As três histórias deste compilado fazem parte da revista Pato Donald #35, publicada pela Editora Culturama, em fevereiro de 2022. Na revista, estão listadas duas histórias da Dinamarca e uma história da Itália, todas escritas e desenhadas por equipes diferentes. Boa leitura, e não deixem de comentar logo abaixo!
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O Relógio de Viagem no Tempo
Originalmente publicada em 2021, na Dinamarca, O Relógio de Viagem no Tempo explora um tema recorrente nas tramas de viagens temporais, falando dos perigos de voltar ao passado e encontrar dificuldades que piorem ainda mais a situação que inicialmente se queria resolver. Para mim, ficou bastante clara a influência que os roteiristas Arild Midthun, Knut Nærum e Tormod Løkling tiveram de O Prisioneiro de Azkaban aqui, mais especificamente a parte da trama do bruxo britânico com o vira-tempo. Nessa história da Disney, o Pato Donald se atrasa para o concerto com uma importante violinista chamada Linda Stela, que após a sua apresentação em Patópolis, deve doar dinheiro para a Orquestra Juvenil da cidade. A fim de evitar a ira de Margarida e ajudar os sobrinhos, que estão treinando com instrumentos velhos, Donald resolve pedir ao Professor Pardal uma invenção perigosa. Um relógio onde ele pode voltar no tempo. E é aí que muitos novos problemas começam a aparecer.
Em diversas histórias — esta, sendo uma delas — Donald se parece muito com o protagonista de Homem x Abelha: A Batalha. Alguém que em teoria quer paz e sossego, quer fazer a coisa certa, mas acaba atraindo para o seu caminho as coisas que lhe dão gatilho comportamental, ou seja, ações que podem virar uma bola de neve e piorar algo que já estava descontrolado. Gosto da forma como os autores pensaram o final dessa trama, mantendo pelo menos um ponto de humor ácido, que é ainda mais engraçado pensando no Donald, raivoso como é, tendo um gato apaixonado por ele.
O Relógio de Viagem no Tempo (Supernova / The Slow Camera) — Dinamarca, 9 de dezembro de 2021
Código da História: D 2021-057
Publicação original: Anders And & Co. 2021-49
Editora originai: Egmont Serieforlaget A/S
No Brasil: Pato Donald (Culturama) 35
Roteiro: Arild Midthun, Knut Nærum, Tormod Løkling
Arte: Arild Midthun
Capa original: Arild Midthun
12 páginas
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Leituras Dispendiosas
Essa história de Jacopo Cirillo levanta discussões sobre a questão do empréstimo de livros em bibliotecas e da carestia dos livros para venda nas bancas e nas livrarias. Há um pequeno flashback com os Escoteiros Mirins, ainda no início do enredo, mas fora isso, a trama mostra como Donald e a população de Patópolis lidam com um novo filantropo na cidade, o homem que supostamente está facilitando a leitura para todos. Ele reformou a biblioteca, que estava caindo aos pedaços, e não está cobrando para emprestar os livros, algo é ótimo para todo mundo — embora Donald, internamente, aponte que o tal empresário não está lucrando nada, o que é de fato bem estranho. Mas não demora muito para a armadilha ser revelada: em letras pequenas e regras absolutamente impossíveis, o grande “facilitador da leitura” está, na verdade, cobrando caro pelo atraso das obras. E tem um brutamontes trabalhando para ele, forçando os leitores a desembolsar mais do que podiam.
Eu, como leitor de livros e de quadrinhos desde a infância, sei a importância de ter uma biblioteca pública na cidade e fácil acesso a material de leitura. E, depois de adulto, percebi o quão caro é consumir esse tipo de cultura, justamente por conta do preço. Nos interessamos por inúmeros temas, personagens, títulos e editoras, mas não temos condições financeiras de adquirir todas as obras que temos vontade de ler ou colecionar. Penso que este é, na verdade, um dilema recorrente para os leitores: ter que escolher. O que acontece na presente história me trouxe essa discussão paralela. E ao final, as coisas permanecem as mesmas para a população, que recebe um novo financiador literário, mas este é o Tio Patinhas, que não esconde em nada as coisas que pretende cobrar. Pobres leitores de Patópolis!
Leituras Dispendiosas (Paperino e le letture costose) — Itália, 3 de fevereiro de 2016
Código da História: I TL 3141-5
Publicação original: Topolino (libretto) 3141
Editora originai: Mondadori, Disney Italia, Panini Comics
No Brasil: Pato Donald (Culturama) 35
Roteiro: Jacopo Cirillo
Arte: Ottavio Panaro
Capa original: Stefano Intini
24 páginas
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Enfermeira Linha-dura
Quem nunca fingiu estar doente para não ir a um determinado compromisso? O Donald, por exemplo, é um verdadeiro profissional nesse tipo de desculpa, tanto que quando ele usa essa carta mais uma vez na Margarida, nesta aventura, ela está completamente desconfiada e faz de tudo para tentar verificar se o cara realmente precisa de cuidados. O fato é que Enfermeira Linha-dura é uma história muito engraçada, especialmente pelo controlado e bem escrito nível de absurdo que a dupla Laura e Mark Shaw escreve, colocando o Donald nas mãos de duas enfermeiras que querem fazer de tudo para que ele fique bem. O problema é que certos tratamentos são amargos demais. Especialmente para quem não tem doença alguma.
Pela boa quantidade de páginas, os autores conseguiram desenvolver a trama em diversas camadas, algo que a torna cada vez melhor, porque são vários pontos cômicos a se observar. O leitor pode aproveitar a história através da linha narrativa dos vizinhos que se mudaram recentemente para a casa ao lado do Donald e vão sentir na pele o que é uma “vizinhança maluca“. Também é possível curtir o ponto de vista da Margarida e, logo depois, da enfermeira militar por ela contratada. E por fim, o próprio lado do Donald, que além de andar às voltas com uma doença falsa (e sofrendo bastante por isso, aliás), tem uma questão moral em andamento, ligada a um jogo que ele quer ir e uma ação de caridade que ele fez de tudo para não ir. É uma trama com consequências imediatas para uma mentira, uma daquelas que já trazem o resultado cármico a tiracolo. Um texto ao mesmo tempo divertido e reflexivo, especialmente para quem nunca quer se comprometer com nada.
Enfermeira Linha-dura (Pjækkesyg / Nursing Fever) — Dinamarca, abril de 2016
Código da História: D 2006-233
Publicação original: Jumbobog 334
Editora originai: Egmont Serieforlaget A/S
No Brasil: Pato Donald (Culturama) 35
Roteiro: Laura Shaw, Mark Shaw
Arte: Giorgio Cavazzano
Capa original: Marius Molaug, Massimo Fecchi
29 páginas