Número de Temporadas: 20
Número de episódios: 1066 e contando
Período de exibição: 20 de outubro de 1990 até os dias atuais
Há reboot?: Não, mas a série tem diversos filmes e telefilmes, assim como uma versão live-action que estreará na Netflix em agosto.
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Quem que é essa velha gorda?
– Monkey D. Luffy
Como expus em minha crítica de Romance Dawn e Orange Town, os dois primeiros arcos do mangá One Piece, tenho uma relação muito afetiva com o universo criado por Eiichiro Oda. O anime do homem-borracha foi meu primeiro contato com desenhos japoneses, quando ainda era garotinho, e desde então cresci assistindo a jornada de Luffy e companhia, nos últimos anos com preferência de acompanhar apenas o mangá. Com o lançamento do teaser para o live-action, me senti nostálgico e decidi retornar ao primeiro episódio do anime.
É um pouco difícil falar sobre o piloto de apenas 24 minutos sem se lembrar dos mais de 1000 episódios e capítulos da saga homérica que é One Piece, então é interessante ver como o anime era diferente neste início, muito mais infantil, simples e de certa forma charmoso sem a densidade e o escopo que a narrativa ganhou ao longo das décadas. Não estou dizendo que esse período é melhor ou pior, mas sim apenas diferente, apesar de conter muitas das características que se tornariam base da história.
Como é comum e de certa forma até genérico em inícios de animes/mangás, a ideia é estabelecer o mais rápido possível um protagonista carismático e uma construção de mundo curiosa para conquistar a audiência japonesa, mais especificamente seu público infanto-juvenil. Dessa forma, somos apresentados a um universo de piratas, com o piloto focando na introdução de Monkey D. Luffy (Mayumi Tanaka), um jovem cheio de energia que quer se tornar o Rei dos Piratas. Para isso, o roteiro cria uma situação simples do personagem, ao acaso, topando com uma tripulação pirata capitaneada pela Alvida, em que o protagonista conhece Coby, um garoto que tem sido mantido como refém dos bandidos e sonha em ser um marinheiro.
Depois de tantos anos, confesso que estou cansado do arquétipo de protagonista idiota e afável que começou com Goku e nunca mais parou de ser repetido no gênero, mas Luffy é um personagem genuinamente engraçado de assistir neste piloto. Sua estupidez e sinceridade rende boas piadas, como quando diz odiar Coby ou quando tira sarro da aparência de Alvida, sendo que sua risada é contagiante (como a Tanaka é uma ótima dubladora!). É tudo meio bobo, claro, mas faz parte de uma abordagem infantil que é charmosa de assistir.
Também gosto muito da abertura do episódio com o prólogo sobre Gold Roger e seu tesouro One Piece, que tem levado diversos piratas aos mares. É uma maneira inteligente e rápida de nos situar do sentimento de aventura e exploração que a série tem, o que, na minha opinião, é a melhor característica da obra de Oda. Por mais que o episódio seja limitado ao confronto com Alvida, por meio de pequenos diálogos e contextualizações, como as pistas sobre a Grand Line e as Frutas do Diabo, somos apresentados a um universo que claramente indica ser maior do que estamos vendo. Não é possível ter noção da dimensão que a jornada teria, tampouco do zelo de Oda com mitologia, mas o piloto atiça nossa curiosidade.
Obviamente que, como já disse, o piloto serve apenas para estabelecer o protagonista, então não há nada de exatamente especial no episódio, inclusive lembrando tantos outros inícios de shounens, mas é um começo mais charmoso do que me lembrava. Das piadas até o combate, o furacão descontrolado que é Luffy é muito cômico de ver, desde sua aparição de um barril até a sua absurda habilidade de esticar os braços, como um homem-borracha. As pequenas participações de Zoro e uma determinada gata ladra também indicam sobre o que seria o começo do seriado: Luffy buscando tripulantes para encontrar o One Piece.
Infelizmente, alguns cacoetes da série também aparecem aqui. Sutileza não é exatamente o forte de animes e Oda, em específico, é um autor que escreve diálogos demasiadamente expositivos, com os personagens verbalizando seus sonhos e conflitos a todo instante, muitas das vezes com monólogos cheios de emoções exageradas e mensagens pra lá de óbvias. Já vemos isso com Luffy e principalmente com Coby. Felizmente, a determinação de Luffy contém um certo charme infantil em seu absurdo inocente, o que torna seus discursos menos excessivos e até engraçados, além do episódio demonstrar uma das principais características do futuro capitão: a maneira como contagia àqueles a sua volta.
Enfim, o primeiro episódio de One Piece é muito simpático. Somos apresentados a um protagonista clichê e divertido, e a um universo curioso sobre piratas e poderes mitológicos. Com o pouco que vemos, também dá para notar os indícios do sentimento de aventura e exploração que é o verdadeiro coração da série. Mas, acima de tudo, o piloto é infantilmente charmoso de assistir, com uma animação simples e efetiva, apesar de ninguém que o assistiu pela primeira vez ter dimensão do que a saga se tornaria.
One Piece – 1X01: Eu sou Luffy! O Homem que vai ser o Rei dos Piratas! (Ore wa Rufi! Kaizoku Ō ni naru Otoko da!) – Japão, 20 de outubro de 1999
Direção: Kônosuke Uda
Roteiro: Junki Takegami (baseado no mangá homônimo de Eiichirô Oda)
Elenco: Mayumi Tanaka, Akemi Okamura, Mika Doi, Youko Matsuoka, Chikao Ôtsuka, Tomohisa Asô
Duração: 24 min.