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Crítica | O Que Aconteceria Se… O Pato Donald se Tornasse o Wolverine?

Aconteceria o de sempre...

por Luiz Santiago
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É impressionante que muitos projetos pareçam extremamente promissores na teoria, trazendo um time competente em sua concepção e bons personagens para explorar… mas acabem morrendo na praia por ignorarem o potencial do material, como acontece neste O Que Aconteceria Se… O Pato Donald se Tornasse o Wolverine?. Primeiro quadrinho de um projeto da Disney com a Marvel em 2024, trazendo um time italiano para publicação nos Estados Unidos, este volume tinha tudo para ser uma aventura engraçada e bem diferentona, ao aproximar a personalidade comicamente irascível do Pato Donald com a postura “fuck off” do Wolverine. Na teoria, uma junção atraente e imbatível. Na prática, um combo de decepções diante da maneira boba como o roteirista trabalhou toda essa proposta.

O roteiro é de Luca Barbieri e exibe a realidade de um Wolverine isolado, mesmo diante de uma cidade assolada pelo crime — o típico momento do herói que não quer se envolver, por algum tipo de trauma. O vilão desta realidade é o Bafo-Caveira e, desde o início, sua ameaça me pareceu diminuta e insossa. Temos a impressão de não haver grandes repercussões dessa dominação criminosa em toda Patópolis, algo que nem na arte de Giada Perissinotto (esteticamente incrível, por sinal) logra contornar. Essas duas percepções deixam o leitor menos animado para o restante da história, o que é um problema, já que isso se percebe ali pela terceira página da revista. Com um Donald-Carcaju dormindo na rede, fazendo manha, e uma Patópolis dilapidada por um bandido-mor que não oferece uma ameaça verdadeiramente preocupante, sobra pouca coisa de conflito para o público, e a história perde impacto ainda em seus primeiros suspiros.

Aqui, nosso herói de destaque é tratado com embromação e pitadas de irritabilidade, uma mistura que o torna chato. O roteirista parece não ter compreendido que o Wolverine isolado e recusando-se a entrar num conflito que a todos afeta é algo que um filme de 100 minutos ou mais tem tempo suficiente para trabalhar. Já num quadrinho de 24 páginas, essa construção fica bem mais difícil, especialmente quando o texto insiste em manter esse herói na rede e fazendo doce para não se levantar, mesmo depois da visita do colega Mickey-Arqueiro e de algumas chantagens da Vovó Donalda. Confesso que essa escolha me enervou, pois levou a história para um caminho nada interessante de se acompanhar. Aqui e ali surgem coisas legais como a brincadeira com Arma X, a revelação do Pateta-Hulk cinza, o breve momento de Pluto-Colossus e o cameo dos X-Ducks, mas não encontrando um bom solo narrativo para impactar, não passam citações engraçadinhas.

Considerando o potencial dos dois personagens em cena, é triste perceber o quanto foi deixado de lado e o caminho dramático tomado pelo autor. Da apresentação dos personagens centrais à resolução do grande conflito (tão fraquinho que não faz jus a uma revista especial como esta), o leitor espera a história decolar, entregar uma situação que honrasse a representação do Donald como Wolverine, mas não é isso que acontece. Um cruzamento de Universos perdido para a superficialidade e para as bobagens de um argumento que não se dá conta das criações que tinha para explorar. Diria que Giada Perissinotto se sai muito melhor no projeto, embora sua arte esteja limitada a espaços fechados e ausência de quadros marcantes de movimento, fugas ou batalhas, justamente porque o roteiro joga com o mínimo possível nessa seara. Queria ter gostado mais, porém, do jeito como foi concebido, esse What If…? só me fez torcer o nariz e balançar a cabeça negativamente ao longo da leitura. Já foi anunciada uma nova revista na série, trazendo o Donald como Thor. Podemos começar as orações?

O Que Aconteceria Se… O Pato Donald se Tornasse o Wolverine? (What If…? Donald Duck Became Wolverine) — EUA, 31 de julho de 2024
Roteiro: Luca Barbieri
Arte: Giada Perissinotto
Cores: Lucio Ruvidotti (Edizioni Bd)
Letras: Laura Tartaglia (Edizioni Bd)
Capa: Giada Perissinotto, Lucio Ruvidotti
Capas variantes: Peach Momoko, Phil Noto, Ron Lim, Israel Silva, Skottie Young
Editoria: Mark Paniccia
Editora original: Marvel Comics
30 páginas

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