Escrita por Peter Gillis, O Que Aconteceria Se… O Dr. Estranho Fosse Discípulo de Dormammu? é uma história de obrigatória jornada para um personagem de difícil temperamento, como é o Doutor Estranho. No Universo regular da Marvel (Terra-616), Stephen Strange também passou pelo mesmo processo de mudanças. Orgulho, resistência e impaciência marcaram todo o seu primeiro contato com o mundo da magia, mas eventualmente ele foi quebrado, remodelado e, mesmo permanecendo um indivíduo de comportamento não necessariamente adorável, encaminhou-se para o “lado do bem“. Na presente trama ambientada na Terra-791218, porém, a coisa se deu de forma diferente.
O que chama a nossa atenção na jornada de aprendizado de Strange aqui é o tipo de relação que ele tem inicialmente com o Ancião, depois com Dormammu e Umar e finalmente consigo mesmo. O enredo foca nos desejos pessoais de poder e fama do futuro grande mago e na ânsia de Dormammu para conseguir um discípulo determinado e impiedoso a fim de colocar em prática os seus mandamentos. Nesse aspecto, toda a edição segue uma linha narrativa bastante fácil, já que as questões estão ancoradas na luta entre o bem e o mal, representada por magos dos dois lados da moeda. O que não fica muito claro e não parece funcionar muito bem é o miolo da história, especialmente quando falamos da movimentação das “figuras do bem” que se encontram, pretendem fazer algo, invocar algo, mas nada conseguem.
O termo mais propício para aplicar ao andamento dessa história é “desesperado e jogado“, pois é justamente entre o primeiro sentimento e o segundo jeito de fazer as coisas que Peter Gillis encaminha o seu texto. Embora as duas extremidades da trama consigam formar algo coeso, coisas como o encontro entre os magos, todo o confuso dilema em torno do Olho de Agamotto, o subterfúgio para prender a atenção de Strange e “forçá-lo” a um novo encontro com Eternidade e a escolha final dele pelo lado do bem, meio sem quê nem por quê, me pareceu algo bobo, possivelmente vindo da falta de coragem de deixar o super mago nas mãos do lado sombrio da magia. E tudo bem, ele até poderia mudar de orientação no final, mas que pelo menos houvesse um motivo bem desenvolvido para essa revelação e escolha tão importante, algo que não acontece na revista.
Ao menos a arte de Tom Sutton (finalizada por Bruce Patterson e colorida por Glynis Wein) não nos decepciona em nenhum momento. Desde a primeira página nos impressionamos com a disposição dos personagens e pela maneira como imageticamente o artista vai conseguindo transmitir os elementos desse mundo de magia, com destaque, claro, para os momentos em que Eternidade aparece ou para os momentos de execução de magia, viagens astrais, projeções e coisas do tipo. Ao fim, o Doutor Estranho renasce, depois conseguir “enxergar os mistérios” que antes não via. É uma mudança de pensamento que tem um princípio lógico, considerando os poderes e as entidades envolvidas na transformação, mas fica difícil engolir de verdade essa mudança de última hora. A resposta à pergunta-título, aqui, é a mais chatinha possível: o que aconteceria é que o Dr. Estranho começaria do lado do mal e terminaria do lado do bem, nada mais além disso. Bem meh, não?
What If? Vol.1 #18: What If Dr. Strange Had Been a Disciple of Dormammu? (EUA, dezembro de 1979)
No Brasil: Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel – Clássicos n°37 (Salvat, 2018)
Roteiro: Peter Gillis
Arte: Tom Sutton
Arte-final: Bruce Patterson
Cores: Glynis Wein
Letras: Tom Orzechowski
Capa: Tom Sutton, Irv Watanabe
Editoria: Mark Gruenwald
30 páginas