Quando pensamos em anos 80 surge a lembrança de grandes filmes do cinema, pois muitos sucessos saíram dessa década. Dentre esses sucessos, os filmes de monstros se destacavam na popularidade. Nessa época foram lançados muitos filmes de temáticas sobrenaturais cujo destaque maior era principalmente para vampiros e lobisomens, a exemplo de Um Lobisomem Americano em Londres (1981) e A Hora do Espanto (1985). Já em 1987, foi lançado Os Garotos Perdidos, um ótimo filme desta temática que merece ser revisitado. Ao assistir atualmente a Os Garotos Perdidos somos facilmente teletransportados para toda a áurea dos anos 80, repleto de um clima sombrio, visual estiloso, uma juventude rebelde e inquieta e músicas da época. O filme do diretor Joel Schumacher soube capturar a essência desse tempo. Mesmo não sendo nascido na época, revisitar o longa irá te fazer sentir as sensações dos anos 80 e querer ter feito parte desses momentos, e para quem já era nascido, a nostalgia será com certeza muito boa.
A história narra a chegada dos irmãos adolescentes Michael (Jason Patric) e Sam (Corey Haim) numa pequena cidade no norte da Califórnia, Santa Carla, com sua mãe, Lucy (Dianne Wiest). Ao chegarem na cidadezinha, o jovem Sam conseguiu fazer novos amigos com interesses parecidos aos dele. Já seu irmão Michael acabou se apaixonando por Star (Jami Gertz), mas o que ele não sabia de início é que ela já estava envolvida com David (Kiefer Sutherland), que simplesmente lidera uma gangue local de vampiros. Os amigos do jovem Sam são determinados em investigar os mistérios a respeito dos vampiros da cidade, então ao descobrirem que Michael está envolvido com a gangue, os meninos embarcam numa missão com foco em salvar Star e Michael das mãos dos seres da noite.
Logo quando Sam faz amizade com os meninos da nova cidade, eles lhe dão de presente uma história em quadrinho de terror que fala sobre vampiros. Os amigos de Sam são interpretados por Corey Feldman e Jamison Newlander, que são respectivamente os personagens Edgar Frog e Alan Frog. Sam, Edgar e Alan formam na tela um trio de amigos bastante engraçado de acompanhar. Os três são aquele típico clichê de filmes ou séries onde as crianças protagonistas tentam solucionar um mistério sem a ajuda de adultos, pois os adultos não iriam compreendê-los ou dar importância. Algo semelhante acontece na série Stranger Things, que deve ter bebido de Os Garotos Perdidos como uma de suas inspirações.
Ver “crianças” resolvendo mistérios tão complexos como descobrir a identidade de vampiros e enfrentá-los pode parecer algo cômico à primeira vista, e essa é exatamente a intenção do filme. Ele se encaixa tanto no gênero de terror quanto no de comédia. Nem todos os filmes conseguem equilibrar esses dois gêneros de uma forma boa, mas The Lost Boys conseguiu fazer isso muito bem. Alan e Edgar Frog perguntam para Sam se ele não notou algo de estranho em Santa Carla, os meninos brincam que aquele local é um lugar legal para um Marciano ou… um Vampiro. É bacana observar como o medo pelas criaturas da noite é o tempo todo mencionado, o filme brinca a todo momento com a mitologia de vampiros. Michael é atraído por David e sua gangue até uma gruta, onde David o provoca, zombando dele. Em um momento, David oferece a Michael uma espécie de “vinho”, que mais tarde no filme o jovem descobre que na verdade o que ele bebeu foi o sangue do vampiro David.
Tomado pela paixão por Star, o jovem Michael acaba se metendo em uma confusão muito maior do que imagina. Pouco a pouco, após a noite na gruta, ele passa a se transformar em uma criatura da noite. Em uma das cenas, Sam vê o irmão não ter seu reflexo refletido no espelho – um clichê de histórias de vampiros – a partir disso Sam fica com muito medo do irmão e entra em uma paranoia. Há vários estereótipos legais de vampiros no longa, como o uso de estacas, alho e água benta. É bem legal de observar como os vampiros são representados no cinema. Desde a publicação de Drácula, de Bram Stoker, o mito do vampiro ganhou e continua a ganhar várias adaptações cinematográficas, desde as mais clássicas as com tons mais cómicos. Algo parecido com Os Garotos Perdidos foi feito em 2014, por Taika Waititi, com a também cômica história sobre vampiros, intitulada O Que Fazemos Nas Sombras, outra boa recomendação.
Um grande destaque de atuação em The Lost Boys é a do ator Kiefer Sutherland, que interpreta David, o vampiro protagonista do filme. David e Michael se enfrentam o tempo todo no filme pela atenção de Star, e os dois em cena são muito bons. Em um momento engraçado, a mãe de Sam e Michael, Lucy, convida seu interesse romântico Max (Edward Herrmann) para jantar em sua casa, mas o que devia ser um jantar comum, se torna em uma noite onde Sam e seus amigos aprontam muito com Max numa tentativa de descobrir se ele é um vampiro. Todos ficam envergonhados pelas tentativas falhas, mas no final do filme, uma reviravolta revelará que na verdade os meninos estavam sim certos a respeito da desconfiança sobre Max.
Após Sam, Edgar e Alan colocarem em prática o plano para matar David e sua gangue de vampiros, acreditando que assim Michael estaria livre da maldição de se tornar um morto-vivo, eles são surpreendidos ao perceber que ainda falta um vampiro para eliminar. É então que descobrem que Max, o novo namorado de Lucy, é na verdade o vampiro mestre. Com a ajuda do avô de Michael e Sam, eles finalmente conseguem derrotá-lo. Esse plot twist é um pouco comum e esperado, o que faz o filme terminar de uma forma não tão inspiradora. Uma curiosidade legal, é que o ótimo título do longa-metragem, “Os Garotos Perdidos” é uma referência aos garotos perdidos de Peter Pan. Nas histórias de Peter Pan, os Lost Boys são um grupo de garotos que nunca cresceram e viveram na Terra do Nunca. Os Lost Boys no filme também nunca crescem, pois após se tornarem vampiros sua juventude se mantém para sempre.
Os Garotos Perdidos (The Lost Boys – EUA, 1987)
Direção: Joel Schumacher
Roteiro: Janice Fischer, James Jeremias, Jeffrey Boam
Elenco: Corey Haim, Kiefer Sutherland, Jason Patric, Corey Feldman, Jami Gertz, Alex Winter, Jamison Newlander, Brooke McCarter, Billy Wirth, Dianne Wiest
Duração: 97 min.