“What’s New Scooby Doo? We’re coming after you… You’re gonna solve that Mystery!
I see you scooby doo… The trail leads back to you… Whats new scooby doo!”Simple Plan O Que Há de Novo Scooby-Doo?
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O Que Há De Novo Scooby-Doo? é uma série atípica nos processos gradativos de transformações em que vinha o desenho desde a criação da série clássica até a última, O Pequeno Scooby-Doo. Seu surgimento foi muito mais influenciado pelos desdobramentos de diferentes contextos do mercado de desenhos animados com a virada milenar. Surgida entre o crescimento de diversos canais mais autorais – incluindo o Cartoon Network que que exibiu a série – e do home video, a série representa um período de ampla liberdade criativa, pois não existia mais a preocupação do perigo da censura que havia na TV aberta. Apesar da última série ter conseguido, dentro das limitações infantis, criar uma nova essência autêntica ao desenho, a quadrilogia de filmes conduzida por Jim Stenstrum (de Ilha dos Zumbis até Caçada Virtual) demonstraria que o público do desenho estava muito mais interessado na condução da fórmula para algo mais jovem-adulto, correspondendo à gradativa geracional cada vez mais exigente com a ludicidade.
Aproveitando esse indicativo de transformação de tom, os avanços tecnológicos e o surgimento de debates sociais, que chegaram como um adereço perfeito para potencializar estruturalmente o método de resolução de mistérios. Junte a uma noção de que a turminha do mistério S.A já estava consolidada pelo mundo com seus cinco membros principais, além de um conhecimento das ideias que deram e não deram certo antes ao longo dos anos, e pronto, O Que Há de Novo Scooby-Doo? tinha todas as ferramentas para ser a série mais completa do desenho, e realmente foi. Foi de um jeito que parecia ter nascido para tal contexto. Porque, de fato, a fórmula estabelecida em Cadê Você, no jogo imagético e sonoro objetivo poderia ser sustentada para sempre, caso encaixada devidamente num novo período. E é o que acontece aqui, existe a mesma preposição de uma jocosidade extremamente direta de ritmo, onde os elementos visuais e sonoros têm impacto imediato, e a dimensão de realismo é pautada no ceticismo ao sobrenatural, só que agora sob a óptica extremamente moderna, estética e narrativamente.
Aliás, pode-se dizer que até ultrapassa o moderno, abraçando quase um futurismo, se pensar que muitas das funcionalidades high tech dentro do universo só iriam ser correspondidas anos depois. Recursos tecnológicos que servem não só como ferramenta de resolução, como também de inserção de dúvida da linha tênue entre o real e o monstruoso. Há vários episódios em que monstros que não são mais pessoas fantasiadas, e sim grandes engenhocas robóticas que têm o controle humano por trás para fundamentar uma discussão entre as benesses e os malefícios da evolução digital. Há vários outros que nem são bandidos exatamente usando a tecnologia como facilitador de seus objetivos criminosos, mas apenas robôs que perdem o controle. Independentemente disso, ambos os casos fortificam a paranoia millenial de até onde a tecnologia pode chegar. Imagética mente, isso também é trabalhado nos monstros e cenários, que lidam muito bem entre a intersecção de figuras clássicas e as robotizadas, mesclando e brincando entre elas junto às possibilidades de um aspecto globalizado.
A turma viaja praticamente pelo mundo inteiro nessa série, e cada novo local inserido vai trabalhando uma ideia de internacionalização geral bem estimulante. Expandem-se as possibilidades gráficas do impacto do cenário, que além de interessante na composição visual, captura a criança como armadilhas pelo chamariz da curiosidade de exploração, o que é a cara também da turma de enxeridos. Corria até o risco de se tornar mais forçado esse acaso de que eles sempre caem onde o mistério está acontecendo, agora pelo mundo todo, então o roteiro dos episódios sempre busca valorizar essa noção de turismo nos espaços precisos, que aproveitam o tempo para desenvolver cada personagem em traços para além de sua personalidade. Não que haja grandes mudanças em cada um deles, mas existe um parâmetro de humanização para além dos arquétipos, e uma pequena modificação no direcionamento de alguns para os exercícios de dialética social de vez em quando propostos.
