- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos outros episódios da série, e, aqui, de todo nosso material de Senhor dos Anéis.
Com três episódios sendo lançados no mesmo dia, Os Anéis de Poder retorna com um início de temporada que reorganiza a narrativa e que foca em determinados núcleos em cada um dos capítulos de abertura. Até mesmo flertei com a ideia de realizar críticas individuais, mas penso que seria redundante, considerando que os problemas e qualidades que perpassam os episódios são basicamente os mesmos da temporada anterior, além de que acredito que a maioria dos leitores consumiram a abertura do segundo ano igual a mim: assistindo a trinca de episódios de uma só vez.
Bem, Os Élficos Reis sob o Céu é um início de temporada que se aproveita da revelação de que Hallbrand é Sauron, nos apresentando um flashback da Segunda Era, em que o Lorde das Trevas é aparentemente morto por um exército de Orcs e seu líder, Adar, apenas para gradualmente se reconstruir ao longo dos séculos, com algumas sequências grotescas muito boas. O núcleo do antagonista é, de longe, a melhor trama da série até aqui, com suas maquinações e esquemas criando os momentos de maior destaque da história, seja tematicamente com conflitos de poder, ambição e traição, seja em termos de progressão narrativa, movendo os eventos da guerra para frente e expandindo a mitologia do universo.
De maneira paralela, vemos os Elfos, incluindo o Rei Gil-galad, Galadriel, Elrond e Cídar, discutindo se utilizam ou não os anéis, com um desenvolvimento coerente para a história principal, considerando que o uso dos artefatos indicam a convergência dos núcleos no embate contra Sauron. No entanto, não gosto tanto do ritmo ou dos diálogos dessa trama, considerando que depois de três episódios os personagens continuam basicamente no mesmo lugar. Os roteiristas continuam pecando não com falta de ação, mas da carência de avançar a narrativa com uma cadência melhor. Também não estou gostando do arco dramático de Galadriel, que pouco aparece e pouco impacta a história nessa abertura.
Penso que esses problemas nascem por conta da quantidade de núcleos, especificamente pela maneira que pouco conversam entre si e como a narrativa dividida acaba fazendo com que nenhuma trama ganhe foco ou consistência, algo que vem arrastando o seriado desde a temporada de estreia. Isso fica bem acentuado em Onde as Estrelas São Estranhas e A Águia e o Cetro, que focam menos em Sauron e Galadriel, para trabalhar a jornada do Estranho (cada vez mais próximo de ser Gandalf) e de Nori pelo deserto de Rhûn; dos conflitos no reino de Khazad-dûm; e dos eventos em Númenor e Mordor.
A maioria dessas tramas são trabalhadas de maneira lateral, esticando a narrativa, mas sem progredir os eventos da temporada. É por isso que fica essa sensação de monotonia na audiência, já que pouca coisa efetivamente acontece a cada episódio, além de que a montagem não tem ajudado a dar um ritmo melhor ou até mesmo um sentido lógico para as transições entre núcleos. Notem como já estamos quase na metade da segunda temporada (!) e tudo soa com pouco andamento, com a jornada de Nori e cia. se mostrando mais e mais descartável (qual é o interesse naquele vilão genérico do Ciarán Hinds?), ou então como os eventos em Númenor parecem cada vez mais atrapalhados e confusos, agora com uma batalha de coroação que chama pouquíssima atenção dentro do escopo da história.
Existem, sim, alguns momentos pontuais interessantes nessas tramas, como a luta de Isildur (e o melhor cavalo do mundo) em Mordor contra as aranhas gigantes ou então o instigante conflito dramático em Khazad-dûm entre Durin IV e seu pai, mas, de maneira geral, o segundo ano mantém o desenvolvimento claudicante, enrolado e moroso em diversos momentos dos episódios, além dos roteiristas não saberem utilizar alguns personagens como Arondir e Theo. Visualmente falando, a produção continua enchendo os olhos, sejam em suas belíssimas locações, direção de arte e efeitos especiais, mas fantasia não é só visual, é sentimento, construção de mundo e bons personagens.
Os Anéis de Poder continua sendo um entretenimento regular nesse início de temporada, com destaque para a linha narrativa de Sauron, especialmente nas sequências junto de Celebrimbor e quando a história foca na corrupção dos anéis em torno de outros personagens, mas carrega os mesmos problemas da temporada anterior. A jornada de Nori parece uma eterna promessa anticlimática, enquanto os outros núcleos, se ainda com bons momentos, acabam não funcionando de maneira conjunta e têm poucos desenvolvimentos, num seriado que continua em um tom de introdução, de preparação, de organização, mas nunca de progressão, de urgência e de ação. Fica a esperança dos próximos cinco episódios se apropriarem bem dessa abertura e terminarem a temporada em uma nota mais efetiva.
O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder – 2X01, 02 e 03: Os Élficos Reis sob o Céu / Onde as Estrelas São Estranhas / A Águia e o Cetro (The Lord of the Rings: The Rings of Power –2X01, 02 e 03: Elven Kings Under the Sky / Where the Stars are Strange / The Eagle and the Sceptre) | EUA, 29 de agosto de 2024
Criação: J. D. Payne, Patrick McKay (baseado no universo de J. R. R. Tolkien)
Direção: Charlotte Brändström; Louise Hooper (2X02 e 2X03)
Roteiro: Gennifer Hutchison (2X01); Jason Cahill (2X02); Helen Shang (2X03)
Elenco: Morfydd Clark, Charlie Vickers, Will Fletcher, Lenny Henry, Sara Zwangobani, Thusitha Jayasundera, Maxine Cunliffe, Dylan Smith, Markella Kavenagh, Beau Cassidy, Megan Richards, Robert Aramayo, Benjamin Walker, Ismael Cruz Córdova, Geoff Morrell, Nazanin Boniadi, Tyroe Muhafidin, Charles Edwards, Daniel Weyman, Owain Arthur, Sophia Nomvete, Peter Mullan, Ciarán Hinds
Duração: aprox. 60 min. cada
