Longe de ser uma obra-prima, Olhos de Vampa precisa ser contemplado e analisado dentro de seu contexto. É uma produção com toques da leveza e “descomprometimento” dramático da Pornochanchada e traços estéticos e contextuais do que se produziu na era da Boca do Lixo, isto é, um filme com elementos artísticos borrados pelas limitações dos tais períodos mencionados, referências estruturais para o seu desenvolvimento que mescla elementos cômicos com doses de filme de horror. Apesar do título, não se engane com a mitologia vampiresca, não inclusa na proposta: aqui, o vampiro anda na luz do dia, morde as suas vítimas pelas nádegas e deixa um pêssego na boca do cadáver, uma simbologia que a narrativa não se preocupa em explanar motivações para os seus espectadores. E, sinceramente, nem importa muito. O interessante aqui é observar o tom paródico adotado pelos realizadores, este sim, bastante funcional.
Se visto por outro viés, Olhos de Vampa é uma produção condenável, por isso, o espectador precisa comprar a ideia satírica para que o material funcione adequadamente. Sob a direção e roteiro de Walter Rogério, acompanhamos ao longo de seus breves 74 minutos, a história de uma série de crimes macabros que acontece diariamente em São Paulo, especificamente, no bairro de Pinheiros. Jovens mulheres são assassinadas num ritual bastante peculiar: o sangue é todo sugado, uma marca de mordida é deixada na nádega direita e encontradas com o pêssego na boca, tal como uma mordaça, as vítimas também são presas por fitas isolantes. Em sua abertura, num plano geral tradicional, podemos observar o espaço onde a primeira das mulheres é encontrada, figura deixada numa posição de zombaria, captada pelas lentes do fotógrafo Oscar (Marco Ricca), um homem que se envolverá com a instigante história e ajudará na investigação.
Leôncio (Washigton Luiz Gonzales) acha que o assassino pode ser um vampiro e a recepção de suas hipóteses é sempre recebida com escracho pelos demais personagens, em cenas que se torna quase impossível não cair no riso. Arthur (Antonio Abujamra), também uma figura de opinião no desenvolvimento da história, aconselha que ao encontrar uma “mulher com traseiro bonito”, as chances de encontrar o antagonista é grande. Em suma, como podemos observar nas breves descrições do texto, tudo é motivo de piada e ironia em Olhos de Vampa, uma narrativa bizarra, mas divertida, que ainda conta com a stripper Diva Botelho (Christiane Tricerri), personagem que pode ser a próxima vítima e ganha as afeições do fotógrafo interpretado por Marco Ricca, eixo da história que se perde constantemente, mas como já explanado, não importa, pois não é parte da proposta, seguir um ritmo dissociado do nonsense.
Lançado em 1996, numa época de tentativas múltiplas de renovação do cinema brasileiro, haja vista o estabelecimento da nossa Retomada, Olhos de Vampa prefere se manter conectado com os padrões do que era produzido anteriormente em nosso sistema. É um toque de passado numa era de pulsações diferentes. Numa análise diacrônica, o resultado é interessante, diferente do relacionamento com a narrativa numa perspectiva de entretenimento, algo que pode deixar frustrado aqueles que buscam uma genuína história de horror ou um filme mais coeso e dentro dos padrões dramáticos tradicionais. Produzido por Roberto D’avila, podemos destacar a direção de fotografia de Claudio Portioli como um bom segmento da narrativa, setor eficiente no estabelecimento imagético da proposta deste irreverente “clássico” do cinema brasileiro.
Olhos de Vampa — Brasil, 1996
Direção: Walter Rogério
Roteiro: Walter Rogério, Roberto d’Avila
Elenco: Antonio Abujamra, Mary Alexandre, Maura Baiocchi, Joel Barcellos, Júlio Calasso, José Rubens Chachá, Milhem Cortaz, Washington Luiz Gonzales, Vanessa Goulart, Marcelo Mansfield, Paula Melissa, Marco Ricca
Duração: 74 min.