Já renovada para sua terceira temporada, From é um exemplo de série que detém um hype que rapidamente a posiciona como um programa que vale a pena ser conferido. Esse hype surge mais por elementos externos do que pelas características que a compõem, e o fato de ter um mistério comparado com Lost, impõe uma percepção, além das expectativas, de como o show deve ser encarado. Sendo uma mistura da criação de Damon Lindelof com o terror metafórico de Stephen King, From fazia das possibilidades do terror o melhor recurso para conduzir essa história que estava se definindo, ao menos no seu ano de estreia. Under the Dome, Manifest, La Brea, são atrações que seguem uma estrutura semelhante a Origem, de um mistério muito maior sendo desvendado, porém, sem o estranho misticismo que a torna intrigante.
Tendo essa comparação autoimposta – não como uma série com o mesmo nível de qualidade e que estivesse redefinindo os tropos narrativos – o criador John Griffin tinha a atenção necessária para sair da sombra dos paralelos e fazer From andar com as próprias pernas, porém, o que sobra aqui, é o marasmo entre promessas e expectativas. Ao contrário de expandir o lore, a segunda temporada parecia ensaiar formas de melhorar o ano anterior intensificando o que não deu certo. A exemplo do uso de personagens que, exceto o leque principal de seis a sete cabeças, a condenada cidade colecionava uma enorme quantidade de coadjuvantes que não movimentavam a ação do mistério. Para solucionar isso, entraram mais vinte personagens integrando a população da cidade sem saída a fim de mostrar como todas essas pessoas são afetadas de maneiras diferentes pelo local.
Na teoria, é um caminho interessante para ser trabalhado e Griffin, então, trocou as doses de terror por momentos mais dramáticos, de insanidade, existencialismo, culpa, remorsos e vícios sendo refletidos nos personagens. Contudo, essa abordagem termina nunca encontrando um equilíbrio, uma forma de se mostrar narrativamente eficiente. É como reconhecer as intenções mas nunca sentir o peso disso, afastando a série de ser minimamente interessante para acompanharmos um looping de conversas e reflexões distribuídos em dinâmicas de duplas com os personagens. Por sorte, From ainda possuía a relevância de bons personagens, o que é fortemente ancorado na figura de Boyd e na intensa performance de Harold Perrineau se torna um lembrete do que porque ainda continuamos com a série: ele faz acreditar que há um mistério a ser respondido.
Pegando os acontecimentos finais da primeira temporada – o desabamento da casa de Jim, Tabitha e Victor em cavernas, o afastamento entre Boyd e Sara e a chegada de um ônibus – havia peças o suficiente para inserir uma estrutura em que a mitologia da série tivesse mais foco, mas quando os arcos são retomados, há um imediatismo para solucionar esse cliffhanger e deixar a trama no mesmo lugar que estava: sem sentido e sem respostas. Em panorama, não resta urgência para a situação que os personagens estão sofrendo, apenas sequências intermináveis de diálogos e repetições dando voltas – o que é irônico quando esse é o ciclo que rege a cidade.
Ao menos, antes era possível traçar alguma metáfora sobre um limbo em que os personagens estivessem experimentando o próprio pesadelo, uma condenação ou espécie de lei do retorno – a exemplo da pulseira de Tabitha aparecer na cidade, ou a noiva de Kristy – agora, em seu segundo ano, Origem não evolui, e sim, se contenta em criar um eco de simbolismos e questionamentos que não soam consistentes, ou nem mesmo fazerem parte de algum planejamento. A cabo, essa temporada é como um filler sendo arrastado enquanto John Griffin tenta descobrir o que fazer com a bagunça que criou. Os paradoxos, as bizarrices, a atmosfera densa que ainda fazia a série ser atraente foi jogada em um canto menos interessante.
Bem como seus cartazes, From não parece querer ir além da comparação “a nova série dos criadores de Lost”, uma vez que todas as dúvidas caem em caminhos semelhantes: uma cidade monitorada como parte de um experimento? E por mais que os elementos fantasiosos e sobrenaturais digam o contrário, por fim, todo o mistério pode ser criação de um trauma existencial que atraiu pessoas feridas de maneiras diferentes em um limbo formado por seu autor, Victor, o único que está a tanto tempo na cidade, sofreu uma grande tragédia e não teve outra alternativa naquele lugar esquecido a não ser reprimir a dor da perda e culpa com a imaginação. “E se tivéssemos uma série como Lost, com menos filosofia, fé e ficção científica, mas com elementos distintos de vários gêneros que a tornasse um mistério, seria original?”.
Origem – 2ª Temporada (From – EUA, 2023)
Criação: John Griffin
Direção: Jack Render, Brad Turner, Alexandra La Roche
Roteiro: Jeff Pinkner, Vivian Lee
Elenco: Harold Perrineau, Catalina Sandino Moreno, Eion Bailey, Elizabeth Saunders, Ricky He, Scott McCord, David Alpay, Chloe Van Landschoot, Simon Webster, Avery Konrad, Hannah Cheramy, Corteon Moore, Pegah Ghafoori, Elizabeth Moy, Kaelem Ohm, A.J. Simmons
Duração: 10 episódios (45 a 53 min, cada)