Home TVEpisódio Crítica | Agatha Christie’s Poirot – 4X01: Os Crimes ABC

Crítica | Agatha Christie’s Poirot – 4X01: Os Crimes ABC

por Luiz Santiago
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Abrindo a 4ª Temporada da série Agatha Christie’s PoirotThe ABC Murders é mais uma boa versão de um romance de Agatha Christie adaptado para a TV. Dirigido por Andrew Grieve e com enredo de Clive Exton, este episódio captura de maneira muito precisa o clima de medo e impotência que a população, Poirot, Hastings e Japp encabeçam nessa aventura. Vinda do livro — que foi um exercício consideravelmente diferente para a Rainha do Crime, em modelo de assassinatos e grande deslocamento de personagens por diferentes cidades — a atmosfera de urgência assume rapidamente as rédeas do episódio, sem nunca deixar de lado uma caraterística muito frequente da série (e também dos romances de Agatha Christie, mas em outra medida): o bom humor.

Esta versão de Os Crimes ABC é, com certeza, uma das que melhor mostram o elemento cômico da série, isto porque o faz de maneira constante (e sem exageros), com uma notável gag narrativa que se apresenta no início e é utilizada pelo texto para fechar com chave de ouro o episódio, compensando, inclusive, a pequena queda de qualidade que a trama encontra no penúltimo bloco. Diferente do livro, Hastings aqui não está casado e tampouco vive num rancho na Argentina. Aqui ele esteve apenas “fora por um tempo”, ao que parece, de férias e caçando na Venezuela. O presente que traz para Poirot (um jacaré empalhado, de porte pequeno) é o verdadeiro motivo para o ponto cômico de destaque no episódio, e tem o seu ciclo muito bem fechado.

No que concerne à trama, percebemos que não há muita diferença na dinâmica que esta série adota para adaptar os livros de Christie, ou seja, apesar das viagens e dos assassinatos em diferentes lugares, exigindo grande movimentação por parte dos protagonistas, a direção foca de maneira intensa nas tomadas internas, além de dar maior importância a todas as ações em ambientes fechados, onde reuniões de grupos ou conversas entre alguns poucos personagens acontecem. Essa identidade mais… “fechada” ajuda a tornar o processo investigativo de Poirot mais interessante, mesmo numa história em que ele passa boa parte do tempo às cegas, procurando por um caminho certo para seguir.

A colocação de Alexander Bonaparte Cust na história, infelizmente, não tem o mesmo sucesso. No livro, ele é um verdadeiro enigma, mas está lá o tempo todo, ganhando espaço à medida que a obra vai avançando. Aqui, o personagem só recebe uma verdadeira abordagem e contexto na reta final do episódio, e sua presença só não perde muito por conta da excelente atuação de Donald Sumpter, que no final recebe o mesmo tratamento empático que vemos no original, com Poirot tentando trazer um pouquinho de felicidade para o pobre infeliz que tanto sofreu na vida e que quase foi à forca por um crime que não cometeu.

O cenário para o serial killer recebe uma série de distrações e confirmações, embora este seja um jogo que só vai mesmo aproveitar o espectador que já tenha lido a obra. Cenas dos filmes O Mistério do Número 17 (1932) e Crime ao Luar (1939); uma corrida de cavalos onde parte da revelação vem a Poirot e a insistência do detetive em perseguir a motivação primária, sem se dar por convencido mesmo quando o caso estava dado como “encerrado”, são coisas que recebem sugestões demais na adaptação e seu verdadeiro significado acaba funcionando melhor para quem conhece previamente o resultado final da investigação.

No bloco onde as revelações começam a acontecer, vemos uma estranha condensação de acontecimentos e uma certa correria em processos que mereceriam mais tempo do texto, pelo menos alguns diálogos que servissem de ponte entre um momento e outro. No encerramento, porém, esse desvio é compensado pelo fim do ciclo humorístico e pela já citada expressão de empatia de Poirot para com o Sr. Cust, terminando esta leitura de Os Crimes ABC com um bem-vindo toque de amizade, mostrando que nem só de maus caráteres vive o mundo.

The ABC Murders (Agatha Christie’s Poirot 4X01) — Reino Unido, 5 de janeiro de 1992
Direção: Andrew Grieve
Roteiro: Clive Exton
Elenco: David Suchet, Hugh Fraser, Philip Jackson, Donald Sumpter, Donald Douglas, Nicholas Farrell, Pippa Guard, Cathryn Bradshaw, Nina Marc, David McAlister, Vivienne Burgess, Ann Windsor, Michael Mellinger, Miranda Forbes, Peter Penry-Jones, Lucinda Curtis, Jeremy Hawk
Duração: 103 min.

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