- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos outros episódios da série, e, aqui, de todo nosso material de Senhor dos Anéis.
Gostaria de começar a crítica da season finale de Os Anéis de Poder fazendo um paralelo. Se lembram de como Partidas é um episódio que fica arrastando o núcleo em Númenor, terminando exatamente no mesmo ponto de A Grande Onda? Então, nada daquilo foi feito para desenvolvimento de personagens, e sim para segurar Galadriel em Númenor até os eventos de Údun, que, por sua vez, entrega uma das piores lógicas de distância que vi numa obra audiovisual. Os roteiristas nunca conseguiram encontrar uma estrutura narrativa que fizesse sentido para os diferentes núcleos, em alguns momentos andando em círculos e perdendo tempo, e em outras situações resolvendo importantes acontecimentos de forma súbita.
Mas divago. O paralelo que digo, porém, vem do fato de que a primeira temporada da produção tem um número alarmante de cenas repetitivas, ações desnecessárias e protelações narrativas, e, no último episódio, a criação dos anéis, um dos maiores eventos deste universo, acontece em 10 minutos. Não tem construção de clímax, não tem um prenúncio ou uma urgência e nem um elemento que faça a sequência ser verdadeiramente especial. Para que serviu a forja gigante? Objetos tão poderosos foram criados de uma maneira tão prosaica? É muito, muito ruim o que os roteiristas fizeram aqui.
É como se eles precisassem ter um shot final com os anéis, então simplesmente jogaram o acontecimento em tela sem nenhum cuidado para fazer algum tipo de escalonamento ou transformar o evento em um momento audiovisual extraordinário. Aposto que ninguém vai se lembrar dessa sequência em alguns meses para além do contexto, nada de memorável ali. Confesso, porém, que a canção durante os créditos me arrepiou completamente.
O restante do episódio tem a mesma sensação de anticlímax. Passamos tanto tempo vendo os pés-peludos parados (incrível como a direção e os roteiristas não conseguiram incorporar a migração e a jornada deste segmento de uma forma ativa, épica e divertida), e, assim como aconteceu com a criação dos anéis, temos uma sequência rápida do confronto entre o Estranho e as adoradoras de Sauron. Alguns dos efeitos com os poderes (ou magia, tanto faz…) são bacanas de assistir, mas o momento em si não tem urgência. A morte de Sadroc até tem uma ponta de melancolia, mas nenhum impacto. O seriado não conseguiu encontrar nem seu próprio Sean Bean (rs).
O grande atrativo do episódio é a revelação de alguns mistérios. Descobrimos que Halbrand é Sauron e que o Estranho é um Istar, e, na minha opinião, bem obviamente o nosso querido Gandalf, considerando o diálogo sobre ele ser sábio, sua vestimenta e até mesmo a postura aconchegante que Daniel Weyman demonstra após a desorientação do personagem se esvair no ato final. Do lado de Halbrand/Sauron, temos a clássica traição do antagonista, mas, sei lá, Charlie Vickers não me parece ter a qualidade para carregar um personagem tão icônico em futuras temporadas. Ele consegue fazer bem o cara sacana, mas sua interpretação como o Lorde Sombrio me soou genérica.
Tenho dois problemas com essas revelações, porém. Primeiramente, elas demoraram demais para acontecer. Segundo que o episódio acaba sendo apenas sobre isso. Grande parte da história em A Liga é simplesmente funcional. O roteiro revela a identidade dos personagens, cria alguns confrontos, faz uma cena corrida sobre a criação dos anéis e estabelece os núcleos dos personagens na próxima temporada – com outro shot covarde de Nori iniciando uma jornada, e que eu desisti de acreditar que irá acontecer.
A Liga não tem o clímax ou o escopo de um grand finale, entendem? O design de produção tá lindão, mas tudo é muito previsível, atrapalhado, sem riscos e sem sentimento. Em linhas gerais, o season finale acaba resumindo essa temporada como um todo: uma grande introdução arrastada, fazendo muitas promessas e sempre empurrando os grandes eventos para frente. Muito decepcionante para as características de fantasia épica da Terra-média.
O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder – 1X08: A Liga (The Lord of the Rings: The Rings of Power –1X08: Alloyed) | EUA, 14 de outubro de 2022
Criação: J. D. Payne, Patrick McKay (baseado no universo de J. R. R. Tolkien)
Direção: Wayne Yip
Roteiro: J. D. Payne, Patrick McKay, Gennifer Hutchinson
Elenco: Morfydd Clark, Will Fletcher, Lenny Henry, Sara Zwangobani, Thusitha Jayasundera, Maxine Cunliffe, Dylan Smith, Markella Kavenagh, Beau Cassidy, Megan Richards, Robert Aramayo, Benjamin Walker, Ismael Cruz Córdova, Geoff Morrell, Nazanin Boniadi, Tyroe Muhafidin, Charles Edwards, Daniel Weyman, Owain Arthur, Sophia Nomvete, Peter Mullan, Joseph Mawle
Duração: aprox. 60 min.