Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | O Senhor dos Anéis: As Duas Torres (versão de cinema e versão estendida)

Crítica | O Senhor dos Anéis: As Duas Torres (versão de cinema e versão estendida)

por Guilherme Coral
4,K views

estrelas 4

A segunda parte da trilogia O Senhor dos Anéis  teve sua estréia aproximadamente um ano após o lançamento do primeiro. Ouso dizer que As Duas Torres é, dos três, o livro mais difícil de ser adaptado e que Peter Jackson e sua equipe fez milagres, mesmo sendo a parte mais fraca (porém nada menos que ótima) da franquia.

Com Peter Jackson tendo terminado o primeiro filme com a dissolução da Sociedade do Anel, ele pode começar a continuação exatamente de onde parou e mesmo assim sem prejudicar o entendimento da trama como um todo. É claro que As Duas Torres tem todas as marcas de um filme “do meio”, mas o trabalho realizado em sua adaptação permite que o vejamos sem precisar ter visto A Sociedade do Anel logo antes. Assim, este distanciamento de um ano não prejudicou em nenhum ponto o longa-metragem.

A cena inicial, de Gandalf lutando contra o Balrog de Morgoth, mostra a preocupação do diretor com o entendimento do espectador, ao mesmo tempo que oferece uma cena com efeitos especiais, montagem e movimentação de câmera e fotografia impressionantes. Peter Jackson traz de volta um dos momentos mais dramáticos do primeiro filme a fim de encadear com a grande revelação posterior. A expectativa da volta do mago é criada, surgindo como uma suspeita em quem não leu o livro.

Como disse anteriormente, As Duas Torres é uma adaptação dificílima de se fazer por um único fator: Tolkien dividiu sua narrativa em três núcleos. A primeira, centrada em Sam, Frodo e Gollum/ Sméagol; a segunda Aragorn, Gimli e Legolas e a terceira em Merry e Pippin. Já vemos aí um grande problema para a montagem, que deve encadear essas cenas de forma que não se perca a dinâmica da história. Temos algo semelhante na série Game of Thrones atualmente, que deve escolher em quais episódios inserir determinados personagens. O problema é que Tolkien, ao contrário de Martin, fez suas narrativas separadas, ele não realizou sua “montagem” dentro do livro – contou uma história e depois a outra.

Por essa razão As Duas Torres parece um filme episódico, como vários capítulos de uma série condensados em um só. Com isso, ele acaba sofrendo da inevitável oscilação de ritmo, prejudicando a dinâmica e até a imersão no longa. Não tomem minha crítica a esse fator como um ponto negativo da montagem de Michael Horton – acredito que foi feito o melhor que era possível. O problema está no fato da narrativa d’As Duas Torres não se transmitir completamente de forma cinematográfica.

Diminuindo esse fator negativo e inevitável da adaptação, temos novamente o trabalho de Andrew Lesnie como diretor de fotografia. Desde a cena inicial até os créditos finais temos um exímio controle de luz e enquadramentos. Em especial devo colocar em foco toda a batalha de Helm’s Deep. Tomadas externas, à noite, com chuva (eventualmente a chuva acaba, mas isso não diminui nem um pouco as sequências), isso é o suficiente para transformar qualquer cena, por mais simples ou complexa que seja em um total e completo desastre. Ainda assim nos foi passada a melhor cena de batalha já feita, na opinião de nosso editor Ritter Fan, com quem devo concordar.

Em nenhum momento de Helm’s Deep ficamos confusos, sem entender o que se passa na tela. A nitidez do que vemos é impressionante, mostrando um trabalho de iluminação e enquadramento fora do comum. A chuva e a noite contribuem para o que Peter Jackson quer mostrar: uma batalha crua, com seus diversos momentos de heroísmo sim, mas com aquela sensação de desolação constante. Tudo isso faz com que o espectador se sinta tão encurralado quanto os soldados que defendem o forte.

É claro que os créditos dessas sequências não caem todos nos ombros da equipe de fotografia. A montagem garante uma dinâmica sem igual e a arte transformam ainda mais o abismo de Helm em um lugar sórdido ainda que magnífico em sua arquitetura. Dentro de todo esse contexto facilmente perdoamos a tocha olímpica sendo carregada para destruir os explosivos, sendo que existiam inúmeras outras tochas à volta. Por fins dramáticos, conseguimos entender.

Somente enaltecer a batalha do Abismo de Helm seria, contudo, um equívoco, já que temos diversas outras sequências noturnas, nubladas, na neblina que são igualmente precisas. O ponto é: as sombras são um elemento de suma importância nesse segundo filme que mantém o tom mais sério da segunda metade d’A Sociedade do Anel.

