- Há SPOILERS. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo Supernatural.
Chega a ser engraçado a preguiça do showrunner Robbie Thompson em estabelecer a narrativa deste começo de série. Não apenas estão repetindo o início de Supernatural com os protagonistas procurando seus pais, como até mesmo a maneira como as coisas estão acontecendo são praticamente iguais, só que mal construídas. No começo da aventura de Dean e Sam, eles procuram seu pai, que começa a deixar casos aleatórios para eles fazerem enquanto está na sua própria caçada, mesma premissa usada em Teach Your Children Well quando Mary se depara com nosso caso da semana.
Há a possibilidade de não ter sido o pai de Mary que deixou a pista no corpo do zumbi, mas mesmo assim, é como assistir a Supernatural novamente, só que uma versão mais derivativa e mal dirigida, e bem menos carismática e criativa. O começo com a luta contra zumbis (não lembro de ter visto essas criaturas neste universo) é o primeiro exemplo de vários outros momentos sem contextualização e sem qualquer tipo de suspense no episódio. A direção da cena é esquemática e protocolar, com um pouco de humor forçado, como a piada constante de John se sujar, e sem grande interesse nas pitadas de horror juvenil que eram tão divertidas na série original.
O conceito do zumbis também é desperdiçado – até pareceu TWD hahaha -, servindo apenas para catapultar o verdadeiro caso da semana: uma criatura que finge ser a figura parental de suas vítimas e os chantageia emocionalmente, sequestrando-os com seus “braços” de galhos para debaixo da terra. Existe algum tipo de tema sobre relacionamento de pais e filhos no meio da caçada, mas nada dramaticamente profundo ou minimamente bem trabalhado, com diálogos terríveis como John dizendo “tenho que acreditar em mim mesmo” em um falso clímax do episódio.
Até chego a achar louvável que a equipe criativa queira homenagear a abordagem sobre família de Supernatural, mas precisa fazer melhor com seus conflitos, talvez focar mais no fato de Mary não gostar dessa vida (algo muito bem trabalhado com Sam na reta inicial do seriado) ou criar algum tipo de força dramática por trás dos protagonistas além da simples busca pelos pais perdidos. Falta um coração, uma essência para a dinâmica da dupla principal, como acontecia com o trauma infantil de Dean e Sam.
Não quero parecer saudosista, demandando que Os Winchesters siga as mesmas “regras” e caminhos da série original. Aliás, até preferiria que o prelúdio tivesse uma abordagem diferente, quem sabe mais sequencial do que procedural, mas como os roteiristas estão claramente e vergonhosamente copiando o material de inspiração, é melhor focar nas bases que fizeram a obra de Eric Kripke ser boa (nunca excelente, vale ressaltar). Duas coisas sempre brilharam no seriado, principalmente nos primeiros cinco anos: a mitologia por trás dos casos da semana e a interação dos irmãos.
Os Winchesters se mostra bem pobre com a parte folclórica e sobrenatural dos casos semanais, com a antagonista da floresta servindo mais como muleta para o melodrama de filhos que brigam com pais do que ser interessante e curiosa por si só. Os roteiristas encontraram outra muleta na personagem nerd de Latika, que só está ali como Wikipedia ambulante. Falta uma diversão da equipe criativa com a construção do caso da semana, seja nos cenários, nas lendas, na parte visual e conceitual da criatura e na ação, novamente com péssima direção. O “clímax” da caçada é John quebrando a perna do monstro…
Já no departamento de interação do elenco, tenho olhos mais elogiosos. Os roteiristas estão seguindo uma rota mais de grupo de amigos salvando o mundo, como na divertida cena dos caçadores virando ripongas, levemente diferente da interação fraternal de Dean e Sam. Gosto da ideia, principalmente se encontrarem particularidades para cada personagem, mas, até o momento, só me interesso pelo carismático Carlos. O romance aguado de John e Mary não traz entusiasmo, e muito menos a “Velma” da série – os atores não ajudam. Ainda assim, vejo pequenos vislumbres de potencial com a dinâmica do grupo, mesmo com o caráter genérico de todo o resto da produção.
Os Winchesters (The Winchesters) – 1X01: Teach Your Children Well (EUA, 27 de outubro de 2022)
Criação: Robbie Thompson (baseado no universo de Eric Kripke)
Direção: John F. Showalter
Roteiro: Robbie Thompson
Elenco: Meg Donnelly, Drake Rodger, Nida Khurshid, Jojo Fleites, Demetria McKinney, Bianca Kajlich, Jensen Ackles
Duração: 43 min.