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Crítica | O Vampiro, de Henrich August Ossenfelder

Um dos primeiros poemas com a presença da figura vampírica no âmbito literário.

por Leonardo Campos
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Em nossas interpretações sobre fenômenos culturais é constante a busca pelas origens. Queremos sempre saber qual foi o primeiro passo de determinada coisa, para que a análise seja alinhada com um didático estabelecimento de dados. Na minha viagem pelo legado e impacto cultural do romance Drácula, do escritor Bram Stoker, estas origens são até importantes, mas não preponderantes para o entendimento da mitologia vampírica antes da ascensão do monstro situado na Transilvânia. Carmilla: A Vampira de Karnstein, de Sheridan Le Fanu, e O Vampiro, de John William Polidori, são os mais famosos antecessores do conde definidor do mito, mas outras publicações também deixaram um importante rastro para interpretação da pavimentação do vampiro na literatura até 1897. O poema O Vampiro, do alemão Henrich August Ossenfelder é um destes, raríssimo e de complexa compreensão, haja vista os poucos estudos disponíveis e as traduções questionáveis da composição datada de 1748.

Criatura enigmática, o personagem vampiro é conhecido por sugar a energia vital de suas vítimas, tendo em vista assegurar a continuidade de sua existência sombria. Foi com este mote que o poeta alemão concebeu O Vampiro. Responsável por alguns tratados teóricos sobre a presença destas criaturas na vida real, num conturbado contexto de choques culturais pelos confins do continente europeu na época, Henrich August Ossenfelder criou o seu poema na ocasião de publicação de um artigo jornalístico sobre o mesmo tema. Era parte do esquema editorial, disponibilizar um poema que tratasse do assunto da edição, assim, ao receber a encomenda do jornal, compôs a enigmática poesia que traz diversos traços dos padrões narrativos comuns aos livros sobre personagens na posição de vampiro.

Em sua estrutura, acompanhamos o eu-lírico insatisfeito com a recusa de uma moça, alvo de sua atenção. Ele deseja profundamente possuí-la em seus braços, mas como a jovem é casta e segue piamente as recomendações maternas, evita ao máximo o conquistador misterioso. Ele entrega afeto, paixão, desejo, mas ela não retribui. Assim, seguindo a linha “não quer por bem, vai então por mal”, o vampiro aguarda um momento de descuido da moça para avançar o sinal. Ela dorme. Ele então, sorrateiro, atende aos seus anseios, mordendo a jovem. Macabro, os atos do vampiro são representações de preocupações contextuais para os alemães da época, pois ao longo das décadas de 1700, muitas lendas locais sobre vampiros pairavam na cultura. Era algo levado à sério, situação promovedora de medo e fortalecedora de crenças coesas, numa região entre a Hungria e a Sérvia que naquela época, vivia questões políticas peculiares.

Interessante observar, ao longo da composição do poema, a relação entre sangue e vinho, a oposição entre as forças do bem contra os agouros do mal, o beijo do vampiro como ação sugadora da vitalidade de sua vítima, o apelo sexual da criatura acossada pelos seus desejos, o impulso destrutivo de um homem na posição de amante, destroçado pela não correspondência pelo alvo de seu amor, um esquema de composição literária que ganhou projeção no vampiro de Polidori, um dos mais famosos antes da chegada de Drácula, romance que tal como já dito, é o definidor da mitologia vampírica na história literária, uma referência de longa tradição, isto é, extenso legado e impacto cultural.

O Vampiro (Der Vampire – Alemanha, 1764)
Autor: Henrich August Ossenfelder
Editora: M. Books do Brasil
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes
Páginas: 1

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