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Crítica | Operações Especiais

por Fernando Campos
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Nos últimos anos, a violência no Rio de Janeiro tem sido um tema recorrente em vários documentários e filmes do país, vide o enorme sucesso de Tropa de Elite e Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora É Outro. Diante disso, o cineasta Tomás Portella, responsável pelo fraco Qualquer Gato Vira Lata, decidiu explorar também o tema. Dono de uma filmografia ainda bastante instável, essa era a chance do jovem diretor alçar novos voos em sua carreira. Será que ele conseguiu?

O longa conta a história de Francis (Cléo Pires), formada em turismo, que se anima com a possibilidade de entrar para a polícia civil. Ela presta o concurso e, após ser aprovada, passa a frequentar o curso de habilitação para policial. Depois disso, ela é enviada a unidade liderada pelo incorruptível delegado Paulo Froes (Marcos Caruso), que busca limpar a cidade de São Judas do Livramento. No batalhão ela precisa lidar com a desconfiança dos demais policiais e também com as dificuldades da profissão, dos perigos inerentes ao ofício até a corrupção existente ao seu redor.

O roteiro demonstra uma clara intenção em abordar assuntos atuais, utilizando, por exemplo, as motivações da protagonista para falar sobre feminismo, como na cena onde Francis decide entrar para a polícia após presenciar uma delegada dar uma dura em seu ex-namorado por sugerir que as mulheres são todas desequilibradas. Aliás, a busca da mulher por igualdade é ainda mais aprofundado quando a protagonista ingressa na polícia, deparando-se com um ambiente totalmente machista, escutando frases como “mulher tem medo de barata, não vai ter medo de tiro” ou “lugar de mulher é no fogão”. Quando a personagem está exercendo seu ofício, até mesmo os criminosos mostram-se preconceituosos, uma vez que, dizem que só obedecerão a policiais homens, como na cena onde ela pede os documentos de um motorista pirata e ele entrega para outro policial, deixando claro como o desrespeito com a mulher está arraigado por toda a sociedade.

O diretor Tomás Portella é habilidoso em acentuar essa opressão principalmente nas cenas onde Francis está na viatura junto de seus colegas, filmando-a com planos fechados e posicionando os personagens na composição para que a sufoquem, mostrando como ela não se sente confortável naquela situação. Além disso, a fotografia recorre a vários travellings frontais e traseiros como se estivessem convidando o público para acompanhar a jornada da protagonista. Outra estratégia bem utilizada ocorre nos momentos das operações, repare como na primeira missão a protagonista é mostrada em close-ups, contrastando com os planos mais abertos das ações policiais futuras, destacando como a policial se sente cada vez mais à vontade na profissão.

Essas mudanças que Francis passa durante a história são muito bem representadas por Cléo Pires, construindo uma personagem que transmite sua incomodação com o desrespeito que passa e como ela utiliza isso como combustível para se superar, além de convencer muito bem como policial frágil no início para se tornar durona no fim. Mas seus colegas também entregam boas atuações, com Marcos Caruso sempre muito carismático, mas dessa vez mais sério em suas ações como Delegado Fróes, enquanto Thiago Martins personifica muito bem um policial que é machista apenas para se assegurar e Fabrício Boliveira transforma Décio em um personagem claramente honesto, justo e que serve como um porto seguro para a protagonista.

Apesar da eficácia dos roteiristas em abordar assuntos do cotidiano, o mesmo não pode ser dito sobre o desenvolvimento da trama, que ignora vários pontos apresentados no início e parece ter pressa em estabelecer todos os seus pilares. Um exemplo disso é a forma como a relação da protagonista com sua mãe é mostrada, uma vez que, a matriarca não aprova que a filha entre na polícia no início, porém o roteiro simplesmente ignora a existência dela, voltando a mostrá-la apenas no fim e somente durante alguns segundos, dando a impressão que a presença dela na trama existe apenas para dizer que Francis tem família, ou seja, uma tentativa frustrada e desnecessária de humanizá-la.

Pior que os desenvolvimentos ruins, é a maneira como o relacionamento entre Francis e Décio é explorado, sendo desenvolvido de forma apressada, rasa e que parece estar ali apenas para que a história tenha algum casal (como se isso fosse necessário). Por fim, o grande problema do roteiro está sobre o personagem Toscano, apresentando-o como uma espécie de vilão, mas que nunca se mostra presente, aliás, sua primeira aparição ocorre aos 52 minutos, deixando a trama carente de um antagonista à altura de seus protagonistas.

Inicialmente promissor, Operações Especiais escorrega por obter uma trama falha, apressada e que explora muito mal o relacionamento de alguns personagens, além de ter um vilão inoperante. Contudo, o arco de Francis, conquistando o respeito de todos dentro da polícia, e a forma como o roteiro aborda a liberdade feminina faz com que o filme tenha uma protagonista forte e uma mensagem importante a ser dita, resultando em uma obra que entretêm, mas não impede que seja completamente esquecível.

Operações Especiais – Brasil, 2015
Diretor: Tomás Portella
Roteiro: Mauro Lima, Tomás Portella, Martina Rupp
Elenco: Cléo Pires, Fabrício Boliveira, Marcos Caruso, Thiago Martins, Fabíula Nascimento, Fábio Lago, Antonio Tabet, Augusto Madeira, Olivia Araújo, Adriano Saboia, Jonathan Azevedo
Duração: 99 min

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