Home QuadrinhosMangá Crítica | One-Punch Man – Vol.1: Um Soco

Crítica | One-Punch Man – Vol.1: Um Soco

por Luiz Santiago
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Em 2009, um artista japonês de pseudônimo ONE começou a publicar um webmangá que logo se tornaria uma febre de acessos e uma das mais comentadas “novas webseries”, parodiando mangás shounens (aqueles direcionados ao público masculino de faixa etária que vai de 8 a 18, em média, pelo menos) e trazendo a história de Saitama, o herói mais poderoso do mundo — assim disseram — que vive na fictícia Z-City, no Japão.

Em 2012, Yusuke Murata entrou em contato com ONE e propôs [re]desenhar a série caso ele aceitasse publicá-la em volumes. O texto, claro, ficaria a cargo de ONE e a arte de Murata tomaria como princípio o original, mudando apenas alguns elementos espaciais, algumas sequências de luta e as características físicas dos personagens. A proposta foi aceita e One-Punch Man chegou às bancas japonesas em dezembro de 2012, abrindo as portas para a publicação da saga em diversos outros lugares do mundo, chegando ao Brasil pela primeira vez em março de 2016.

Acima, a arte de ONE, na web. Abaixo, a versão de Murata para as mesmas sequências. Vejam como o Piccolo maromba ficou mais interessante na versão impressa.

 

Acima, a arte de ONE, na web. Abaixo, a versão de Murata para as mesmas sequências. Vejam como o Piccolo maromba ficou mais interessante na versão impressa.

A primeira impressão que o leitor tem ao se deparar com os primeiros capítulos é de que ele está mesmo lendo uma adaptação bastante fiel ao estilo curto e meio nonsense de algumas webcomics. Uma pergunta inicial também surge: se estava passando o personagem para uma outra mídia, por que não aumentar a base narrativa e tornar a sequência de eventos mais palatável, orgânica e contando uma história a que o leitor pudesse encontrar um fio da meada e se segurar? Por que não deixar o público curtir mais os vilões — e eles são tão legais, toscos, bizarros e, por isso mesmo, hilários! — ao invés de exterminá-los com um único soco, pouco tempo depois que aparecem? Por que não aproveitar melhor a Hero Association, os Mysterious Beings e suas motivações e até mesmo o ciborgue Genos, que é interessantíssimo e poderia ter uma participação bem mais coerente em Z-City?

De forma sistemática, as histórias se encerram em um único dia e em pequenos blocos de acontecimento. Não há um arco firme ou uma linha de história para ser trabalhada, explorada, nutrida. Não há exploração satisfatória do personagem principal em nenhum ponto dos oito capítulos e, quando isso ensaia aparecer em 200 Yen, o extra final (ou capítulo 8.5), o roteirista apresenta um enredo truncado, confuso e com uma finalização que não quer dizer nada com nada. Tudo bem que a proposta do autor é de parodiar, ironizar e até ridicularizar um determinado gênero de mangás e os n-clichês que existem nessa mídia, mas é possível fazer isso contanto uma história de verdade, não apenas espalhando pequenas crônicas de impossibilidades e monstros bacanas ao longo das páginas.

Explicação de poder no melhor estilo: "cale-se e aceite.". Então tá, né.

Explicação de poder no melhor estilo: “cale-se e aceite.“. Então tá, né.

Mas enquanto o roteiro perde o passo do meio para o final do volume (não deixa totalmente de divertir, mas tem muitos incômodos entre um riso e outro, além de falta de história), a arte de Yusuke Murata só cresce e se mostra como a melhor coisa, disparada, de todo o mangá. Exposição de movimentos; modelo e evolução de todos os monstros bizarros que aparecem sem nenhum aviso nas cidades desse Japão fictício; dinâmica ampla e criativa de lutas; mostra de espaços urbanos com diferentes arquiteturas e em lugares diferentes do país… Tudo isso nos deixa extremamente apegados aos desenhos, que possuem um papel muito mais importante que o texto, seja em qualidade, seja em representação dramática ou narrativa para toda a história.

No todo, One-Punch Man Vol.1: Um Soco é uma leitura válida e, bem ou mal, interessante. Nós rimos da indiferença do herói diante de seus inimigos — há até uma linha de questionamentos que dá conta de seu desalento interno. Ele se pergunta o seguinte: uma vez que lhe é possível vencer tudo e todos rapidamente, então… o que de desafiador e relevante pode vir daí? E isto é exatamente o que eu penso. –, ficamos na expectativa de um novo monstro bizarro aparecer e esperamos ansiosamente que uma trama mais substancial venha das boas criações mostradas em Z-City.

Este primeiro volume cumpre, mesmo tropeçando, o papel de apresentar Saitama e seu universo para o grande público. Só resta ao leitor esperar que essas mini-crônicas sejam algo exclusivamente do começo da saga e que tenhamos volumes com mais tutano daqui para frente. Potencial, o título tem de sobra.

One-Punch Man Vol.1: Um Soco (Japão, 2009 / 2012)
No Brasil: Panini, Março de 2016
Roteiro: ONE
Arte: Yusuke Murata
208 páginas

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