A ideia por trás de O Que Aconteceria Se… O Pato Donald se Tornasse o Thor? é, o mínimo, hilária e instigante. Reimaginar a clássica origem do Deus do Trovão encarnado no destrambelhado Pato Donald é uma proposta que, assim como o primeiro volume dessa série de quadrinhos com personagens da Marvel vividos por personagens da Disney (estou falando de Pato Donald como Wolverine), tinha tudo para ser muito divertida. Entretanto, apesar do potencial cômico e narrativo da proposta, a execução das duas edições ficou muito aquém do esperado, ambas insistindo em piadas de efeito quase nulo, desenvolvimento apressado e conceitos totalmente superficiais. Pior ainda: houve uma queda de qualidade entre a edição do Wolverine e esta do Donald Thor, o que definitivamente não é um bom sinal.
A trama, aqui, nos transporta para uma expedição arqueológica na Noruega, onde Donald, Huguinho, Zezinho e Luisinho encontram os Patos de Pedra, seres vindos de Saturno. Enquanto foge de seu primeiro encontro com os visitantes, Donald encontra uma bengala numa caverna, que, claro, revela-se como o disfarce do lendário Mjölnir. A partir daí, ele assume o poder de Thor e parte para uma luta insossa contra os vilões, não tendo sequer bons momentos de trapalhadas durante a batalha ou frases típicas do pato, como era de se esperar. Embora o enredo siga um ritmo inicial mais interessante (sem dezenas de personagens aleatórios e narrativa oculta que o leitor tinha que adivinhar), falta qualidade na construção dos personagens e nos momentos cruciais da história, especialmente na transformação de Donald em Thor, que é tratada de maneira excessivamente rasa e não tem nenhum quadro que seja marcante.
A arte de Giada Perissinotto é de um seu estilo leve e acessível, com traços redondinhos e bem finalizados que até combinam com o tom descontraído da história. Mas faltam detalhes visuais, tanto nos cenários quanto nas expressões dos personagens, de modo que ficamos afastados da trama tanto pelo texto ruim, quanto pela arte que, apesar dos bons desenhos, é enxuta demais. A grandiosidade associada ao universo de Thor, com seus céus tempestuosos e paisagens épicas, acaba diluída em um visual simples que, embora funcional, não consegue elevar a narrativa. Sem contar que as cores pálidas de Lucio Ruvidotti também não ajudam muito. Em termos de narrativa, se pegarmos os principais momentos da estreia de Thor na Marvel, em Journey into Mystery #83, veremos que os artistas buscaram uma conexão nostálgica, mas se esqueceram de fazer algo que justificasse, com mais conteúdo, bons diálogos e bom desenvolvimento, uma edição típica do selo O Que Aconteceria Se….
Em sua segunda tentativa de criar uma aproximação engraçada e inesperada com personagens icônicos da Disney, a Marvel desperdiça a oportunidade e nivela todo o projeto por baixo. A edição tinha todos os elementos para ser, no mínimo, agradável de ler, mas acaba tropeçando em sua irritante simplicidade, algo que as pequenas ilhas de charme e humor, no decorrer das páginas, não conseguem compensar. A falta de ambição no roteiro e de riqueza na arte deixam o segundo rastro de decepção, e já se prepara para pedir música no Fantástico, se seguir esses mesmos passos cambaleantes na edição da Minnie como Capitã Marvel, que vem a seguir. Tem projetos que parecem já nascer amaldiçoados. Alguns, em pouco tempo, conseguem quebrar a maldição e entregar algo bom. Mas acompanhar isso de perto e não ter perspectivas de melhora é, em uma palavra, amedrontador.
O Que Aconteceria Se… O Pato Donald se Tornasse o Thor? (What If…? Donald Duck Became Thor) — EUA, 4 de setembro de 2024
Código da História: M WIF2 1
Roteiro: Riccardo Secchi, Steve Behling
Arte: Giada Perissinotto
Cores: Lucio Ruvidotti (Edizioni Bd)
Letras: Laura Tartaglia (Edizioni Bd)
Capa: Lorenzo Pastrovicchio, Lucio Ruvidotti
Capas variantes: Peach Momoko, Phil Noto, Walter Simonson, Laura Martin
Editoria: Mark Paniccia
Editora original: Marvel Comics
30 páginas