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Crítica | Os Mercenários 4

Onde foram parar os brucutus e a ação?

por Kevin Rick
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Com todo o respeito para os saudosistas de plantão, mas nunca gostei da franquia Os Mercenários. As frases de efeito cafonas, a reunião de brucutus que perderam o carisma e a vontade de nos empolgar (olhando principalmente para Bruce Willis nestes filmes) e o estilo de ação mais anos 2000 do Michael Bay do que realmente um resgate oitentista são alguns dos pontos negativos que nunca me cativaram na cinessérie. Mas obviamente que existe um certo charme nostálgico nos três primeiros filmes e uma proposta retrô que encontrou um público extenso, dos que cresceram vendo algumas dessas estrelas nos anos 80 e 90, até uma geração mais jovem que comprava todos os DVD’s de Jason Statham e Jet Li. E para o mérito da direção, sempre achei levemente divertido a proposta quase de filme B que a trilogia original proporciona.

Bem, como nada em Hollywood descansa, cá estamos quase uma década depois de Os Mercenários 3 com a mais nova empreitada de Sly e companhia. Confesso que esqueci a premissa e a linha narrativa assim que o filme terminou, mas sei que envolve algo com uma bomba e uma missão para evitar a Terceira Guerra Mundial (porque claro que sim, afinal quem melhor para salvar o mundo do que mercenários de quinta categoria?). Isso não importa, porém, já que a história é apenas detalhe e uma grande desculpa esfarrapada para criar o palco da pancadaria e da destruição. O que vale pontuar, em termos narrativos, é a intenção do roteiro de criar uma passagem de bastão de Sylvester Stallone para Statham.

E isto me leva ao primeiro problema do filme: o desinteresse nos velhos brucutus. Talvez a característica mais basilar e chamativa da franquia é absolutamente descartada aqui, com a exclusão quase total de Sly e quaisquer outros figurões que passaram pela franquia ou novos nomes que poderiam ter entrado – adoraria ver Jackie Chan ou Nicolas Cage num desses, por exemplo. A única exceção é Dolph Lundgren, mas que mesmo assim ganha pouquíssimo holofote. Statham ainda está aqui, claro, e as adições dos marciais Tony Jaa e Iko Uwais (dois atores de ação que sou MUITO fã) ajudam com o “novo sangue” da cinessérie, mas a escalação de tipos como Megan Fox, 50 Cent e Jacob Scipio não fazem muito sentido (assim como a participação de Randy Couture nunca fez sentido). Se não temos as antigas estrelas lutando em fraldas geriátricas, esses filmes já perdem metade do brilho.

No entanto, o maior obstáculo da produção é exatamente a ação. Passando por cima dos diálogos ruins e da narrativa desleixada, o que verdadeiramente me surpreendeu no filme é o quão entediante e moroso foi a experiência de assisti-lo. Em quase duas horas, temos apenas duas set-pieces (uma logo no início e outra no final) e um infinito de sequências descartáveis dos personagens conversando sobre essa vida de mercenário, sobre um parceiro que morreu e até sobre sexo, com toda a magnitude dramática que possam imaginar. Nesses momentos em que fiquei bocejando, questionei a falta de empolgação e de adrenalina de uma obra que, em tese, só tem isso a oferecer.

E mesmo quando a ação acontece, a falta de criatividade é avassaladora. Para uma produção de cem milhões de dólares, o CGI é risível e muitas sequências parecem terem saído de uma cutscene do PlayStation 2, com o fundo das cenas sempre gritantemente falsos e todas as cenas que envolvem algum tipo de pirotecnia soando artificiais, naquele estilo super divertido de várias explosões acontecendo… Até quando a pouca megalomania não existe, as cenas de combate são terrivelmente coreografadas, num desperdício colossal do talento de Uwais e Jaa, os únicos que protagonizam as poucas cenas de ação que entretém de verdade. De forma geral, o cineasta Scott Waugh não tem ideia do que fazer, com 2/3 da trama se passando dentro de um navio em que a maioria do elenco não ganha destaque, num resultado sem ambição e sem capacidade de empolgar sua audiência.

Os Mercenários 4 traz tudo de negativo que esperávamos, mas também nega as poucas qualidades da franquia ao descartar a nostalgia brucutu e o charme das grandes estrelas. Pior ainda, a obra não acerta nem no divertimento descompromissado. Se um filme desse tipo já não tem muito a oferecer, fica difícil quando nem a pancadaria tem o mínimo de esforço criativo para nos entreter, ainda mais com uma escalação de elenco tão equivocada. O desfecho da obra ainda traz reviravoltas cretinas e uma resolução anticlimática para deixar a experiência mais ruim, se isso for possível. Às vezes assistir Sly e Statham correndo pelas colinas teria sido mais divertido…

Os Mercenários 4 (Expend4bles), Estados Unidos, 2023
Direção: Scott Waugh
Roteiro: Kurt Wimmer, Tad Daggerhart, Max Adams, Spenser Cohen
Elenco: Sylvester Stallone, Jason Statham, Curtis “50 Cent” Jackson, Megan Fox, Dolph Lundgren, Tony Jaa, Iko Uwais, Randy Couture, Jacob Scipio, Levy Tran, Andy García
Duração: 104 min.

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