Quando entrei na sessão de Os Tons Maiores, não tinha assistido qualquer trailer ou lido a sinopse, mas nos primeiros minutos imaginei que o filme fosse seguir uma linha de ficção científica, principalmente por conta do tom etéreo, um mistério em volta da protagonista e uma menção ao autor Ray Bradbury, mais conhecido por seus livros do gênero. Menciono isso porque essa distração tem a ver com a proposta da diretora Ingrid Pokropek em criar uma narrativa cheia de elementos que podem nem sempre se conectar, mas geralmente funcionam para contar no contexto geral.
Ana (Sofía Clausen) é uma garota de 14 anos que vive na Argentina com seu pai. Ela passa os dias estudando e fazendo música com sua amiga, mas durante as férias de inverno passa a sentir estranhas vibrações vindo da placa de metal que tem no braço desde a infância, quando sofreu um acidente. Ana ignora isso acreditando ser nada de mais, mas quando percebe que há um padrão nas vibrações e começa a ver uma sequência de eventos estranhos, fica obcecada em decifrar a mensagem que pode estar recebendo.
As interações entre as personagens é feito sem muita carga dramática, ainda que tenha sua importância, só é abordado de forma leve e cômica na maior parte, o que não chega a ser um problema, mas também perde algumas oportunidades. Na superfície temos um coming of age que debate perda, interesses românticos e distanciamento, mas nenhum deles chega a ser uma prioridade, com exceção da ausência da mãe da protagonista. É como se o filme tivesse interesse em debater todos eles, mas viu no meio do caminho que tinha muita coisa pra resolver e deixou de lado uma subtrama ou outra, ou seja, entendo quem sair desse filme com uma certa frustração.
Há uma inocência na forma como a protagonista trata o assunto e a narrativa se desdobra. A jornada de Ana por respostas é um pequeno jogo para quebrar códigos, e a forma que o enredo passa a colocar cada vez mais informações e dúvidas em cima da trama principal é o que deixa as coisas mais divertidas de assistir. Eventos bizarros nunca deixam claro o que é real ou imaginação. Esse aspecto é a parte mais interessante da ambientação do longa, como luzes piscando nas janelas das casas, debates sobre estrelas e constelações no céu, código Morse e a exploração de um mapa “do tesouro” são alguns dos elementos que mostram como o filme não está comprometido em uma abordagem realista, apenas a vontade de replicar aquela sensação de descoberta e exploração da infância.
Os Tons Maiores aborda as conexões criadas através do interesse humano por respostas, ainda que nunca responda algumas das suas principais questões. O longa convida o público a decifrar códigos e conhecer melhor o universo da protagonista com bastante leveza, o que funciona dentro dessa proposta de exploração, porém perde um pouco do próprio charme quando deixa de lado algumas das suas subtramas.
Os Tons Maiores (Los Tonos Mayores) – Argentina, 2024
Direção: Ingrid Pokropek
Roteiro: Ingrid Pokropek
Elenco: Sofía Clausen, Santiago Ferreira, Mercedes Halfon, Walter Jakob, Pablo Seijo, Lina Ziccarello
Duração: 101 min.