Home TVTemporadas Crítica | Os 13 Fantasmas de Scooby-Doo – A Série Completa

Crítica | Os 13 Fantasmas de Scooby-Doo – A Série Completa

por Iann Jeliel
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Os 13 Fantasmas de Scooby-Doo

“Só vocês poderão fazer os demônios voltarem à arca…” – Vincent Van Doido

Os 13 Fantasmas de Scooby-Doo “E por que nós?” – Salsicha

“Porque vocês os libertaram!” – Vicent Van Doido

  • Leia, aqui, as críticas de todo nosso material de Scooby-Doo.

Os rumos tomados pelo desenho a partir da criação de Scooby-Loo o tornaram mais infantil e pode-se dizer aleatório, sem uma essência própria e por vezes algo distante da fórmula tradicional que conquistou a todos com resoluções de mistérios por uma mesma turminha de adolescentes enxeridos. Com a adição de Daphne à sequência de curtas em Os Novos Mistérios de Scooby-Doo, essa nova dinâmica ganhou ideias mais coerentes com a proposta geral do universo e a expandiu para novos horizontes, com princípios de série sequencial e a aceitação palpável e não completamente ameaçadora do sobrenatural. Agora, em Os 13 Fantasmas de Scooby-Doo, essas ideias ainda meio soltas e experimentais ganhariam uma forma consciente, num formato que agregava à essência do original no sentido de caçar monstros e resolver mistérios, mas por cima tentaria criar uma nova com a formação de uma turma condizente com a proposta infantil, colocando o sobrenatural em pauta principal como algo natural dentro do universo e que devia ser detido através do seguimento de algumas regras.

Fale o que quiser da série, mas ela é bem decidida sobre o que quer e estabelece rapidamente todos os seus princípios de maneira bem interessante. O piloto, em especial, sugere o propósito da proposta mitológica com sabedoria, que em base acredita na quebra do ceticismo para libertar o desenho para um imaginário mais amplo, ingênuo, e conforme essa ingenuidade, seus pilares amadurecem e ganham uma personalidade mais marcante. Daphne deixa de ser uma mistura de Fred e Velma, sua liderança adquire um caráter mais familiar e sua inteligência passa a se pautar muito mais numa ambiguidade e sabedoria de improviso em situações de problema. Salsicha assume o estereótipo de hipster ao mesmo tempo em que o leva de forma tão natural que parece amadurecer o personagem, o fato de ser “esquisito”, magrelo e comilão não o impede de ter bravura, segurança e dotes maleáveis de resolução de problemas.

Scooby-Loo finalmente é posto como coadjuvante, e apenas isso, um escanteamento estratégico e bem feito, que não o deixa chato tampouco inútil na trama ou peça reconhecível da equipe. Scooby-Doo é o único que não muda tanto, pelo contrário, o heroísmo improvável só é mais valorizado, pois dentro de uma série com planejamento, o reconhecimento de suas atitudes reforça ainda mais o símbolo por trás do personagem. Além dos quatro, existe a adição de um novo personagem, o questionado Flim-Flam como, aí sim, um acréscimo funcional e diferenciador da fórmula clássica (papel que o Scooby-Loo exercia inicialmente e não tinha funcionado). Pensando nos figurinos e estética assumidamente oitentista e aberta, Flim-Flam representa o direcionamento do público em sua mentalidade à época, quando as crianças começavam a se tornar mais exigentes, malandras, além de ser um acréscimo representativamente bem-vindo de personagens orientais ou de pele escura (ou quase isso) sem carregar estereotipações ou participação terciária.

Portanto, essas ousadias nos personagens conseguiram o objetivo de captar uma nova essência à dinâmica do grupo sem desvirtuar a anterior. Infelizmente, o que tange ao lado sobrenatural não foi tão bem-sucedido. Em alguns pontos sim, Vincent Van Doido (como era chamado aqui no Brasil, maravilhosa tradução) era um ótimo personagem, guia peculiar dos ensinamentos das regras místicas do universo, mas a elipse entre cada uma delas criava uma sensação de ele ser um mero resolvedor de problemas quando a conveniência pedia – e no caso sempre pedia. O timing de cada nova regra surgia sempre no momento oportuno para a solução de lidar com cada fantasma, o que tirava um pouco da urgência do enfrentamento aos monstros, que não chegavam a ser tão criativos também. Há alguns interessantes, como aquele do espelho ou aquela que os fazia viajar para o mundo de um filme derivado de Frankenstein.

Aliás, os episódios mais interessantes eram aqueles que levavam os personagens a um mundo abstrato dominado pelos monstros – há um outro que se passa dentro de uma revista em quadrinhos que é bem legal. O grande pecado dos treze fantasmas não era só o fato de seus planos sempre serem genéricos, ou as soluções para os derrotarem pouco criativas e criadas na conveniência. Acho que a grande questão é pensar na proposta de sequenciamento que teoricamente deveria criar uma crescente do primeiro até o último, mas na prática não funciona desse jeito. Sem a perspectiva de sucessão de desafios, fica a impressão episódica da mesma forma, o que acaba sendo também prejudicial para expandir o universo em continuidade. Talvez, a série visasse isso propositadamente, considerando que teria continuidade certa. Como não teve, o 13° fantasma nunca veio a ser capturado (pelo menos não em séries).

Supondo que o plano era iniciar a próxima temporada dando tudo errado com ele, a mitologia a partir disso provavelmente seria melhor explorada, mas esse é um chute totalmente aleatório da minha parte, porque o último episódio é completamente em aberto, não fecha arcos nem dá ganchos, ele acaba como “mais um” fantasma capturado – o penúltimo – e é isso aí. Portanto, reforço que a problemática de Os 13 Fantasmas de Scooby-Doo está muito mais num mau planejamento e má execução dos pontos de mitologia do que numa teórica perda de essência dos personagens, tanto que minha memória guardava com carinho essa fase, porque para a criança a turma sempre foi e sempre deve ser o elemento mais interessante de um desenho.

A transferência de cenário foi válida, o ceticismo não negou o sobrenatural e vice-versa, a ideia de nova essência teve as ferramentas para dar certo, só não tinha o conhecimento suficiente de como colocá-las direito na mesa – algo que mais tarde Mistério S.A teve. E claro, faltou uma história melhor para consolidá-la no tempo.

Os 13 Fantasmas de Scooby-Doo (The 13 Ghosts of Scooby-Doo! | EUA, 1985)
Showrunner: Tom Ruegger (Baseado na criação de Joe Ruby e Ken Speaks)
Principais Diretores: Alan Zaslove, Arthur Davis, Don Lusk, Oscar Dufau, Rudy Zamora, Tony Love
Principais Roteiristas: Gordon Bressack, Cynthia Friedlo, Charles M. Howell, Tom Ruegger, John Semper, Misty Stewart
Elenco (Dublagem Original): Don Messick, Casey Kasem, Heather Norte, Susan Blu, Vincent Price, Howard Morris, Arte Johnson
Elenco (Dublagem Brasileira): Orlando Drummond, Cleonir dos Santos, Orlando Prado, Mônica Rossi, Edna Mayo, Marcos Miranda, Ionei Silva, Andre Luiz Chapéu (Estúdio de Dublagem: Hebert Richards)
Duração: 13 episódios – 23 minutos cada episódio

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