Baseado na HQ homônima de Mark Millar e Bryan Hitch, este segundo filme dos Supremos (The Ultimates) volta os olhos para um território diferente daquele de Os Supremos: O Filme. Mais focado e com um tema interessante em mãos, esta continuação serve como um segundo capítulo ou talvez uma “fase dois” das aventuras dos heróis deste Universo (que nos quadrinhos é a Terra-1610, mas aqui nas animações é — óbvio! — outro lugar, a Terra-60808), colocando o General Fury em uma posição delicada e ao mesmo tempo ousada ao reunir os Ultimate Avengers e mandá-los para Wakanda, em uma missão fadada ao fracasso.
Como era de se esperar, o roteiro, aqui escrito por Greg Johnson (com ideias adicionais de Craig Kyle e Boyd Kirkland) tenta não só apresentar um conflito de grandes proporções para a equipe, mas também fazer uma história de origem, até onde isso é possível em uma jornada com outros planos para os heróis. E os roteiristas até que se saem bem nessa empreitada. Começamos com o retorno de T’Challa para Wakanda, após o seu período de estudos no exterior. A clássica animosidade dos anciãos para com ele aparece, mas diferente do Universo que conhecemos, T’Chaka ainda está vivo e procura relativizar a má impressão que o filho tem em relação aos seus compatriotas e vice-versa. Tudo indica um futuro embate, mas o clima de felicidade momentânea nos faz esquecer esse medo. Até que um ataque acontece.
Embora seja bem difícil engolir o tratamento dado a Wakanda e às duas versões do Pantera Negra aqui elencadas, a animação consegue uma marca curiosa no campo da ação, de certa forma diminuindo o peso da descaracterização que atrapalha o arco africano da aventura. Alguém poderia argumentar que “estamos em outra Terra, são os heróis de outro Universo, então é normal que seja diferente“. De fato. Mas só seria normal se os outros Supremos fossem igualmente retratados com nuances um pouco à margem do que se espera deles, e não é isso que acontece, nem mesmo com Fury. Eles são, guardadas as proporções de contexto, uma réplica dos Vingadores que conhecemos, especialmente Capitão América e Viúva Negra. Logo, a cartada do “é diferente porque está em outro Universo” se autodestrói. T’Challa e os wakandanos aqui são parcialmente mal escritos mesmo.
Como o processo técnico de animação é bastante similar ao do primeiro filme, mudando apenas o fato de a direção focar com mais cuidado na interação entre personagens e criar lutas em diferentes núcleos (um dos erros do filme anterior foi justamente a repetição de cenários de batalha e caminhos de enfrentamento), o espectador tem tempo que apreciar o desenvolvimento ao menos parcial de alguns personagens. Com Herr Kleiser (um Chitauri) em cena, existe o gancho para a provocação do Capitão América e de T’Challa, que ganham destaque emocional aqui. Se deixarmos de lado o péssimo primeiro encontro entre os dois, conseguimos ver coisas positivas no relacionamento entre os valorosos de cada nação no decorrer do filme.
Alguns pequenos flashbacks e sua entrada no ambiente corrente da história também funcionam a contento. Uma pena que não podemos falar o mesmo do drama entre Homem-Gigante (Hank Pym e essas suas milhões de identidades) e Vespa. Sem contar a insistência dos roteiristas e do diretor em gastar tempo com Bruce Banner. O personagem tem uma importância ínfima na animação e o que ele faz de positivo poderia tranquilamente ser conseguido por qualquer outro personagem importante, tornando desnecessária sua presença na fita.
A batalha final dos Ultimates contra os Chitauri chega de maneira abrupta, mas se desenvolve e se finaliza bem. Com boas dublagens (embora Justin Gross como Capitão América parece ter perdido a firmeza) e um curioso olhar para Wakanda, Os Supremos 2: Descubra o Poder da Pantera dá o merecido destaque ao rei da terra do vibranium em uma animação de Universo paralelo. Apesar dos problemas de desenvolvimento em partes do enredo e na colocação de personagens em cena, o filme termina com um saldo bastante positivo e garante uma boa diversão.
Os Supremos 2: Descubra o Poder da Pantera (Ultimate Avengers II) — EUA, 2006
Direção: Will Meugniot, Dick Sebast
Roteiro: Greg Johnson, Craig Kyle, Boyd Kirkland
Elenco (vozes): Justin Gross, Grey DeLisle, Michael Massee, Marc Worden, Olivia d’Abo, Nan McNamara, Nolan North, Andre Ware, David Boat, Fred Tatasciore, Jim Ward, Jeffrey D. Sams, Dwight Schultz, Mark Hamill, Dave Fennoy
Duração: 73 min.