Constantemente reformulado ao longo de sua profícua história, o subgênero slasher nos apresentou filmes muito impactantes e interessantes, ao passo que também nos mergulhou no mais profundo tédio com algumas narrativas monótonas, frágeis e sem brilho. Talvez O Último Pesadelo seja uma destas histórias, visualmente interessante e com um clima clássico, elementos que teriam rendido um filme memorável, não fossem os desdobramentos da trama, irritantes de tão arrastados. Escrito por Robert Guza Jr e dirigido por Richard Ciupka, os responsáveis pela concepção de mais um espetáculo de horror e morte envolvendo segredos obscuros, vingança impiedosa e um assustador assassino mascarado. Aqui, confesso que a máscara se expõe como uma das mais tenebrosas do slasher, imagem que conseguiu, ao menos, me manter atento e aterrorizado, pensando no quão desesperador seria encontrar uma figura do tipo numa rua deserta ou na travessia para casa durante a noite, numa estação de metrô ou quem sabe, nos corredores de um prédio qualquer.
Lançado em 1983, O Último Pesadelo nos coloca dentro de uma insossa trama de 89 minutos sobre traições, desejos, sexo e personagens que topam qualquer coisa, até matar, para conseguir alcançar os seus propósitos. Aqui, Samantha Sherwood (Samantha Eggar) é uma atriz veterana que almeja interpretar o papel da protagonista do novo filme de Jonathan Stryker (John Vernon), um diretor que se diz ousado e possui planos de polemizar com a sua mais nova criação. Ah, não podemos esquecer: é uma produção de terror. A proposta metalinguística já nos cria um interesse adicional, mas que logo se perde com a condução do material, em especial, pela direção mambembe e roteiro que perde as boas oportunidades que concebe. Enfim, voltemos: o papel principal é a personagem Audra, uma mulher mergulhada na loucura, responsável por criar uma tessitura criminosa por onde passa, motivada por sua insanidade.
Para deslanchar a sua história, o tal diretor e Samantha adotam um estranho método. Colocar a atriz numa clínica psiquiátrica, pois eles acreditam que assim, ela conseguirá se envolver melhor com as particularidades de sua personagem. Os problemas começam quando o tempo passa e o cineasta deixa a veterana de lado, obrigando-a a fugir do lugar e partir para o anfiteatro onde as audições para o papel de Audra estão acontecendo. É um espaço distante, elemento básico da maioria dos slashers da época. Situado numa região montanhosa, acometida pela forte neve, o ambiente onde a trilha de corpos se estabelecerá oferta perigo a cada metro quadrado. São corredores trevosos, salas misteriosas, dentre outras características do assertivo design de produção de Roy Smith, setor que tem a sua qualidade ampliada quando captado pelos movimentos e enquadramentos da também adequada direção de fotografia de Robert Paynter.
Quando Amanda Theuter (Deborah Burgess), uma das atrizes escaladas para a audição, não chega para o teste, um clima de mistério se estabelece no ar. Nós, privilegiados (ou não), somos espectadores e sabemos que a moça foi assassinada no caminho, junto com o seu agente. A figura responsável pela morte traja um figurino macabro, sendo a sua máscara tenebrosa o ponto alto de sua presença em cena. Será Samantha a responsável pelas mortes? Ao passo que o filme avança, ficamos cada vez mais em dúvida sobre a pessoa que se esconde detrás da máscara. Uma delas é assassinada enquanto patina na neve, outra é atacada num banheiro, num turbilhão de emoções contidas, pouco envolventes, haja vista a falta de habilidade dos realizadores em criar algo impactante. A trilha sonora de Paul Zaza até tenta criar alguns momentos de tensão, mas não consegue trazer material suficiente para agitar O Último Pesadelo, filme cheio de boas intenções narrativas, solapadas pela condução de seus responsáveis.
O Último Pesadelo (Curtains, Canadá – 1983)
Direção: Richard Ciupka
Roteiro: Richard Ciupka
Elenco: John Vernon, Anne Ditchburn, Linda Thorson, Sandee Currie, Lesleh Donaldson, Samantha Eggar
Duração: 89 min.