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Crítica | O Que Aconteceria Se… Minnie se Tornasse a Capitã Marvel?

Subtração de essência.

por Luiz Santiago
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Depois de uma estreia medíocre e duas edições ruins, a série Marvel & Disney: O Que Aconteceria Se…? já pode se declarar vítima de uma grande maldição e pedir música onde quer que for. Tudo o que eu tinha para dizer em termos de desperdício de oportunidade já foi dito nas críticas de Donald-Wolverine e Donald-Thor. Essas duas obras, cada qual à sua maneira, revelaram não apenas a falta de ousadia narrativa, mas também um tratamento genérico e, até certo ponto, indiferente ao potencial de combinações criativas entre esses universos. Aqui, infelizmente, nada mudou. É verdade que a apresentação de Minnie e da Capitã Marvel está, até certo ponto, interessante, mas isso de nada adianta se Steve Behling e Luca Barbieri não conseguem compor um texto que utilize a dualidade dessa apresentação. Afinal, a vida jornalística da ratinha e sua contraparte heroica são elementos ricos em possibilidades que poderiam ser explorados de maneira verdadeiramente criativa.

O grande motivo desse fracasso reside na horrenda premissa de “transformação via desmaio”. Essa escolha narrativa, que carrega consigo um clichê ultrapassado, até poderia funcionar se, logo na primeira oportunidade, o roteiro desmistificasse a situação e fizesse com que Minnie entendesse que era a heroína salvando a cidade. Isso permitiria uma abordagem mais madura, colocando-a em conflito com as responsabilidades e as consequências de seu duplo papel. No entanto, a trama insiste em arrastar-se por uma construção insossa, repetindo mecanicamente a sequência de desmaios, combates e retornos atônitos da protagonista. Enquanto isso, a carreira de jornalista em treinamento de Minnie, no jornal do Tio Patinhas, é relegada a um acessório narrativo mal trabalhado, com situações que poderíamos descrever como possivelmente bacanas, mas que sequer alcançam o charme ou inventividade que pressupõem.

Há aqui um desperdício de premissa, no quesito de explorar as contradições internas de Minnie. Como seria a convivência entre o brilho heroico da Capitã Marvel e a humildade de uma estagiária de jornalismo tentando se provar? Como a personagem, tão tradicionalmente associada ao apoio do Mickey, poderia se ver como a figura central de sua própria narrativa? Essas perguntas, que poderiam trazer uma riqueza inesperada ao texto (ou mesmo o humor, à la Homem-Aranha, que precisa tirar fotos de si mesmo), são ignoradas em favor de um ciclo interminável de soluções fáceis e diálogos para lá de rasos.

Não há, na verdade, praticamente mais nada além dessa situação geral no núcleo narrativo da aventura. É um vai-e-volta insatisfatório de lutas (que, pela arte de Giada Perissinotto, possuem sua graça, admito) e uma situação geral com Tio Patinhas e a tal reportagem que nunca se realiza que traz imensa frustração para o leitor. Essa frustração, no entanto, não é uma surpresa. A série tem se especializado em promessas não cumpridas, em ideias mal desenvolvidas que parecem existir apenas para preencher espaços entre as páginas, sem se preocupar em construir uma algo com um tantinho a mais de substância e coerência.

Fica a sensação de que a série desperdiça não apenas o potencial de seus personagens, mas também a paciência do público. Uma combinação tão promissora como a de Marvel e Disney merecia um tratamento à altura, com roteiros capazes de enxergar além do óbvio e de ousar em suas escolhas criativas. Infelizmente, até agora, o que temos é apenas um lembrete constante de que boas ideias não bastam; é preciso também saber como executá-las. Talvez, um dia, Minnie acorde de seu desmaio metafórico, mas, por enquanto, a série continua presa em seu próprio ciclo de inconsciência narrativa.

O Que Aconteceria Se… Minnie se Tornasse a Capitã Marvel? (Marvel & Disney: What if…? Minnie Became Captain Marvel / The Awesome Origin of Minnie Captain Marvel!) — EUA, 20 de novembro de 2024
Código da História:
M WIF3 1
Roteiro: Steve Behling, Luca Barbieri
Arte: Giada Perissinotto
Cores: Lucio Ruvidotti (Edizioni Bd)
Letras: Laura Tartaglia (Edizioni Bd)
Capa: Giada Perissinotto, Lucio Ruvidotti
Capas variantes: Elena Casagrande, Espen Grundetjern, Peach Momoko, Phil Noto, Skottie Young
Editoria: Mark Paniccia
Editora original: Marvel Comics
32 páginas

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