Com um atraso de mais de dois anos, no estilo timeskip para os entendedores, estou retornando às críticas do mangá de One Piece com o lançamento do live-action batendo na porta. Curiosamente, retorno logo em Loguetown, o arco que finaliza a Saga East Blue e abre alas para o início da jornada do bando na Grand Line. Acompanhando nossos personagens depois dos eventos de Arlong Park, agora com o grupo completamente unido e confiante em Luffy, os piratas chegam na “cidade do começo e do fim”, chamada assim porque é a última ilha antes da Grand Line e é justamente o local onde Gold Roger foi executado, dando início à Era dos Piratas.
Por conta disso, temos um arco que contextualiza bastante o passado para preparar a aventura que o grupo está iniciando. Vemos isso de modo especial com Roger, o peso de seu discurso e a atração quase turística que é a praça da execução, mas também no bloco de Zoro, que encontra uma espadachim que lembra sua amiga morta e algumas katanas misteriosas. Os dois personagens ganham destaque no arco, mas todo o bando está se preparando para o início da jornada, enquanto Oda prepara a narrativa para um salto fantástico ao construir um ar místico e lendário em Loguetown.
Dessa forma, o que vemos é efetivamente uma narrativa de transição, mais um “entre arcos” do que realmente uma história propriamente dita, o que acaba limitando a qualidade dos apenas cinco capítulos curtos que compõem a trama. No esquema geral, porém, é uma história que serve muito bem à saga, tanto como ponto final do que vimos em East Blue, incluindo o retorno dos antagonistas Buggy e Alvida, quanto como ponto de entrada do que viríamos a ver, com a introdução de Smoker, marinheiro carrasco do bando, e as diversas insinuações e pistas de elementos de mitologia que seriam desenvolvidos posteriormente.
No entanto, mesmo sendo uma história de transição, é particularmente notável a quantidade de cenas memoráveis em Loguetown, como Zoro desafiando uma espada amaldiçoada e Luffy rindo na cara da morte quando Buggy e Alvida quase o executam. São dois momentos que representam muito bem as personalidades dos personagens e que servem à atmosfera alegórica de Loguetown e suas metáforas sobre destino. Mesmo presente em apenas cinco capítulos, Oda consegue solidificar a ilha como um local especial, principalmente em relação ao desenvolvimento de Zoro.
Sanji, Usopp e Nami ganham menos holofotes, mas existem momentos divertidos entre eles, num arco que aproveita da descontração para mostrar algumas dinâmicas cômicas entre os personagens, com destaque para a cena do empréstimo de Nami para Zoro. O pouco tempo de tela dos três serve para Oda introduzir outros personagens recorrentes na série, com a qualidade de distinção que o autor tem para criar figuras inesquecíveis, incluindo o salvador de Luffy que aparece como um encontro do destino. Aliás, como sempre, o mangaká destila diversos enigmas que instigam a curiosidade do público para entender o que tão de incrível e perigoso existe na famosa Grand Line que Shanks sempre chamou o protagonista para desbravar.
Mesmo sendo um “entre arcos”, Loguetown é uma história de transição com suas próprias particularidades importantes e momentos memoráveis na saga de One Piece. Se a cidade um dia foi o ponto de ruptura entre duas eras diferentes deste universo, ela também serve como finalização do que vimos em East Blue com a junção do bando e pontapé para uma nova aventura, repetindo a história e indicando o destino de Luffy e companhia. Agora, nossos piratas são procurados e estão unidos em volta da promessa de atingirem seus sonhos, representado no momento que fazem o “juramento do barril”. Que venha a Grand Line!
One Piece – Vols. 11 e 12: Loguetown – Saga East Blue (One Piece – Vols. 11-12: Loguetown – East Blue Saga) – Japão, 2000
Contendo: Loguetown (#96 a 100)
Roteiro: Eiichiro Oda
Arte: Eiichiro Oda
Editora: Shueisha
Revista: Weekly Shōnen Jump
No Brasil: One Piece – Vols. 11 e 12
106 páginas