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Crítica | Orphan Black: O Clube dos Clones

por Ritter Fan
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estrelas 2,5

Logo antes do começo da terceira temporada de Orphan Black, a IDW Publishing iniciou a publicação de uma minissérie em cinco edições focada em cada uma das principais clones, nessa ordem: Sarah Manning, Helena, Alison Hendrix, Cosima Niehaus e Rachel Manning. Apesar de ser uma minissérie, cada edição é de certa forma auto-contida, focada em uma personagem apenas, com roteiros dos showrunners da série auxiliados por Jody Houser.

Em princípio, o propósito da minissérie seria aprofundar em alguns detalhes do passado de cada uma das clones ao mesmo tempo permitindo que leitores que nunca tivesse visto a série pudessem embarcar na HQ, talvez levando-os para a série de TV. E o problema está justamente nessa natureza híbrida desse trabalho que é amplificado pela compartimentalização das histórias em cima de cada personagem.

Digo problema pois, para quem acompanha a série, o interessante é conhecer detalhes não vistos ou às vezes apenas discutidos nos episódios. Saber quem era Sarah Manning antes de testemunhar o suicídio de Beth Childs ou aprender detalhes sobre o treinamento brutal de Helena seria uma mina de ouro para os fãs. Mas essas questões simplesmente seriam herméticas demais se fossem abordadas diretamente dessa forma, impedindo que leitores que nunca viram a série apreciassem o trabalho. E, com isso, um estranho híbrido foi criado.

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Em cada número – ainda que com variações de peso – o presente que vemos em diferentes momentos das duas temporadas então completas da série de TV reina, retirando espaço dos flashbacks para o passado. Essa questão é particularmente visível na primeira edição, dedicada a Sarah Manning. Pouco aprendemos sobre ela que já não tivesse sido mostrado na série. Por outro lado, ainda que seja difícil este crítico colocar-se nos sapatos de quem ainda não assistiu e pegou a HQ para ler, desconfio que a história é “jogada” demais para alguém não familiar com a série entenda os quadrinhos.

E, para os não iniciados, isso piora com a segunda edição, focada em Helena. Nela, vemos um pouco mais do passado da perturbada clone albina, mas pouco demais para justificar o investimento. Mas isso, provavelmente, impediu que quem não viu a série pudesse fazer as conexões para formar uma história coerente.

No entanto, a narrativa melhora bastante a partir do terceiro número, focado em Alison Hendrix e seu marido Donnie, pulando para o começo do relacionamento dos dois, ainda na escola e também para um presente que antecede ao da série, com ele tendo problemas maritais e tentando resolvê-los em um retiro para casais. É interessante ver a complexidade de Alison sendo tão bem refletida nos quadrinhos – seu alcoolismo, sua desconfiança, sua tentativa de ser a mulher perfeita – com pitadas de algo que nunca vimos, como seus pais, o porquê de Donnie ter adotado seu sobrenome e não o contrário e o germe da ideia da adoção de seus filhos.

Na edição #4, o objeto de estudo é Cosima Niehaus, com a narrativa tornando-se ainda mais fluida e mais equilibrada, sem tantos saltos temporais. É interessante ver a personagem depois do fim de seu último relacionamento (que era uma monitora) e a Dyad colocando outra monitora no lugar: a Dra. Delphine Cormier. É um momento que logo antecede o que conhecemos de Cosima, mas pelo menos há algo realmente interessante e constante para ser apreciado.

Finalmente, na última edição, o foco é na clone vilã Rachel Duncan em uma narrativa linear, mas que começa em sua infância, ainda com seus pais adotivos trabalhando para o Dr. Leekie. Vemos, ainda em tenra idade, o nascedouro da mulher fria que seria Rachel, além de descobrirmos que ela conheceu Mika (ou Veera Suominen) também quando criança. Sem dúvida este é o melhor número da minissérie, pois demonstra ter um objetivo claro, que é o de construir o lado vilanesco da personagem ao longo dos anos, culminando na Operação Helsinki de extermínio de clones que é o objeto da segunda minissérie em quadrinhos.

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A arte varia muito entre as duas primeiras edições e as demais. O traço de Szymon Kudranski nos números 1 e 2 são crus, básicos, quase inacabados em um estilo que não aprecio particularmente. A partir da terceira edição, Alan Quah e Cat Staggs assumem, com Staggs sendo substituído na quinta por Wayne Nichols. O estilo artísticos muda radicalmente, com uma arte mais sólida, mais completa, ainda que uma qualidade etérea se mantenha. Como não há quase ação, o cuidado com detalhes acaba sendo mais importante, além da inserção dos balões de fala, que são muitos e bem constantes. Mas os artistas em geral, especialmente a dupla Quah/Staggs, conseguem mitigar o potencial problema com o auxílio de um bom trabalho de cores inicialmente de Mat Lopes e, depois, de Chris Fenoglio.

No final das contas, O Clube dos Clones é uma minissérie que não consegue, no geral, oferecer muito sobre o passado das personagens (a exceção mesmo é Rachel) para quem conhece a série e também, desconfio, não consegue ser suficientemente explícita sobre sua história para quem não acompanha a série. Ou seja, o resultado é estranho, hesitante e descompassado, querendo ser duas coisas razoavelmente opostas ao mesmo tempo e não conseguindo funcionar bem nem de um lado, nem de outro.

Orphan Black: O Clube dos Clones (Orphan Black: The Clone Club, EUA – 2015)
Roteiro: Graeme Manson, John Fawcett, Jody Houser
Arte: Szymon Kudranski (#1 e #2), Alan Quah (#3 a #5), Cat Staggs (#3 e #4), Wayne Nichols (#5)
Cores: Mat Lopes (#1 e #2), Chris Fenoglio (#3 a #5)
Letras: Neil Uyetake (#1 a #5), Eelco Koper (#3 e #4)
Editora: IDW Publishing
Data de publicação: fevereiro a junho de 2015
Páginas: 129

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