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Crítica | O Vampiro, de Vasile Alecsandri

Léxico gótico e atmosfera sombria dominam este poema sobre a mitologia vampírica.

por Leonardo Campos
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Ao longo da tradição vampírica na literatura, vários personagens representaram, de maneiras distintas, o vasto terreno de uma mitologia que se renova ainda nos tempos atuais. Quando versamos sobre vampiro em qualquer espaço reflexivo, o imaginário em torno de Drácula, de Bram Stoker, é considerado um ponto máximo de referência, algo estabelecido desde a publicação do romance epistolar em 1897. O escritor irlandês, como sabemos, organizou o máximo de histórias, lendas, reportagens e outros tantos materiais de pesquisa para compor a sua obra-prima, responsável por sintetizar tudo que já havia sido publicado ou debatido no campo formal (e também na informalidade), sobre o assunto. Antes, por sua vez, muitos autores se aventuraram na explanação do vampirismo em outros suportes literários. O conto e a poesia foram dois destes espaços, sendo O Vampiro, de Vasile Alecsandri, uma destas representações. Presente na coletânea Herdeiros de Drácula, organizada por Richard Dalby, o poema breve, mas atmosférico e suficientemente envolvente, é contemplado ao lado de A Parasita, de Arthur Conan Doyle, e A Árvore Assassina, de Phil Robinson, narrativas que apresentaram a perspectivas específicas do vampirismo.

No poema de Vasile Alecsandri, podemos contemplar uma apresentação do vampiro muito próxima do imaginário amalgamado pelo Conde Drácula. Há, num terreno obscuro de uma região não descrita com exatidão, uma sensação de mau agouro que nos remete a presença de uma criatura da noite. Estruturada de maneira curta, a linguagem poética do autor traz um amplo léxico macabro, tendo em vista estabelecer o tom de horror e mistério em torno do vampirismo. A primeira parte versa sobre uma cruz arruinada, num local onde a grama não nasce por perto, tampouco qualquer camponês tem o descuido de passar por perto. O eu-lírico complementa, ainda, que nem mesmo os pássaros da noite ousam pousar por lá. Com esse cenário, difícil não associar com os elementos góticos que nos remetem ao Castelo de Otranto, de Horace Walpole, uma publicação contemporânea do poema em questão.

Mais adiante, a composição delineia que este espaço mencionado anteriormente Pé o local de descanso, território tenso, perigoso, lugar onde os pedestres passam bem rapidamente ou quando podem evitam. Carregado também de erotismo e paixão, em linhas gerais, o poema nos apresenta o processo de ressureição de um vampiro, sem deixar de descrever os seus caminhos anteriores. Palavras-chave como gritos, nefasto, púrpura, palidez, trevas, dentre outras, colocam de forma panorâmica todas as associações comuns ao universo das criaturas da noite. Os vampiros, como sabemos, estão conectados com a ideia de horror, por isso, os gritos de suas vítimas ou o pavor daqueles que travam um contato inesperado. As trevas e o imaginário nefasto também, em especial, numa época que muitas pestes e situações ainda não explicadas pela ciência eram atribuídas ao que se acreditava do sobrenatural.

Ademais, o poema O Vampiro é de 1886, um ano antes do surgimento do livro de Bram Stoker. Veiculado numa revista que era lida pelo escritor, há a possibilidade do criador de Drácula ter tido acesso e se inspirado para compor o seu personagem maligno. Temática muito comum na difusão cultural do território europeu oriental, em especial, na região entre a Hungria e a Romênia, o vampirismo já tinha alcançado expressiva representação no momento de publicação da produção poética de Vasile Alecsandri, um dos responsáveis por pavimentar o longo caminho desta mitologia que, como mencionado anteriormente, ainda rende muitas reinvenções na contemporaneidade, bifurcando-se pelos aparatos tecnológicos ou até mesmo, trafegando por narrativas anacrônicas, inspiradas nesta época, mas com discussões pertinentes aos tempos atuais. Com algumas doses discretas de erotismos, sedento por sangue e acompanhado de uma imagem assombrosa para aqueles que morrem de medo de contemplá-lo, a criatura da noite de Alecsandri tem uma passagem breve na literatura, mas não menos marcante.

O Vampiro (Strigoiul – Romênia, 1845)
Publicação original:
baseado em um conto popular mais antigo, coletado no interior da Romênia.
Publicação no Reino Unido:
The Vampire, 1886
Autor: Vasile Alecsandri
Editora: Harper Collins
Tradução: Flora Pinheiro, Mariana Kohnert
Páginas: 4

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