inesperada é simples? Sim, mas não deixa de ser um filme com discussões interessantes, em especial, quando levantamos questões sobre ética e comportamento humano frente aos desafios legais que engendram a nossa vida em sociedade. Explicando: a protagonista da narrativa, uma médica jovem, bonita e dona de si coleciona 23 multas de trânsito em seu registro errôneo enquanto condutora. Constantemente no celular enquanto se desloca com seu luxuoso carro, ela ainda comete o erro de tentar subornar o guarda, aqui equivalente ao que em nossa cultura, temos como agente de trânsito, oferecendo-lhe uma quantia para se livrar da parada que a impede de continuar uma viagem rumo ao encontro com o homem que aparentemente será o seu futuro marido.

Com a mudança no rumo das coisas, a personagem vai precisar lidar com alguns obstáculos inesperados, como o próprio título do filme apregoa, aprendendo que em sua frenética vida automatizada pelas demandas do capitalismo, será necessário rever conceitos e tradições. Punida, a médica precisa prestar serviço comunitário numa cidade interiorana com seus costumes considerados ultrapassados, local onde o sinal do celular é o que menos importa e as pessoas, mesmo numa dinâmica de curtas distâncias, obedecem respeitosamente às leis de trânsito. Ao conhecer Lucas Craig (Trevor St. John) e Dr. Shelbby (Lou Beattie Jr.), a sua concepção sobre religião, trabalho e assuntos correlatos ganhará novas perspectivas, positivas e com encaminhamento para o final feliz que todos nós gostamos e às vezes, precisamos.

Simples e com algumas lições edificantes em seu desenvolvimento narrativo, Parada Inesperada é uma comédia romântica ao estilo hollywoodiano, mas com um toque evangélico em sua estrutura que flerta com temas sobre a acelerada vida que levamos, muitas vezes desatenta aos pequenos detalhes que diferente do que muitos acreditam, importam bastante. Em seus 90 minutos, acompanhamos a trajetória da bem-sucedida Dra. Lisa Leland (Candace Cameron Bure), uma cirurgiã renomada que sai da cidade grande para encontrar o seu amor numa região interiorana, travessia que a fará rever a forma como trata as pessoas, as suas coisas, em suma, tudo que gira ao seu redor. Sob a direção de Brian Herzlinger, cineasta guiado pelo roteiro de Cary Solomon e Chuck Kanzelman, somos apresentados a uma trama sobre redenção e manobras radicais para gozar dos privilégios não materiais que a vida nos oferta.

Ao prestar serviço comunitário, a personagem precisará assumir o lugar do médico da cidade interiorana, isto é, o posto de um homem em vias de aposentar, provocação para que a Dra. Lisa largue tudo e aceite uma existência menos badalada e mais conformista. A proposição é problemática por um viés, pois pede acomodação, mas por outro lado, é uma fábula sobre aproveitar melhor a vida. Na dúvida, ficamos com o lugar comum sobre o discurso feminista, isto é, a mulher precisa ser o que ela quer ser e fazer o que ela quer fazer. Assim, refletimos: o que será que a Dra. Lisa quer da vida? Continuar na atribulada vida da cidade grande ou ser uma médica de existência mais amena, com tempo para anamnese não apenas dos pacientes, mas de si mesma? Neste processo, o que ela de fato precisa mudar mesmo é sua atitude no trânsito.

Trazido para o nosso contexto educacional, Parada Inesperada retrata uma infração prevista no artigo 195 do Código de Trânsito Brasileiro, trecho que expõe ser grave com penalidade por multa a postura de desobedecer às ordens emanadas da autoridade competente de trânsito ou de seus agentes. E, para piorar, a ação verbal ou gestual que busca ofertar vantagens em dinheiro para funcionário público, tendo em vista manobrar uma penalidade por desvio de conduta na mobilidade pode ser compreendida por corrupção ativa e fazer o condutor antiético responder criminalmente, tendo como base, o artigo 333 do Código Penal. Assim, além de debater questões relacionadas ao modo como muitas vezes levamos a nossa vida, o filme permite, na dinâmica da educação para o trânsito, uma reflexão sobre postura cidadã e comportamento desejável de alguém que não apenas se preocupa consigo mesma, mas respeita as idas e vindas dos outros que dividem o mesmo espaço territorial ao longo das travessias realizadas no cotidiano.

Parada Inesperada (Finding Normal, Estados Unidos – 2013)
Direção: Brian HerzlingerRoteiro: Cary Solomon, Chuck KanzelmanElenco: Andrew Bongiorno, Candace Cameron Bure, Dodie Brown, Isabel Myers, Lou Beatty Junior, Mark Irvingsen, Trevor St. John, Valerie Lynn BrettDuração: 89 minutos

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