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Crítica | Panquiaco

por Roberto Honorato
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Cebaldo é atormentado pelas lembranças de sua família, de quando era uma criança da comunidade indígena do Panamá. Hoje, trabalhando como pescador em um porto de Portugal, sente cada vez mais saudade do passado que abandonou. Dependendo da rotina para passar os dias sem notar, decide retornar à sua casa em Guna Yala, mas é impossível retornar depois de tanto tempo e se sentir confortável em um ambiente do qual não faz parte há décadas. Em uma união de documentário com ficção, a diretora estreante Ana Elena Tejera procura criar uma narrativa capaz de conectar o drama de Cebaldo com mitos pré-coloniais. 

Tejera estrutura seu longa em volta das águas do mar, um elemento essencial que atravessa a obra como o principal símbolo de mudança e representação da passagem de tempo. Em certo momento, o texto toma conta da imagem e narra a história de Panquiaco, um indígena que ajudou o explorador espanhol Vasco Núnez de Balboa em sua jornada de descoberta, o que resultou em um mar desapontado com a atitude de Panquiaco. O texto diz que o reflexo da alma está na água, e assim se encontra a de Cebaldo, uma alma presa na correnteza, perdida em um presente solitário, incapaz de retornar. 

O longa está ancorado no drama e atuação de Cebaldo, que passa seus dias em um bar, bebendo, raspando bilhetes de loteria e selecionando a mesma música no jukebox. Ainda que seja uma versão ficcionalizada de sua realidade, o espectador é capaz de compadecer com a interpretação de Cebaldo, seja pelo olhar vazio esperando que o horizonte lhe traga respostas, ou os suspiros de uma rotina cada dia menos suportável. 

Consequentemente, a obra propõe uma abordagem mais sutil e poética à noção da nostalgia, ainda que a direção de Tejera faça questão de inserir diálogos e personagens que servem com o exclusivo propósito de tentar traduzir em palavras o que o filme estava conseguindo passar muito bem através de seu protagonista. Talvez a intenção seja aproximar e situar melhor o espectador, mas a forma como a narrativa se apresenta faz desse recurso um esforço desnecessário, até chegando a distrair do que parecia ser um exercício de introspecção e avaliação pessoal de nossa própria identidade. 

Para Tejera, a cisão entre a rotina do personagem e sua vida passada é evidenciada pela direção de arte. Para as sequências em Portugal, o uso de uma câmera estática, planos abertos de um porto vazio e uma fotografia fria é um tremendo contraste com as filmagens de cores vibrantes e uma câmera de mão mais natural, mesmo que elas estejam em uma razão de aspecto menor e emulando uma película mais antiga, o que evidencia a proposta de uma memória em deterioração, se perdendo com o passar dos anos. 

Panquiaco traz um protagonista em busca de um passado perdido, tentando se reconectar com antigos rituais que hoje o colocam em conflito com sua própria identidade. A proposta de um estudo de personagem é válida, mas a obra não sustenta essa narrativa ou se entrega completamente a ela, o que faz com que o ritmo oscile entre sequências molengas e interações longas e dispensáveis. Mesmo assim, os questionamentos continuam atraentes e Ana Elena Tejera mostra uma boa mão para executar rimas visuais que acabam tendo mais impacto do que qualquer linha de diálogo que o filme possa apresentar. Do mar para o mar, Cebaldo continua sua busca. 

Panquiaco (Panamá, 2020)
Direção: Ana Elena Tejera
Roteiro: Ana Elena Tejera
Elenco: Cebaldo De León, Fernando Fernández, Kinyapiler Johnson González, Manuel Salvador Pereira Sencadas
Duração: 84 min.

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