É tudo muito sutil, ou vai dizer que alguém percebeu quando criança que o Salsicha e o Scooby dessa versão nunca comeram carne? Sim, os maiores comilões da história do desenho tornaram-se vegetarianos sem nem você perceber. E isso é só um exemplo de vários elementos socialmente representativos, debatidos com enorme habilidade didática de um modo que os ensinamentos fossem passados quase inconscientemente. Quer ver outro exemplo? Daphne vira quase um símbolo girl power sem nada de radical em sua personalidade ser exatamente alterado, pelo contrário, é mais exaltado o quanto ela é o rosto bonito do grupo, o quanto é mimada e preocupada com moda, mas essas características quando se tornam fonte de uma personalidade forte, construída como forte, dão a ela um charme específico e a sensação de total autossuficiência diante do resto do grupo, o que é a base dos princípios feministas.
A personagem se torna ainda melhor do que quando era a líder (em Os Novos Mistérios de Scooby-Doo e Os 13 Fantasmas de Scooby-Doo), sem precisar se tornar uma, dando esse lado para o Fred, que assume esse manto com um equilíbrio funcional de ambos os arquétipos que já lhe foram dados: o “burro” e o resolvedor de problemas físicos. A Velma é a única que não muda tanto, porque seu direcionamento nerd faz parte muito organicamente da linguagem da série, fazendo-a parecer a mais confortável dentro dela. É por meio dela que a série passa todos os seus ensinamentos discursivos a respeito da dubiedade da evolução científica na globalização, uma escolha muitíssimo inteligente para a engrenagem temática funcionar com constância. Para essa regularidade não ser pedante ou repetitiva, entram também as interferências estruturais para cada novo mistério, que brincam com os conceitos icônicos da fórmula através de trocas simples de funções que rendem episódios espetaculares (o dos Vampiros da Transilvânia, o Palhaço do Golfe…).
Ou seja, é uma série muito segura, tanto que conseguiu sem muita pressão consolidar várias das ideias que as outras séries tinham tanta dificuldade em colocar de modo orgânico em suas propostas, como o fator de universo compartilhado sem abandonar o princípio episódico, algo fundamentado aqui por outra ideia que nunca deu tão certo: o crossover. Personagens são recorrentes, tanto de parentesco aos principais quanto aos amigos e inimigos apresentados em outros episódios, assim soa muito natural participações especiais de famosos. A mais significativa, sem dúvidas, é a da banda Simple Plan, que compôs a música de abertura – para mim tão icônica quanto a original – que representa muito todo esse aspecto internacional, jovial e milenar da série. E o mais importante, ainda é infantil, aliás, pela linguagem estar devidamente atualizada, essa infantilização no humor funciona em até mais níveis além do ingênuo – claro, não é tanto quanto O Pequeno Scooby-Doo –, sendo mais espertinho, só que sem precisar subestimar seu público.
Em três temporadas, O Que Há de Novo Scooby-Doo? não apresenta episódio sequer que não beire a excelência, por mais que a última temporada seja inferior – na bendita maldição das séries de Scooby de sempre terminar abaixo do que começou – ou menos constante que as anteriores, porque há uma parcela dos melhores episódios da série que estão nela: os dois últimos, do Coral e dos Ozomons, estão entre os melhores de todo o desenho. Além da segunda ser consideravelmente a melhor das três, mas é detalhe. Na configuração geral, é a série da cronologia que melhor aproveitou seu tempo e a época a que pertence, revitalizando uma franquia animada de um modo poucas vezes visto. Se Scooby-Doo já era o maior nome da Hanna-Barbera antes dele, é com ele que isso é confirmado, tornando-o influente e atemporal por um grande símbolo em ambos os séculos
O Que Há De Novo Scooby-Doo? (Whats New Scooby-Doo? | EUA, 2002-2006)
Showrunner: Sander Schwartz (Baseado na criação de Joe Ruby e Ken Speaks)
Principais Diretores: Chuck Sheetz, Scott Jeralds, Tim Maltby, Joe Sichta, Tom Mazzocco, Russell Calabrese, Swinton O. Scott
Principais Roteiristas: Ed Scharlach, James Krieg, George Doty, Jordana Arkin, Joseph Barbera, Chris Brown, Bill Canterbury, Nahnatchka Khan, Tom Sheppard
Elenco (Dublagem Original): Frank Welker, Mindy Cohn, Casey Kasem, Grey Griffin, Jeff Bennett, James Arnold Taylor, Dee Bradley Baker, Jennifer Hale
Elenco (Dublagem Brasileira): Orlando Drummond, Mário Monjardim, Peterson Adriano, Juraciara Diácovo, Nair Amorim, Clécio Souto, Carlos Seidl, Duda Espinoza, Manolo Rey, Marcelo Garcia (Estudo de Dublagem: Cinevidéo – RJ)
Duração: 3 temporadas – 42 episódios – 14 episódios por temporada – 22 minutos cada episódio