Um assassino que extermina as suas vítimas cruelmente, através de mortes criativas e coreografadas como um espetáculo de dança. Um segredo guardada à sete chaves entre um grupo de amigas. Apelo sexual exalado em representações fetichistas do feminino, desde as saias curtas aos modelos mais ousados de botas com saltos altos. Gritos e muito sangue escorrendo para todos os lados. Você, com certeza, mesmo sem ter assistido algum exemplar antes, já deve conhecer o que está na pauta destas descrições: o subgênero slasher, uma modalidade cinematográfica que parece que não vai acabar tão cedo.
A afirmação tem todo um esquema de segurança. Este pensamento sobre o subgênero é de 2009, primeira vez que tive acesso ao filme, numa tela de cinema potente. A reflexão era sobre a insistência dos filmes sobre psicopatas mascarados, pois por mais que se diga que há desgaste, as pessoas não cansam de vê-los e cultuá-los. Culto, talvez, seja a expressão mais adequada.
Na época o slasher havia sido resgatado com a onda de refilmagens: A Morte Convida para Dançar, Dia dos Namorados Macabro, Natal Negro, Sexta Feira 13, dentre outros. Releitura de The House on Sorority Row, lançado em 1983, o filme oferta ao público um bando de jovens seminuas, desfilando com os seus corpos magros e plasticamente construídos para alimentar o desejo heterossexual de determinado segmento do público.
Ao fazer uso da fórmula básica mortes criativas + assassino misterioso + um segredo obscuro, a trama não é agressiva, desagradável ou pouco provável, mas dialoga com os princípios básicos do slasher. Quem vai assistir já sabe o que esperar, desde à sinopse ao cartaz. Inicialmente uma câmera que reflete o olhar masculino desde os primeiros instantes de filme, circula pela casa, nos apresentando cada canto de uma comemoração, com comportamentos que trafegam entre o fetiche e o excêntrico.
Um grupo de garotas, foco da narração deste momento em diante, faz um brinde. Uma delas simula uma convulsão com o ex-namorado traidor, tendo em mira pregar uma peça. O que inicialmente soou como brincadeira acaba se tornando uma tragédia, pois no desespero, o rapaz desfere golpes de uma chave-de-roda na moça que representava um corpo morto, morrendo, agora, de verdade. Desesperadas, as jovens se encontram diante de um dilema: livrar-se do corpo da moça ou entregar o caso a polícia. Os esquemas habituais do gênero desenham-se com mais definição de detalhes: a boazinha quer entregar o caso, mas as outras se sentem em perigo, pois perderão todos os privilégios, desde o namorado bom partido ao crédito estudantil.
Para quem assistiu ao eficiente Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado, sabe o que vai acontecer: este segredo será arquivado até que um dia alguém se começara a exterminar as garotas em ordem de “qualidade social”: a sexualmente ativa é a primeira da fila, a antagonista antipática é mantida em estado de sofrimento até os momentos finais e a bacana e inteligente fica viva no final. Seguindo a cartilha slasher, a ordem da morte vai de acordo com o estado comportamental de cada componente.
No que tange aos aspectos visuais o filme emprega uma fotografia granulada, alguns momentos de câmera na mão e trechos que lembram a estética do videoclipe. A ideia parece tentar passar a dramaticidade necessária para envolver o espectador, mas as piadas são mais evidentes, o que torna o filme humorado, ao invés de trágico. Excertos como “ela está péssima”, numa cena entre duas moças da fraternidade, ao olhar o cadáver de outra pessoa ressoa como brincadeira deslavada. Não é ruim, na verdade, é o que nos mantém interessados razoavelmente no filme.
Para tentar chocar, a arma é bastante criativa. Uma chave-de-roda toda estilizada. Todas as personagens morrem pela boca, numa estratégia divertida da produção. O ideal é mostrar que elas falam demais e não sabem sequer guardar um segredo tão mortal. Outra interpretação plausível é a de que elas falam bobagens demais, agridem demais umas as outras ou são donas de discursos politicamente incorretos. Todas as interpretações se complementam, mas as últimas estão na seara da maior probabilidade.
O roteiro peca por colocar subtramas frágeis para preencher o vazio narrativo. Talvez se o filme tivesse 81 minutos, ao invés dos longos 101 minutos, esta questão pudesse ter sido corrigida. É aí que a sensação de irregularidade se estabelece, sem nada que já não tenhamos visto antes, principalmente no que diz respeito à ordem canônica dos crimes. Mas exigir relevância nestes aspectos já é demais, afinal, o subgênero slasher possui uma cartilha e com exceção de Wes Craven, praticamente todos os cineastas que adentraram no gênero nunca se preocuparam em fazer algo que saísse do trivial.
Pacto Secreto (Sorority Row) – EUA, 2009
Direção: Stewart Hendler
Roteiro: Josh Stolberg, Pete Goldfinger, Mark Rosman
Elenco: Briana Evigan, Rumer Willis, Carrie Fisher, Teri Andrez, Adam Barrie, Robert Belushi, Margo Harshman, Jamie Chung, Leah Pipes, Audrina Patridge.
Duração: 100 min