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Crítica | Os Segredos do Universo por Aristóteles e Dante

O mundo é dos que amam.

por Felipe Oliveira
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Quando se trata de histórias sobre amadurecimento, principalmente, tramas voltadas para personagens queers, há um recorrente tratamento de ver tais histórias pela ótica de sofrimento do processo de autoaceitação e aceitação, e desde que Com Amor, Simon surgiu nas telonas, tem-se o efeito de comparação quando o teor de produções com temáticas semelhantes seguem por uma segmento denso, o que entra também Heartstopper como parâmetro de apresentar histórias realistas de forma leve ou com traços mais complexos. Porém, ao olhar para adaptação do livro de Benjamin Alire Sáenz, é notável que Os Segredos do Universo por Aristóteles e Dante possui uma particularidade e cuidado na maneira que essa história quer ser contada, não como um ponto fora da curva para se tornar um modelo de narrativas queer, mas levar essa história para as telas com a delicadeza que ela merece.

Atuando como roteirista e diretora, Aitch Alberto compreende essa necessidade e imprime isso com sensibilidade na sua execução. Obviamente, a adaptação carrega escolhas e resoluções para histórias do gênero, porém, é interessante observar como Alberto direciona a abordagem para um coming of age com ares de um romance de verão sendo contado, porém, o seu maior apelo fica a leitura de personagem colocada em primeiro plano. Embora o título inspirado no premiado livro de Sáenz indique uma história com toques existenciais e filosóficos, o recorte feito por Alberto se faz com um drama denso que observa a autodescoberta de Aristóteles, seu protagonista.

A abertura seguida com uma narrativa em voz off  é essencial para entendermos que o foco de Alberto não era contar uma história entre dois adolescentes mexicanos que “desbravam constelações e o universo” quando passam a nutrir uma amizade durante o verão, e sim, como o mundo da autoaceitação se torna sufocante para um jovem introspectivo e marcado pelo passado traumático em sua família. De início, ouvimos Ari falar como não se identifica com outros rapazes de sua idade – agressivos e que objetificam mulheres –  e nesse mesmo ponto, a fotografia de Akis Konstantakopoulos insere planos fechados ilustrando o olhar pessimista e em conflito do jovem em se encaixar. E mesmo que Alberto não aprofunde o retrato da juventude numa premissa que se passa em meados da década de 80, ela se dedica com elementos o suficiente para a análise de seu protagonista.

Como contraste, Alberto traz uma reflexão de como a violência é facilmente associada à masculinidade e como isso se torna um questionamento de identidade étnica e cultural para Ari, especialmente por ser um jovem latino – o que vale lembrar o momento que ele brinca com sua mãe ao dizer que o resta para ele, na sua idade, é entrar para uma gangue – e como isso se mistura com o passado do seu irmão. Certamente, a diretora/roteirista faz melhor uso desse contexto ao humanizar seu protagonista enquanto chama atenção para como a presença da violência, hostilidade e temperamento agressivo de Ari surge em situações que reprime a sua orientação sexual frente a pressão de provar a masculinidade com supostos comportamentos que correspondem ao perfil de sua geração. 

Em diferentes momentos, Alberto vai espelhando como as personalidades e experiências de Aristóteles e Dante se diferem, a exemplo também da representação de lar e pais sendo os pais de Dante mais flexíveis e leve em contrapartida a falta de comunicação e clima carregado que acompanha a tragédia familiar de Ari. Mesmo sem tornar esses trechos marcantes, acompanhar o desabrochar da amizade dos dois protagonistas, que se fortalece em cada aula de natação, idas e vindas no ponto de ônibus, é ponto encantador do filme em apresentar essa amizade romântica ainda que cai em demonstrações e desfechos genéricos para o gênero.

Os Segredos do Universo por Aristóteles e Dante pode não ser um exemplar quanto ao seu romance genérico, mas oferece um drama LGBTQIA+ denso e que foge de estereótipos em prol de examinar seus personagens e tornar isso o seu maior apelo. Ainda que não seja uma adaptação com status como a obra de Sáenz, é notável o esforço de Aitch Alberto em fazer jus a essa história.

Os Segredos do Universo por Aristóteles e Dante (Aristotle and Dante Discover the Secrets of the Universe – EUA, 2023)
Direção: Aitch Alberto
Roteiro: Aitch Alberto
Elenco: Max Pelayo, Reese Gonzales, Eva Longoria, Kevin Alejandro, Eugenio Derbez, Luna Blaise, Isabella Gomez, Veronica Falcón, Marlene Forte
Duração: 92 min.

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