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Crítica | O Último Grande Herói

Magia e metalinguagem.

por Kevin Rick
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Para quem é fã de Cinema, e digo verdadeiramente amante da Sétima Arte, as telonas significam mais do que entretenimento e a ficção tem o poder de criar memórias, reflexões e é capaz de nos formar e nos afetar de maneiras surpreendentes e eternamente marcantes. Por exemplo, John Hughes me ensinou sobre juventude; Steven Spielberg me apresentou espetáculos emocionantes; Robert Bresson me fez refletir sobre fé; etc. Isso é algo que o espectador casual não consegue entender. Existe uma magia em filmes que é impossível colocar em palavras, porque se torna sentimento.

Nesse sentido, um dos aspectos mais doces no Cinema está na perspectiva de crianças, seu senso inocente e de maravilhamento com os eventos em tela. O Último Grande Herói se aproveita dessa ótica infantil para nos entregar uma carta de amor aos longas de ação dos anos 80/90 e ao próprio refúgio que uma sala de Cinema pode se tornar. Na obra em questão, acompanhamos Danny Madigan (Austin O’Brien), um garotinho que é apaixonado pela franquia do seu herói Jack Slater (Arnold Schwarzenegger), e, por conta de um ingresso mágico, acaba sendo catapultado para dentro do filme.

Parte da proposta dramática da obra é criar uma alegoria de fantasia para Madigan lidar com dramas reais, seja a falta de uma figura paterna, seja seu objetivo de ser corajoso como Slater. O roteiro infantilmente alegórico é uma forma de narrativa bastante usada e normalmente divertida/sentimental, apesar das partes dramáticas da obra serem mais pontilhadas na comédia/ação do que necessariamente bem trabalhadas. Há, porém, um drama metalinguístico com Slater que é muito bacana, lidando com a ideia de que o herói de ação é um personagem imaginário e passou por perdas e obstáculos que foram escritos por roteiristas.

O Último Grande Herói se sai melhor na comédia, algo visto aqui pelo fascínio cômico de Madigan com a situação, sendo bem divertido o fato dele simplesmente comprar a aventura dentro de um filme e não questionar os acontecimentos absurdos, além de sua química com Schwarzenegger ser ótima na dinâmica do adulto carrancudo e o garoto alegre. O cineasta John McTiernan se aproveita da ideia de encantamento, trazendo uma direção cartunesca para as sequências dentro do filme, algo posteriormente contrastado com as cenas urbanas/realistas quando Slater sai do mundo da ficção.

No entanto, para os espectadores que esperam um grande filme de ação do Schwarza, haverá decepção. McTiernan assume uma abordagem diferente de seus outros trabalhos do gênero (Duro de Matar, O Predador), menos de espetáculo e mais de paródia. A maioria das cenas de ação são exageradas e cafonas, ao mesmo tempo homenageando e tirando sarro dos filmes de brucutu oitentistas, naquela vertente cartunesca que citei antes (algo que começa na direção das set-pieces bem Looney Tunes, mas passa pela fotografia anamórfica, os diálogos bregas e os cenários caricatos).

A proposta de McTiernan é resultado da pegada satírica do roteiro de Shane Black e David Arnott. O texto da produção lida muito bem com a comédia, brincando com a persona de Schwarzenegger, com o herói infalível em crise e com muitas piadas metalinguísticas do gênero de ação, incluindo dezenas de piscadelas de fanservice. Infelizmente, a sátira da obra é comprimida a essas referências, desperdiçando a oportunidade de alçar momentos satíricos verdadeiramente inteligentes e que não são resumidos a pequenos meta-comentários, muitas das vezes com diálogos expositivos de Madigan explicando as referências e alusões da história. Por exemplo, o encontro de Slater com o ator Schwarzenegger é uma oportunidade de ouro, que acaba sendo executada como uma rápida piada.

O Último Grande Herói não é, portanto, uma sátira excelente, mas é uma paródia muito, muito divertida de assistir. Schwarzenegger está claramente se divertindo à beça com as piadas sobre si mesmo, sua carreira e falas icônicas, enquanto O’Brien é puro carisma como um garotinho vivenciando uma fantasia cinematográfica. McTiernan não consegue criar situações de ação memoráveis, mas também se diverte horrores com os exageros cartunescos e com a linha borrada entre realidade e ficção da produção. A metalinguagem acaba servindo apenas como bom humor, mas existe uma ternura infantil muito grande na produção sobre a magia do Cinema, algo que poucos espectadores capturam.

O Último Grande Herói (Last Action Hero) – EUA, 1993
Direção:  John McTiernan
Roteiro: Shane Black, David Arnott
Elenco: Arnold Schwarzenegger, F. Murray Abraham, Art Carney, Charles Dance, Frank McRae, Tom Noonan, Robert Prosky, Anthony Quinn, Mercedes Ruehl, Austin O’Brien
Duração: 111 min.

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