ATENÇÃO: as edições aqui avaliadas são parte da Uncanny X-Men Vol.1, na fase de Chris Claremont e John Byrne. No entanto, este bloco não compreende os números #141 e 142 da revista (arco Dias de um Futuro Esquecido), porque eles já foram avaliados em um texto separado, como você pode ver aqui. A nota atribuída acima é a média de todas as edições aqui avaliadas.
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Elegia (Uncanny X-Men #138) pode ser interpretada tanto como uma introdução básica para quem está chegando aos quadrinhos dos X-Men após os eventos da Saga da Fênix Negra quanto uma homenagem a uma personagem incrível como Jean Grey. A trama se passa inteiramente no velório da mutante e quem assume a narração dos eventos é, claro, Scott Summers, o Ciclope, que ao final da edição acaba deixando o grupo para poder viver uma vida fora do meio que lhe trouxera tanta dor.
Chris Claremont e John Byrne não poupam detalhes. Até para quem conhece bem a história pregressa dos X-Men se sente mais aliviado ao relembrar uma série de acontecimentos, arcos, vilões e andamento de histórias até aquele momento. Tudo bem que o alvo dessas memórias é Jean Grey, até porque a edição é uma elegia à morte dela, mas funciona perfeitamente para o grupo todo, o que é interessante porque aumenta ainda mais o significado da fase que viria a seguir (mistura de luto com esperança, com um recomeço, bem no estilo fênix mesmo), com a chegada de Kitty Pryde logo ao final da revista e, em seguida, a nomeação de Ororo (Tempestade) como líder do grupo.
Quanto a arte, vale dizer que este é um trabalhado bastante exigente porque traz personagens de uma série de histórias anteriores e exige não só um ritmo textual bastante cadenciado como uma diagramação e desenhos que não tornassem a trama cansativa e atropelasse o propósito geral da elegia. Os desenhos de John Byrne e Terry Austin assumem essa tarefa com primazia e, mesmo que tenham melhores quadros em edições futuras como no arco em que aparece o Wendigo, o trabalho da dupla aqui é de se elogiar, assim como a coloração da história, realizada por Glynis Wein.
Em seguida temos um ótimo arco formado pelas histórias O Mal nos Espreita e Fúria (Uncanny X-Men #139 e 140), onde vemos Wolverine, acompanhado de Noturno, voltando para o Canadá e tentando resolver os seus problemas legais com a Tropa Alfa e o governo canadense. O interessante da edição #139 é a narrativa paralela, onde os autores relatam um dia na vida de Kitty Pryde e Ororo e, ao mesmo tempo, o encontro do carcaju e do elfo com Víndix, Shaman e Pássaro da Neve, um ótimo grupo, aliás, que na edição seguinte acirraria uma luta ensandecida contra Wendigo, a lendária criatura da mitologia dos Ojíbuas.
A história não terminada de Wolverine com a criatura (vista em O Incrível Hulk #181) é um acréscimo notável para o fator emotivo do enredo, que ganha ares de vingança, além de valores como honra e proteção de inocentes, no caso da família sequestrada pelo Wendigo para um futuro e saboroso jantar.
Se descontarmos o arco Dias de um Futuro Esquecido, temos aqui o melhor desempenho artístico de Byrne e Austin dentro desse bloco de histórias, para o qual podemos estacar as excelentes cenas de luta, a forma como os artistas destacam o poder na natureza na história e a interação plenamente orgânica entre os espaços que o roteiro alterna no decorrer do arco.
Por fim, a edição #143, Demônio. Aqui, temos a volta do N’Garai, o demônio criado por Chthon e que já tinha sido enfrentado pelos X-Men antes. A história começa mostrando um flashback de Tempestade em luta contra esses feiosos e aparentemente vencendo-os. Um deles, no entanto, não morre, e é este diabinho solitário que volta para cobrar o que lhe devem.
De todas as histórias deste bloco, Demônio é a mais fraca e a mais estranha. Primeiro, porque é uma “edição de Natal”, mas foi lançada nos Estados Unidos em março de 1981 (!). Depois, porque usa a mal elaborada saída de todo mundo da escola dos X-Men, deixando Kitty Pryde sozinha e, convenientemente, o “batismo de fogo” dela na luta contra o N’Garai, que, devo admitir, é bem interessante, mas o caminho anterior à luta e a finalização da trama são bem medíocres. Depois de tudo o que a Ninfa passou para derrotar o bicho (ela só tem 13 anos, for God’s sake!) era de se esperar um agradecimento ou um reconhecimento mais efusivo de Tempestade, que é quem fica sabendo do acontecido. Mas a frieza da mutante líder é de fazer congelar auto-estima de qualquer um.
Mariko Yashida aparece na história, acompanhando Wolverine, e Scott Summers liga para a escola afim de dar um “oi”. Nesta edição, vemos ele se aproximar de Lee Forrester, que faz a sua primeira aparição nos quadrinhos aqui e que teria um papel importante para a vida do mutante nas edições posteriores. Há um clima familiar e de confraternização que acalma um pouco os nervos de todos ao final da trama, mas isso não salva a história. Não chega a ser algo execrável nem nada, mas em comparação às edições anteriores, fica devendo bastante para o leitor.
Os Fabulosos X-Men #138 a 143 (Uncanny X-Men Vol.1) — EUA, outubro de 1980 a março de 1981
Roteiro: Chris Claremont, John Byrne
Arte: John Byrne
Arte-final: Terry Austin
Cores: Glynis Wein
Lançamento no Brasil: parte o encadernado Dias de um Futuro Esquecido, Panini, 2014.