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Crítica | O Sangue de Zeus (Blood of Zeus) – 1ª Temporada

por Kevin Rick
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A mitologia Grega é uma das mais ricas fontes de fantasia que existe. Várias obras de todas as mídias já adaptaram seus épicos ou usaram seus contos como inspiração. Os deuses, os titãs e as situações familiares complicadas já foram vistas de múltiplos ângulos, e exploradas de diferentes formas. Por causa disso, criar algo novo no universo é extremamente complicado. A familiaridade que audiência tem com o folclore grego também faz com que novas histórias pareçam repetitivas. É com isso em mente que os criadores de O Sangue de Zeus, Charley e Vlas Parlapanides, tentam conceber o território comum dessa mitologia em forma de animação – uma das formas de arte mais criativas que existe – misturando o já conhecido épico grego com elementos de horror.

A mais nova série animada da Netflix conta a história de Heron (Derek Phillips), um filho bastardo de Zeus (Jason O’Mara), e sua mãe, Electra (Mamie Gummer), que tiveram que se refugiar em uma pequena vila após Hera (Claudia Christian), rainha e esposa de Zeus, descobrir a traição e visar vingança da amante e seu filho. Para esconder a presença de Electra e Heron dos olhos de sua companheira, Zeus coloca nuvens de tempestade por cima da vila. Por causa disso, e também por ser mãe de um bastardo, os moradores do vilarejo a rotulam de prostituta, e atormentam ambos mãe e filho. Enquanto Heron luta para sobreviver à ira vingativa de Hera e às forças monstruosas do mal que ela alia contra ele, nosso protagonista também deve lidar com o crescimento de sua identidade como filho de Zeus.  

Tudo isso soa extremamente familiar para quem conhece a mitologia grega, ou que tenha visto adaptações da mesma. Um semideus, resultado da infidelidade dos deuses, é deixado ao relento e sofrimento da humanidade, até o momento que ele precisa iniciar sua jornada de herói para salvar o Olimpo, um lugar que sempre o rejeitou. E, durante a primeira metade da temporada, O Sangue de Zeus faz exatamente o que você acha que fará. As reviravoltas não são muito tortuosas e os desenvolvimentos dos personagens atingem as notas usuais do mito grego, incluindo mostrar Hera como uma mulher enlouquecida cujo poder só é mostrado por meio de sua manipulação. Enquanto Zeus, o perpetuador de todos os problemas, é exposto como uma figura serena, um poço de sabedoria.

No entanto, o que difere O Sangue de Zeus de tantas obras da mitologia grega é a mistura dessas narrativas clássicas com o gênero de terror e a incorporação de demônios como antagonistas. A combinação do delicioso drama político dos deuses com a fantasia distorcida de animes sombrios. Existem até elementos de terror cósmico e a presença de entidades que agem como oposições aos Deuses. Esta é a maneira de O Sangue de Zeus ser único e fazer algo diferente com este tipo de universo. Há um amor muito claro pela mitologia grega presente na série, então esses elementos de terror são tentativas de levar o material a um novo nível.

Isso também fica evidenciado no arco de Heron, manchado por violência, morte e sangue, muito aquém da sua típica jornada do herói. Mas talvez o maior problema desse arco de desenvolvimento, e de toda a obra em si, é o próprio Heron. Ele é completamente desinteressante, e muita das vezes até esqueci de seu personagem, já que a construção de mundo na série traz uma leva de personagens secundários, desde deuses como Hermes, Ares e Apollo, a humanos como Alexia, que são bem mais críveis dentro dos parâmetros da animação. Sua jornada foge aos arquétipos que conhecemos por causa do mundo a sua volta, mas sua personalidade e ações dentro dela são completamente previsíveis e comuns.

Tive essa opinião em sua relação também por causa do antagonista secundário, Seraphim (Elias Touxefis). O personagem é claramente colocado na obra para servir como o oposto de Heron, o que ele viria a se tornar se sucumbisse a raiva e optasse por viver de vingança. A dualidade de ambos personagens é muito bela e composta eficientemente na série. Porém, o vilão termina por ter um arco de desenvolvimento melhor que o protagonista. Sua história, digna de um épico trágico, aliada com o desfecho perfeito para suas escolhas, combinam muito mais com o mundo em seu entorno, tornando ele o melhor personagem da obra.

Os desenhos dos personagens, especialmente para Heron, são figuras escultóricas e o tipo de corpo que seria representado em vasos ou mosaicos nas paredes. É um estilo que funciona para a série. A animação em geral é realmente impressionante. A série traz paisagens vastas e ocupadas à vida e faz coisas impressionantes quando se trata de luz. Certas cenas são banhadas em roxo, verde ou azul, e isso dá aos elementos sobrenaturais da série ainda mais personalidade. As sequências de ação são vigorosas e habilmente executadas, e todo o gore usado na série funciona a seu favor de criar algo impulsionado por fragmentos de horror. Entretanto, consigo ver a animação quebrando a experiência de muitas pessoas. Seu estilo um pouco travado, e o estranho contraste do background com os personagens pode não funcionar para alguns espectadores. A série também tem uma trilha sonora épica que realmente destaca a natureza grandiosa das batalhas. Há um uso impressionante de cantos corais e uma orquestra completa que são uma reminiscência desta época majestosa do passado. A trilha também sabe como elogiar os momentos mais silenciosos da série de uma forma que ainda cria um sentimento teatral em torno de tudo.

O Sangue de Zeus é uma belíssima obra tecnicamente, e que evoca uma temática interessante dentro de um universo muito adaptado. Poucas mudanças nos conceitos de personagens tão conhecidos, e o básico protagonista sendo guiado em um conto comum do gênero, não tiram a série dos clichês da mitologia grega, mas a construção de mundo e a história madura, aliada aos ótimos personagens secundários, principalmente Seraphim, trazem algo novo para o panteão de obras de mitos gregos. O Sangue de Zeus é uma série divertida e emocionante que te mantém fisgado em sua sólida primeira temporada de curta duração. 

O Sangue de Zeus – 1ª Temporada (Blood of Zeus, EUA, 27 de Outubro de 2020)
Direção: Shaunt Nigoghossian
Roteiro: Charley Parlapanides, Vlas Parlapanides
Elenco: Derek Phillips, Jessica Henwick, Jason O’Mara, Elias Touxefis, Claudia Christian, Chris Diamantopoulos, Matthew Mercer, Matt Lowe, Adetokumboh M’Cormack, Mamie Gummer, Adam Croasdell, Fred Tatasciore, Jennifer Hale, David Shaugnessy, Danny Jacobs, Melina Kanakaredes, Vanessa Marshall
Duração: 244 min. (08 episódios)

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