“C’mon get involved until the Mystery is solved… Hang around for Scooby-Doo!”
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Antes de comentar sobre a série, é necessário destrinchar um pouco do contexto cronológico na linha do tempo de Scooby-Doo (tratarmos em detalhes disso em um futuro Entenda Melhor). Esta é oficialmente a terceira encarnação do personagem, ainda que faça parte de uma mesma configuração de traços originados em Scooby-Doo: Cadê Você?, sendo bem fácil de confundir os episódios das duas séries e achar por aí listagens que as considera como uma série só. Isso se agrava com a prerrogativa a época, onde a primeira encarnação teve um revival, uma terceira temporada de 9 episódios lançados em 1978, o mesmo ano em que sairia a terceira temporada de O Show do Scooby-Doo, que já estava em andamento desde 1976. No fim das contas, na oficialização de vendas tanto em VHS como em DVD, esses 9 episódios de revival do Cadê Você? se transformariam nos 9 primeiros episódios de O Show e a primeira temporada oficialmente teria acabado na segunda.
É importante destacar isso na análise porque cada temporada nova de Scooby-Doo, em boa parte de sua cronologia, dependia de um surto criativo dos seus realizadores, já que a fórmula-base (que comento na primeira das críticas das séries) não iria mudar da estabelecida historicamente, mudando apenas no tom escolhido pela encarnação específica e no preenchimento dos capítulos: novos mistérios, novos vilões, novos cenários, além do modo como os personagens iriam interagir com tudo aquilo. Outro detalhe importante é que os episódios eram exibidos acompanhados da série do Bionicão com o Falcão Azul – denominada Dinamite, o Bionicão – pensando no preenchimento daquele horário destinado aos desenhos de 45 minutos, duração dos episódios da segunda encarnação crossover Os Novos Filmes de Scooby-Doo.
O que soa até estranho imaginar que no planejamento da Hanna-Barbera não houve episódios (pelo menos, não no Show do Scooby-Doo, isso só iria acontecer nos Ho-Ho Olímpicos) em que os personagens se encontrariam, mesmo com o fator de “participação especial” da versão anterior ter influenciado tanto essa nova. Digo isto porque é nessa série, por exemplo, que o Scooby-Dão é introduzido, aquele primo preto e branco do Scooby que é meio desligadão, teimoso e mais corajoso. São 4 episódios em que ele participa, uma dosagem ótima e devidamente bem posicionada nas duas primeiras temporadas para chacoalhar um pouco a fórmula de resolução dos mistérios. O primeiro, do Jacaré Guloso, está entre os melhores e mais divertidos episódios de todos os tempos do personagem. Além dele, outros parentes do mistério são colocados em cena, óbvio, nenhum tão marcante quanto, algo que infelizmente daria a brecha para a criação de Scooby-Loo, mas falaremos disso em outro texto.
Pensando em termos de linguagem, a abordagem da série imagética e sonoramente estava mais leve e não tão perturbadora, voltada para o horror como era em Cadê Você?, que usava muito o poder da imagem dos cenários assustadores criados junto aos temas clássicos para envolver a criança de um modo objetivo e participativo ao mistério. Fica notório esse tom mais leve em alguns episódios. Em especial, dois deles reciclam monstros da série anterior e, nos ajustes dos traços, é perceptível a mudança mais “borrachuda” na caracterização, de modo a deixar mais claro que se trata de uma roupagem e não de monstros de verdade. Alguns dos episódios mais fracos apelam para essa sensação de leveza, onde uma trilha divertida incide em constância no fundo até o final, o que por vezes quebra o clima e torna-os enjoativos.
De modo geral, essa mudança diminutiva de tom não é um demérito, pelo menos não impede a articulação ainda bastante criativa de criação de mistérios entrelaçados a figuras fantasmagóricas icônicas. Existe um aspecto até mais grandioso nesse sentido, mais suspeitos para pensar, mais monstros para lidar. A maioria dos capítulos, inclusive, não contam com apenas um, mas toda uma equipe de monstros, que dentro de um cenário fechado e a depender da motivação e do envolvimento da Mistério S.A, tornam a resolução mais urgente. Há um direcionamento mais internacional também, ainda que carregado de estereótipos (veja o caso do episódio que se passa no Brasil / Amazônia), dando espaço para explorar outros tipos de lendas bastante promissoras, como o caso do Triângulo das Bermudas, o Monstro do Lago Ness, A Bruxa de Salem, dentre outras.
Há diversos episódios icônicos e inesquecíveis, principalmente no início de cada temporada (destaco além dos já mencionados: O Fantasma de 10 mil Volts, O Fantasma do Pterodátilo, Merlim, O Monstro de Piche, O Fantasma da Máscara de Ferro, Os Esqueletos, A Gata Monstruosa…), sendo a série de Scooby-Doo mais regular pensando nesse sentido, com todas as temporadas num ótimo nível, apesar de começarem melhor do que terminam. E o mais importante, O Show de Scooby-Doo trás aquela sensação de descompromisso conquistadora do desenho, que persiste e garante um entretenimento certo.
O Show do Scooby-Doo (The Scooby-Doo / EUA, 1976-1978)
Criação: Ken Spears, Joe Ruby.
Principais Diretores: Charles A. Nichols, Alex Lovy, Carl Urbano.
Principais Roteiristas: Haskell Barkin, Norman Maurer, Dalton Sandifer.
Elenco (Dublagem Original): Don Messick, Heather North, John Stephenson, Frank Welker , Casey Kasem, Patricia Stevens, Janet Waldo, Alan Oppenheimer , Lennie Weinrib, Vic Perrin, Daws Butler, Hettie Lynne Hurtes.
Elenco (Dublagem Brasileira): Orlando Durmmond, Mário Mojardim, Luis Manoel, Juciara Diácovo, Nair Amorim, Silvío Navas (Estúdio de dublagem: Hebert Richards).
Duração: três temporadas, 24 minutos cada episódio nas duas primeiras temporadas (com 16 e 8 episódios respectivamente) e 22 minutos cada episódio na terceira (de 16 episódios), no total de 40 episódios.