O Que Aconteceria Se… Mickey & Amigos se Tornassem o Quarteto Fantástico? é um novo teste de paciência para o leitor: uma nova situação de lamento envolvendo personagens da Disney vestindo mantos de personagens da Marvel. A HQ traz uma experiência parcialmente divertida, mas que não se constrói bem. Escrita por Steve Behling e Riccardo Secchi, com arte de Lorenzo Pastrovicchio, o quadrinho faz uma homenagem ao legado do Quarteto Fantástico, um dos maiores marcos da Marvel, mas, ao mesmo tempo, se perde em soluções simples e escolhas questionáveis na representação desses personagens. A premissa, que parte de uma brincadeira sobre o que aconteceria se Mickey, Minnie, Pateta e Donald ganhassem os poderes do Quarteto, tem potencial (como sempre), mas a execução não consegue acompanhar a ideia.
A arte de Pastrovicchio é, de longe, o maior ponto positivo do quadrinho. O artista aproveita bem a oportunidade de trabalhar esses personagens como super-heróis, criando cenários ricos e detalhados que trazem uma nova dinâmica ao universo de Patópolis. O tratamento dado aos personagens é excelente, conferindo uma harmonia visual que melhora muito a leitura. Seus traços, aqui, são mais suaves e equilibrados, proporcionando uma visão mais coesa e relativamente mais fofa (ou poderia dizer… infantil?) dos personagens, no sentido mais positivo dessa afirmação. Nesse aspecto, sua arte é mais interessante do que o trabalho anterior na série, que fez com o Donald-Thor.
No entanto, a história em si não consegue manter o ritmo e a energia que se espera de uma narrativa com a Primeira Família. A ideia inicial, sugerindo que o Quarteto Fantástico seria uma série de TV em Patópolis, é muito bacana, mas o desenvolvimento a partir daí é bem fraco. Quando os poderes dos personagens são explicados, o roteiro cai num excesso de diálogos expositivos que tornam a trama cansativa e pouco envolvente. O momento da origem dos poderes do grupo, ligado a um erro do Professor Pardal, poderia ser uma grande oportunidade para uma reviravolta interessante, mas acaba se mostrando um dos pontos mais fracos da trama, carente de emoção ou boas surpresas.
A luta contra o vilão da vez, Pete Toupeira, é outro ponto falho. A maneira como os heróis lidam com o antagonista (uma versão do Bafo) e resolvem o conflito, termina sendo forçada e pouco criativa, com uma solução simplista que, em tudo, decepciona. O confronto no subterrâneo é apressado e tem uma quantidade pequena de tensão, tornando a vitória sem brilho. Outro problema está no tratamento dado à Minnie, que assume o papel de Mulher Invisível. Embora a premissa do quadrinho remeta a uma versão mais leve e descontraída dos super-heróis, a maneira como a personagem é retratada encarna uma visão sessentista (ou seja, ultrapassada) de gênero. A ratinha é praticamente ignorada, sendo colocada no time apenas como uma figuração, sem ações significativas ou um papel mais ativo na narrativa.
Em última análise, esta é uma homenagem ao Quarteto Fantástico que vem com uma grande decepção a tiracolo. Enquanto a arte de Pastrovicchio se destaca, a história é arrastada, com diálogos bobos e um desenvolvimento sem brilho. O tratamento de Minnie e a resolução do conflito final são os maiores pontos negativos, que deixam a impressão de que essa história poderia ter sido muito mais do que uma simples reinterpretação leve e descompromissada. A promessa de um time Disney-Marvel acaba se dissipando em escolhas menores, tornando a leitura mais frustrante do que empolgante. E o que é pior: não se trata de um problema isolado desta edição. Esta é praticamente a tônica real de toda a minissérie.
Marvel & Disney: What If…? Mickey & Friends Became the Fantastic Four (EUA, 8 de janeiro de 2025)
Código da história: MC WIF4 1-11
Roteiro: Steve Behling, Riccardo Secchi
Arte: Lorenzo Pastrovicchio
Cores: Lucio Ruvidotti
Letras: Laura Tartaglia
Capa: Lorenzo Pastrovicchio, Lucio Ruvidotti
Editoria: Mark Paniccia
32 páginas