Não posso deixar de falar, é claro, do trabalho de Andy Serkis em toda a sua retratação de Gollum/Sméagol. O ator garante vida ao personagem digital de uma forma sem igual. As expressões faciais, otimamente captadas pela computação gráfica ganham ainda mais expressividade graças ao trabalho de voz de Serkis, que se tornou um símbolo do personagem.

Esse é apenas um dos elementos que demonstram a importância do som para o filme. Praticamente todas as cenas que retratam o poder do Anel sobre Frodo tem os efeitos sonoros como principal elemento – seja através de um som grave e abafado ou pela diminuição do volume, demonstrando o rompimento de Frodo com seu redor e a fixação pelo Anel.

A trilha sonora de Howard Shore, é claro, continua única. Os temas apresentados no primeiro filme voltam através de diferentes arranjos ao mesmo tempo que somos apresentados a novas músicas. Em destaque é o tema de Rohan, se encaixando perfeitamente ao reino dos senhores de cavalos. Em especial temos também Gollum’s Song, por Emiliana Torrini que dá vida e melancolia aos créditos finais.

Assim como em A Sociedade do Anel, Peter Jackson finaliza esse segundo filme em um ponto chave da narrativa. Apesar de não ser efetivamente o fim da história, há um encerramento do arco dramático que percorre todo o longa – o fim da ameaça de Isengard. Desta forma a projeção termina com um tom de conclusão, ao mesmo tempo que nos deixa ansiosos para a terceira parte. Como o próprio Gandalf diz: “A batalha pelo abismo de Helm terminou. A batalha pela Terra-Média está prestes a começar.”

Embora seja o capítulo mais fraco da trilogia, As Duas Torres mostra ainda mais a capacidade de toda a equipe. Vemos a transformação de um livro que não se traduz perfeitamente de forma cinematográfica em um ótimo filme. As Duas Torres teve o difícil papel de filme “do meio” e sucedeu de forma única em todos os seus aspectos técnicos e narrativos.

Versão Estendida

estrelas 4,5

Assim como na versão estendida do primeiro filme, Peter Jackson mostra que esta não é apenas uma forma de se fazer mais dinheiro. As novas cenas de As Duas Torres mergulham ainda mais no universo de Tolkien, nos entregando mais da Terra-Média e explicando alguns detalhes que não são deixados tão claros na versão do cinema.

As cenas extras do segundo filme funcionam, muitas delas, também como alívio cômico para toda a seriedade do filme. Como exemplo àquela na qual Pippin bebe da água de Fangorn e cresce, superando Merry em altura. É uma sequência desnecessária para a trama, mas que melhora a dinâmica do filme.

Das que melhoram o entendimento do longa e do universo construídos pela trilogia, devo focalizar em duas específicas. A primeira é a conversa entre Aragorn e Éowyn que explica um pouco sobre a linhagem do herdeiro de Isildur e a longevidade dos Dúnedain. A segunda é a lembrança de Faramir da reconquista de Osgiliath, aprimorando nosso entendimento da relação entre Boromir, Faramir e Denethor, além de mostrar a bondade de Boromir e ainda mais o poder do Anel sobre o coração dos homens.

Essas duas cenas em especial deveriam ser vistas por todos, ao ponto que tirariam muitas dúvidas e melhoram ainda mais a experiência do terceiro capítulo da franquia. Outras cenas também acrescentam uma outra visão as cenas, como a fuga dos Uruk-Hai do Abismo de Helm, adentrando a floresta.

A versão estendida de As Duas Torres, portanto, é altamente recomendada para fãs e não fãs, ao ponto que somente irá enriquecer a experiência do filme.

O Senhor dos Anéis: As Duas Torres (The Lord of the Rings: The Two Towers, EUA/Nova Zelândia – 2002)
Direção: Peter Jackson
Roteiro: Peter Jackson, Fran Walsh, Philippa Boyens, Stephen Sinclair, J.R.R. Tolkien (romance)
Elenco: Elijah Wood, Sean Astin, Sean Bean, Cate Blanchett, Orlando Bloom, Billy Boyd, Christopher Lee, Andy Serkis, Ian McKellen, Peter McKenzie, Dominic Monaghan, Viggo Mortensen, John Rhys-Davies, Harry Sinclair, Liv Tyler, Hugo Weaving, Bernard Hill, Karl Urban, Miranda Otto
Duração: 179 min. (versão de cinema), 223 min. (versão estendida)

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais