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Crítica | O VelociPastor

Dinossauros e ninjas. O que mais é necessário?

por Ritter Fan
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China is east.

Qualquer pessoa que minimamente se preze em termos de cinefilia não resistiria a um filme que conta a história de um padre que, depois de perder os pais, viajar para a China e ferir-se com um artefato misterioso, passa a ter o poder de se transformar em um dinossauro sanguinário. A premissa que, segundo o produtor, diretor, roteirista e montador Brendan Steere, veio quando o corretor de texto de seu celular trocou “velociraptor” por “velocipastor” – algo em que estou perfeitamente preparado para acreditar – é ouro puro e vale o ingresso simplesmente por Steere ter corrido atrás para materializar seu lampejo criativo, seja escrevendo um roteiro para fazer com que a palavra criada por seu telefone ganhasse sentido, seja efetivamente procurando investidores para colocar o filme na lata, conseguindo impressionantes 36 mil dólares.

Será que Steere poderia ser a versão moderna de nomes que começaram de forma semelhante, como Roger Corman, George A. Romero, Lam Nai-Choi, Sam Raimi, James Cameron e diversos outros? Óbvio que não tenho essa resposta e a única afirmação possível é dizer que o tempo dirá, mas, estabelecendo-se uma comparação justa, não seria absurdo dizer que os primeiros longas destes citados cineastas são marcadamente melhores do que O VelociPastor. E a razão é muito simples: de Corman a Cameron, todos eles mostraram, desde o início, domínio sobre a narrativa, pouco importando a qualidade geral da obra em si. Steere, por seu turno, não consegue fazer o mesmo.

A natureza trash de seu primeiro longa-metragem é evidente já a partir do título e isso, em meu caderno, é algo positivo e não negativo. Mas O Velocipastor parece justamente o que Steere diz que ele é, ou seja, um longa que nasceu como uma palavra inventada que precisou ganhar contexto do nada e é nisso que o cineasta falha de forma retumbante. Quando o longa acaba, a impressão que fica é que tudo não passou de um sonho – ou pesadelo – completamente fragmentado que parte da premissa que descrevi no primeiro parágrafo para se tornar um apanhado mal ajambrado de situações aleatórias, seja a inserção de flashbacks para o Vietnã em que vemos a “origem” do mentor do protagonista, seja o uso de um clã ninja cristão como entidade vilanesca principal ou até mesmo o relacionamento do padre com uma prostituta que mais parece uma ideia que veio de algo como “ei, seria radicalmente blasfemo se um padre transasse com uma prostituta, não?”.

Claro que há momentos impagáveis, como quando logo no início a morte dos pais do protagonista acontece com uma legenda que diz algo como “inserir efeitos especiais” ou quando ele, semi-transformado, usa “luvas” de dinossauro para arrancar as cabeças de suas vítimas. Nesses breves momentos, vê-se boas ideias determinadas pelo estilo guerrilha de filmagem, mas eles são poucos demais mesmo considerando-se a misericordiosamente curta duração da obra. O que falta, aqui, são os equivalentes aos toques de genialidade como Raimi e sua “câmera em primeira pessoa que personifica o demônio” ou Romero e seus “zumbis que não são mais do que maltrapilhos lerdos”. O VelociPastor é somente um título atrativo ganhando uma versão que inegavelmente diverte, mas que ao mesmo tempo decepciona por faltar um algo mais que poderia até mesmo ser uma chutação geral de balde como na franquia Sharknado.

Se eu assistiria um outro filme capitaneado por Steere? Com certeza. E assistiria torcendo para que ele acertasse de verdade o alvo e conseguisse colocar nas telonas ou telinhas algo que fosse mais do que uma premissa boa, só que mal executada, pois execução é tudo. A premissa é só mesmo um chamariz que precisa daquele algo mais para ela ser lembrada para além de um título absurdo.

O VelociPastor (The VelociPastor – EUA, 2018)
Direção: Brendan Steere
Roteiro: Brendan Steere
Elenco: Gregory James Cohan, Alyssa Kempinski, Daniel Steere, Aurelio Voltaire, Yang Jiechang, Jesse Turits, Fernando Pacheco de Castro, David Sokol, Kathleen Steere, Claire Hsu, Nicholas M. Garofolo, George Schewnzer, Zachary Steere, Erik Oh, Douglas Saint James, Alec Lambert, Janice Young, Pat Hroncich, Dan Rhoades, Kurt Voltmann, Ethan Ward
Duração: 75 min.

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