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Crítica | O Senhor das Moscas (1963)

por Luiz Santiago
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Adaptação da obra de William Golding, esse filme de Peter Brook é ao mesmo tempo impressionante e assustador. A história de um grupo de crianças que sofre um acidente de avião e fica preso numa ilha deserta é trabalhada de maneira interessante pelo diretor, e pode trazer uma série de reflexões sobre poder, humanidade, maldade, etc.

No entanto, O Senhor das Moscas (1963)* é um filme inconstante no ritmo e no roteiro. A primeira parte da película é exaustivamente contemplativa, investiga cada uma das crianças e também as ações do grupo, uma atitude seguida pela montagem, que opta pelo paralelismo narrativo a fim de dar uma visão geral de ambos os grupos em diversos pontos da ilha. Num primeiro momento, o ritmo é aceito porque não conhecemos a história. Todavia, quando ela se estrutura, não há motivos para detalhar as sequências, algo que será abandonado apenas nos takes finais do filme.

O suspense e a ação, estão postos em O Senhor das Moscas a partir da mudança extrema de comportamento das crianças. Embora algumas tendências ético-morais fiquem claras desde o momento em que aparecem, os dois grupos de garotos possuem o verniz civilizacional e seguem as regras da democracia para gerir o grupo e a sua sobrevivência na ilha deserta. Mas quando crescem os interesses pessoais (a vontade de comandar um grupo inteiro), a guerra é declarada e as crianças aparentemente inocentes que vimos ao início mostram que não são tão inocentes assim. Mesmo os garotos que não são de má índole adequam-se a uma realidade imposta pelo algoz para não sofrerem maiores danos – fingem aceitar uma situação, mas preparam, em silêncio, um motim.

Diversas teorias e diversas ciências humanas e biológicas podem ser aludidas aqui e, se bem pontuado, O Senhor das Moscas pode ser um núcleo perfeito para debatermos sobre o universo dissimulado da infância.

Apesar do problema dos ritmos (externo – montagem; e interno – roteiro), O Senhor das Moscas certamente é uma ótima reflexão sobre o caráter da infância, sua dissimulação e obstinação. Vale a pena suportar a primeira parte do filme em favor do final estonteante, este sim, composto de planos, ângulos e edição perfeitos, muito bem ajustados no tempo fílmico e de uma forma imagética e dramática exemplares.

Embora boa parte das atuações não sejam perfeitas, Peter Brook consegue arrancar bons momentos de todo o elenco. A fotografia trabalha muito com contrastes, principalmente nas tomadas de conjunto dos “selvagens”, com as pinturas na pele. A repetição dos temas musicais foi um bom acerto para o filme, porque dá diversos significados ao tema e remete-nos à sensação de estarmos presos, andando em círculos, sem esperança – ainda mais em se tratando de um filme cujo tema é tão macabro quanto a trilha sonora pode sugerir. Uma obra que nos faz refletir sobre uma série de coisas, muitas delas, lamentavelmente presentes em nosso mundo atual.

  • Há uma versão americana desse filme, dirigida por Harry Hook em 1990.

O Senhor das Moscas (The Lord of the Flies, UK, 1963)
Direção: Peter Brook
Roteiro: Peter Brook (adaptação da obra de William Golding)
Elenco: James Aubrey, Tom Chapin, Hugh Edwards, Roger Elwin, Tom Gaman, Roger Allan, David Brunjes, Peter Davy, Kent Fletcher, Nicholas Hammond, Christopher Harris
Duração: 92min.

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