Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | O Que Aconteceria Se… Tony Stark Tivesse se Tornado o Doutor Destino?

Crítica | O Que Aconteceria Se… Tony Stark Tivesse se Tornado o Doutor Destino?

"Mamãe, eu sou um bom menino!"

por Luiz Santiago
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Lançada em dezembro de 2010, esta one-shot escrita por David Michelinie e Bob Layton tenta recriar um vilão icônico e desfazer um herói que se tornou um verdadeiro fenômeno da Marvel com o passar dos anos, tentativa que acabou descambando para o campo do moralismo exagerado e do bom-mocismo forçado; uma mistura que não tinha como gerar boa narrativa. Ambientada na Terra-11029, a história é mais uma das variações no Multiverso Marvel, integrando a consolidada série O Que Aconteceria Se…, criada pela editora em 1977, com uma história bem mediana pensando na possibilidade de o Homem-Aranha ter se juntado ao Quarteto Fantástico. Tendo décadas de publicações similares como espelho, os autores não possuem nem mesmo a desculpa de “falta de exemplos“, e convenhamos, este nem é o cenário mais difícil de se imaginar um mundo diferente, não é mesmo? A própria série já nos entregou situações bem mais interessantes e com uma realidade imensamente mais difícil de conceber.

São muitos os erros que a famosa dupla comete aqui, a começar pelo início conflituoso e sem nenhum sentido prático, colocando Tony Stark (o futuro Dr. Victor von Doom) e Victor von Doom (o futuro Tony Stark) como colegas de quarto na faculdade, quinze anos antes dos eventos principais. Eu até dei risada em alguns quadros, quando a construção autoritária do Doom original (jovem) é percebida pelo Stark original (também jovem), mas o riso ficou isolado e não encontrou sua finalização. A inimizade entre os protagonistas é modificada pela revelação de que Stark, além do herdeiro babaca que demonstrava ser, tinha uma mente brilhante e científica. Não é uma mudança de tom muito orgânica e com uma fluidez interessante, mas o leitor até gosta da passagem porque imagina que o texto finalmente irá amadurecer ao mostrar a grande mudança prometida pelo título. Mas a promessa deságua numa “troca de mente através de uma máquina” e tudo é tão mal escrito e tão mal cadenciado que só desperta no leitor o desejo de acabar a leitura quanto antes.

Pelo menos a arte de Graham Nolan com finalização de Mark Pennington cumpre a proposta da HQ com uma boa arte, e tem alguns momentos bem legais no embate entre os empresários-armadura, na reta final da história. Este é um outro bloco narrativo em que o leitor fica muito animado e chega a curtir diálogos isolados, mas em pouquíssimo tempo tem o infortúnio de ver o texto ganhar uma linha moral capenga e reafirmações de “homem do bem vs. homem do mal” que consegue facilmente pisotear as boas provocações da dupla e o que isso representava para cada um dos lados. Como estamos falando, nas entrelinhas, do Homem de Ferro e do Doutor Destino, é impossível não fazer as devidas comparações e esperar que algumas referências de atitudes ou personalidade deles apareçam, o que de fato acontece, com a breve piscadela para O Demônio na Garrafa (ótima história escrita por essa mesma dupla!) e o grande momento das armaduras no final. Esses bons espasmos narrativos só demonstram o quanto de potencial os autores tinham em mãos e resolveram tomar o caminho mais fácil e mais raso.

Acredito que a intenção dos roteiristas era criar uma história leve, uma vez que existe grande peso conceitual na troca de corpo/mente/personalidade e todo um discurso empresarial e político que, talvez por orientação da editora Rachel Pinnelas, não deveria ganhar muito espaço na trama. Uma pena, porque a corrupção da corporação administrada por Stark (Doom) e o rumo infame de vida que ele tomou poderiam ser uma boa porta de entrada para um texto mais denso, falando da relação com Doom (Stark) e as consequências que acabariam indo para a porradaria, como esperado. Esse não é problema, pois a ação é o cerne de aventuras de super-heróis e vilões, ainda mais com esses dois em cena. Mas a coisa se torna um problema quando o texto é superficial e não se esforça para fazer algo além de vender bom-mocismo para crianças e forçar uma “luta pela justiça e pelo heroísmo” do modo mais bobo que se possa conceber. Uma boa ideia estragada pela síndrome de heroísmo-de-bondade-total.

O Que Aconteceria Se… Tony Stark Tivesse se Tornado o Doutor Destino? (What If Tony Stark Had Become Doctor Doom?) — EUA, dezembro de 2010 (com capa de fevereiro de 2011)
No Brasil:
Homem de Ferro 2ª Série – #3 (Panini, maio de 2019 )
Roteiro: David Michelinie, Bob Layton
Arte: Graham Nolan
Arte-final: Mark Pennington
Cores: Sotocolor
Letras: Dave Sharpe
Capa: Bob Layton
Editoria: Rachel Pinnelas
Tradução: Rodrigo Barros
24 páginas

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