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Crítica | O Soldado Sem Rastros

Interessante, mas pouco comprometido.

por Ritter Fan
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Shlomi (Ido Tako), um jovem soldado israelense de 18 anos, aproveita uma oportunidade e deserta de seu pelotão não por covardia ou medo, mas sim para voltar para sua namorada Shiri (Mika Reiss), que está prestes a se mudar para o Canadá, e talvez tentar convencê-la a não ir. Trata-se de uma premissa até prosaica, executada de uma interessante maneira tragicômica, mas que ganha seriedade não por ela mesma, mas sim pelo pano de fundo que permeia a narrativa do começo ao fim e que, claro, faz comentário em tempo real sobre a situação no Oriente Médio neste exato momento.

Não se trata, aqui, de um filme de viés crítico ou condenatório de nenhum dos dois lados do conflito, mas o que o diretor e corroteirista Dani Rosenberg faz é criar um cenário que parece acontecer só um pouquinho no futuro, com uma guerra campal completa acontecendo entre os dois lados e não ataques esporádicos como os que vemos infelizmente acontecer na televisão com enorme constância. O objetivo, aqui, me parece ser condenar a guerra como um todo, qualquer guerra, o que pode ser visto como saída estratégia de Rosenberg para não tocar em feridas, mas que se junta a longas antibelicistas por aí que tentam mostrar o quão trágico, horroroso e até mesmo ridículo tudo é.

De certa forma, o roteiro pega emprestada a premissa surrealista de Luis Buñuel em O Anjo Exterminador, em que convidados de um jantar não conseguem sair da festa e aplica-a a Shlomi que tem uma jornada completamente improvável em que sua deserção não só não é detectada, como as Forças Armadas israelenses assumem que foi um sequestro e nem cogitam a outra hipótese e nada que o protagonista faz dá errado, muito ao contrário até, já que ele, de roupas civis, pedala de bicicleta com uma metralhadora militar à tiracolo sem que ninguém sequer levante a sobrancelha para ele, especialmente um casal que curte a praia de Tel Aviv em meio aos bombardeios como se nada estivesse acontecendo.

Tratar a guerra – qualquer guerra – de maneira cômica, exige coragem e Rosenberg traça uma cuidadosa jornada de algo como 24 horas para o soldado que desaparece do título em inglês que não tenta fazer humor rasgado, mas sim trabalhar com ironias, seja pela incompetência das Forças Armadas, a forma como Shlomi consegue dinheiro ou toma banho, até suas fugas milagrosas. E o que fica, em meio ao movimentado longa, é que estamos apenas em mais uma terça-feira em uma cidade grande que é bombardeada quase de hora em hora, com sirenes de evacuação tocando a todo o instante e levando as pessoas a procurar abrigo com a mesma vontade e calma que alguém tem quando está na varanda tomando sol. É uma abordagem inegavelmente absurdista para um tema sério e, por isso mesmo, o filme ganha contornos que chamam a atenção do espectador na medida em que a trama enganosamente simples se desenrola.

Por outro lado, Rosenberg não se arrisca muito e, ao escolher não fazer críticas mais pesadas, ao deixar o lado cômico às vezes falar mais alto e ao deixar Shlomi sempre fazendo o que quer, ele acaba esvaziando um pouco sua mensagem, permitindo que a leveza fique mais tempo na superfície do que deveria e forçando que o espectador se lembre do panorama geopolítico por trás, mas sem tratar dele de verdade. Dessa maneira, O Soldado Sem Rastros acaba, ele mesmo, não deixando rastros profundos no caminho que segue e o que fica aos espectadores é não mais do que um bom exercício cinematográfico que mantém-se o tempo todo acanhado para não se comprometer de verdade.

O Soldado Sem Rastros (The Vanishing Soldier  /החייל הנעלם – Israel, 2023)
Direção: Dani Rosenberg
Roteiro: Amir Kliger, Dani Rosenberg
Elenco: Ido Tako, Mika Reiss, Efrat Ben Zur, Tiki Dayan, Shmulik Cohen, Mushy Vider
Duração: 105 min.

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