- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.
Depois que o episódio anterior deixou evidente que a intenção da produção de Obi-Wan Kenobi era passear pelas duas primeiras trilogias em ordem cronológica, a minissérie ganhou um interessante contorno de homenagem que não necessariamente desculpa seus problemas, mas que empresta sim uma outra camada que faz seu personagem titular reviver tanto os caminhos pelos quais passou quando mais jovem quanto também os que seus protegidos passariam após sua morte. Uma escolha sem dúvida muito interessante que, não sei se por força do imbatível O Império Contra-Ataca, faz da Parte V a melhor até agora com a emulação de toda a sequência preambular em Hoth, com direito a um combate de sabres de luz – ou de Força vs. sabre de luz em grande parte – que serve para nos lembrar do combate em Bespin e, finalmente, com a revelação de que “há um outro” bem ao finalzinho, naquela misteriosa revelação de Yoda para o fantasma de Kenobi em Dagobah, além de outros paralelos.
No penúltimo episódio da minissérie, portanto, Obi-Wan Kenobi acerta seu passo, cria urgência, nos apresenta a uma reviravolta relacionada com a raivosa Reva Sevander e, de quebra, justifica a escalação do ainda fraco Hayden Christensen em flashbacks para um treinamento entre o “jovem” Anakin – que merecia ter ganhado uma maquiagem digital aqui à la Luke Skywalker em The Mandalorian e O Livro de Boba Fett, pois o ator está longe de ainda parecer um Padawan convincentemente… – e seu mestre Obi-Wan que, claro, paraleliza os acontecimentos no presente no planeta que serve de entreposto do Caminho. Claro que é um episódio que tem sua boa dose de problemas, como por exemplo tudo depender de uma menina de 10 anos que nunca particularmente mostrou aptidão para eletrônica para abrir a porta que permite a fuga da nave e o portão da base, que resiste bravamente a repetidos tiros de canhão, ser “cortada” com toda a facilidade do mundo pelo sabre de Reva, mas eu os reputo como aspectos menores de contexto muito mais interessante.
Afinal, Reva ser revelada como um dos jovens padawans massacrados por Lorde Vader quando ainda era todo humano não só explica ela ser uma das poucas a saber da identidade real do vilão, como também sua atitude constante de raiva incontida. Temos que considerar que ela passou a maior parte de sua vida treinando e servindo ao Império com o objetivo de matar o algoz da única família que conheceu, o que lhe dá outras camadas de compreensão e a torna uma personagem trágica em todos os sentidos e que é capaz, ainda, de utilizar o conhecimento adquirido pela comunicação de Bail Organa a Obi-Wan para alcançar seu objetivo por meio de linhas bem tortas. Sabe aqueles episódios que, de certa forma, corrige e melhora o que veio antes, pois a Parte V é um desses, ainda que, claro, não varra os problemas para debaixo do tapete como jamais esperaria que acontecesse.
E o melhor é que o drama de Reva resvala no próprio Obi-Wan que é acusado por ela por fugir esse tempo todo, por não ajudar seus irmãos e irmãs Jedi sendo caçados por toda a galáxia. Esse é, sem dúvida alguma, o aspecto mais instigante de toda a minissérie e que eu, pessoalmente, preferiria que tivesse sido seu foco constante, já que o mestre Jedi vive em uma sinuca de bico que pesa em seus ombros. Mesmo que ele queira – e ele obviamente quer e sempre quis – lutar pelos Jedi, sua função maior é proteger os filhos de Anakin Skywalker e isso é algo que ele não pode dividir com quase ninguém, o que para todos olhando de fora realmente parece um ato covarde de clausura voluntária que ele só quebrou justamente quando Leia foi ameaçada.
Com isso, o foco no lado psicológico do protagonista retorna com força total e, com esse espaço, Ewan McGregor tem novamente oportunidade de atuar de verdade, o que mais uma vez resulta em um Kenobi muito melhor do que aquela versão aguada de George Lucas na Trilogia Prelúdio. Ver Kenobi mais velho manobrar Reva antes e depois de entregar-se – em uma piscadela para O Retorno de Jedi também, claro -, e, em seguida, lutar por sua vida e a de outros contra o pelotão de incompetentes dos Stormtroopers (aliás, aqueles Stormtroopers pretos com detalhes em vermelho são o que, Death Troopers de elite?), com direito a um bom sacrifício de Tala e de seu calado, mas fiel androide, foram bons momentos do episódio que se relacionam com os melhores momentos espalhados ao longo da série até o episódio anterior.
E, claro, como era mais do que esperado, agora tudo aponta para o retorno do Jedi (he, he, he) à Tatooine onde ele terá que salvar Luke das garras de Reva(?) ou talvez até de Darth Vader, se a estrutura narrativa se mantiver constante. Resta saber que raça de seres diminutos (os Jawas?) fará as vezes dos valentes ursinhos espaciais da floresta de Endor e quem falará “it’s a trap!“, pois, sem esses paralelos, a série estará fadada ao fracasso!
Obs: Aos afobados que quase cometeram haraquiri com sabre de luz quando Reva “matou” o Grande Inquisidor, viu como tudo se resolveu? Agora vocês já podem parar de hiperventilar…
Obi-Wan Kenobi – Parte V (EUA, 15 de junho de 2022)
Direção: Deborah Chow
Roteiro: Joby Harold, Andrew Stanton, Hossein Amini (baseado em história de Stuart Beattie, Joby Harold, Andrew Stanton)
Elenco: Ewan McGregor, Vivien Lyra Blair, Moses Ingram, Hayden Christensen, James Earl Jones, Rupert Friend, Indira Varma, O’Shea Jackson Jr., Maya Erskine, Kumail Nanjiani
Duração: 42 min.